Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Jornalistas denunciam violência contra a categoria

Quarenta e nove jornalistas foram agredidos durante as manifestações ocorridas no Rio, entre os meses de junho e outubro deste ano. Na maioria dos casos, cerca de 80% dos registros e relatos, a violência foi praticada por policiais. Os dados fazem parte do relatório “Cultura, liberdade de imprensa e violência contra profissionais de mídia”, elaborado pelo Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio, e apresentado na manhã de terça-feira [26/11], em audiência pública na Câmara de Vereadores. O material será encaminhado ao Ministério Público.

O relatório, feito a partir de dados coletados pelo próprio sindicato, mostra que dos 49 jornalistas agredidos, 25 relataram ter sofrido hostilidades por parte de manifestantes. O caso mais grave foi o de uma repórter da Rede Record, que teve a escápula deslocada por um soco nas costas durante uma manifestação contra o Leilão de Libra, em 21 de outubro.

A quantidade de profissionais agredidos por policiais militares, porém, foi bem maior: 30. Na lista há fotógrafos que foram agredidos mais de uma vez. Também há casos, como o da equipe da Globonews, que foi expulsa da Câmara Municipal do Rio, no dia da instalação da CPI dos ônibus, por servidores do estado. “Esse número é subestimado. A falta de registro de ocorrências em delegacias e órgãos competentes dificulta a análise mais precisa dos casos”, disse a presidente do sindicato, Paula Máiran.

“PM corta na própria pele se for preciso”

Na Câmara, a discussão trouxe à tona casos de excessos praticados por policiais militares nos protestos e ressaltou a importância do papel da imprensa na democracia. Num relato breve e impressionante, o fotógrafo Edson Taciano, da FuturaPress, contou que foi ferido por bombas de efeito moral lançada propositadamente por policiais do Batalhão de Choque em cima dele e de outros dois colegas, também fotógrafos, na Cinelândia: “Eu estava perto de um carro do Batalhão de Choque e fui avisado pelos policiais que deveria me afastar. Na mesma hora me afastei, mas mesmo assim fomos atingidos por balas de borracha e bombas de efeito moral sem qualquer motivo. Não havia manifestantes por perto. Fui atingido no abdômen e um colega meu, por estilhaços nas costas. Ao reclamar, o PM disse que eu deveria procurar o 13º BPM (Praça Tiradentes)”, contou Edson.

O relações-públicas da Polícia Militar, o tenente-coronel Cláudio Costa, admitiu que ocorreram agressões de policiais, mas destacou que não foram de forma deliberada: “Em momento algum a polícia quis agredir gratuitamente o profissional de imprensa, mas nós vimos isso em relação aos manifestantes. Acho que a imprensa tem que ser livre, isso é importante para a democracia. Todas as questões envolvendo arbitrariedades e excessos da PM serão apurados pela corporação, como a Ouvidoria e o Ministério Público. No ano passado excluímos 317 policiais militares, não é um número que nós nos orgulhamos, mas isso mostra que a PM corta na própria pele se for preciso”, disse Cláudio, ressaltando que 55 policiais ficaram feridos nas manifestações.

Brasil é quarto país mais inseguro no mundo

As informações foram contestadas por profissionais que estiveram no plenário da Câmara. Alberto Jacob Filho, da Associação dos repórteres fotográficos e cinematrográficos do Rio de Janeiro, se disse “estarrecido” com a declarações: “Fiquei estarrecido com as declarações do relações públicas da PM. Como se as agressões fossem cometidas no meio de um tumulto, por acaso. Os profissionais da imprensa são completamente identificados. Não justifica essa truculência. A gente não quer uma nova legislação, ela já protege o jornalista. O Estado é que precisa assumir a responsabilidade de proteger o jornalista ao invés de espancá-lo.”

Durante a audiência, o deputado estadual Robson Leite (PT) disse que trabalha na tramitação de um projeto que atribui à Polícia Federal a resolução de crimes contra jornalistas no Brasil. Essa também seria uma forma de tirar o poder da Polícia Militar nesses casos, já que ela é apontada como um dos principais obstáculos ao trabalho jornalístico. A violência contra jornalistas também foi lembrada por Gustavo Barreto, do Centro de Informação das Nações Unidas no Brasil.

“O Brasil ocupa a quarta posição entre os países mais inseguros para jornalistas do mundo, ficando atrás da Somália, Síria e Paquistão. É um dado grave”, diz ele, ressaltando que não existe um ranking universal, mas um levantamento feito a partir de dados de associações e ONGs.

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Fernanda Pontes, do Globo