Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

2013 foi o ano mais violento para os jornalistas desde 2007

O primeiro ano do governo de Enrique Peña Nieto, que assumiu o cargo em dezembro de 2012, é também o mais violento para a imprensa em sete anos. Os dados que da organização Artigo 19, que defende os direitos dos profissionais dos meios, são os piores desde 2007, quando o então presidente Felipe Calderón, iniciou sua cruzada contra o narcotráfico. Quase todos os dias, a cada 26,5 horas exatamente, um jornalista é agredido no México. Durante 2013, a organização Artigo 19, registrou 330 agressões contra repórteres, trabalhadores da imprensa e instalações de meios de comunicação no país. As estatísticas revelam também que em 59,3% dos casos, o responsável pela ação violenta foi um servidor público. Apesar do acréscimo dos ataques, no ano passado morreram cinco jornalistas, dois a menos que os sete de 2012.

Segundo o relatório “Discordar em Silêncio: violência contra a imprensa e criminalização do protesto, México 2013”, em relação a 2012 as agressões aumentaram 59%, com 123 casos mais. Percentualmente, a cada 100 ataques, 85 são contra um repórter ou jornalista audiovisual; dez contra diretores; e os outros cinco contra colunistas, outros empregados de meios de comunicação e chargistas. Os atentados contra pessoas representaram 90% do total, e os 10% restantes foram ataques às instalações.

O relatório diz que em 274 (dos 330) casos foi possível identificar o agressor. Em 146 deles, o agressor foi um servidor público; em 49 uma organização social; em 39 o crime organizado; 30 um particular, e em dez, um partido político. Em outras palavras: seis em cada dez jornalistas agredidos foram atingidos por um servidor público.

Mesmo assim, em três dos quatro casos de jornalistas assassinados em 2013 se identificou o crime organizado como principal responsável. O outro caso nunca foi esclarecido.

50 jornalistas assassinados desde 2007

Enquanto o problema está centrado em entidades já identificadas do país – Veracruz, Chihuahua, Coahuila e Tamaulipas – , a Artigo 19 assinala que as agressões documentadas permitem observar um “padrão de disseminação da violência para outros estados. As agressões à imprensa aumentaram na Cidade do México, Oaxaca, Michoaca?n, Guerrero, Tlaxcala, Baja California e Zacatecas”.

Merecem uma menção a parte Veracruz e a Cidade do México, destaca o relatório apresentado nesta terça-feira. Em Veracruz, dez jornalistas foram assassinados desde janeiro de 2011. O último caso, que o relatório não apresenta por já ser um caso de 2014, é o do repórter Gregorio Jiménez, sequestrado e assassinado na primeira quinzena do mês de fevereiro. Ao mesmo tempo, as agressões contra profissionais da imprensa cresceram dramaticamente, passando de três em 2012 para 14 em 2013. Por sua vez, na Cidade do México aumentaram os ataques e detenções contra jornalistas que cobriam protestos nas ruas. Em 2013 foram documentados um total de 34 agressões contra jornalistas na capital do país, o maior número desde 2007. Tal foi o caso da marcha do dia 2 de outubro passado, que comemora a matança de Tlatelolco em 1968.

No trabalho exposto pela organização Artigo 19 foi concluído que em nenhum dos casos documentados os profissionais puderam retomar 100% de suas atividades jornalísticas. “O medo de sofrer novas agressões sem proteção do Estado os levou a modificar sua atividade profissional. Em alguns casos, deixaram de cobrir acontecimentos policiais, se autocensuraram ou diretamente fecharam os veículos”.

Isso foi o que aconteceu com o portal Ojinaga Noticias depois do assassinato de Jaime Gonza?lez, seu diretor, no dia 3 de março de 2013, morto com 18 disparos. “Tomei a decisão de fechar o portal”, disse o editor do site, “tinha muito medo das consequências que poderiam ter contra a minha pessoa. Meu nome não é conhecido. Eliminei todas as publicações do Facebook que me vinculavam”, diz o relatório. No caso do El Pin?ero de la Cuenca, que tem sede em Loma Bonita, Oaxaca, região partilhada com Veracruz, optaram pela autocensura. Roberto Herna?ndez, diretor do jornal, preferiu deixar de publicar informação sobre o governador veracruzano Javier Duarte depois de uma série de agressões e ameaças contra os sócios do jornal. “Fomos sentenciados. Não podíamos entrar e vender o jornal. Encontramos a maneira de voltar quando deixamos de falar sobre o governador”, afirma Herna?ndez em uma entrevista publicada no documento. Junto com o recente caso de Gregorio Jiménez, o assassinato de Regina Martínez, em abril de 2012, continua muito presente na memória coletiva do meio jornalístico. A correspondente do semanário Proceso apareceu no banheiro da sua casa estrangulada.

A publicação do relatório foi precedida pela denúncia da organização, nesta segunda-feira, a respeito da invasão à casa do diretor da Artigo 19 para o México e América Central, Darío Ramírez. A promotoria pesquisa se a invasão, em que foram levados documentos de trabalho, computadores e objetos de valor, está relacionada ao trabalho na ONG.

No México, desde 2007 foram assassinados 50 jornalistas. Em 29 casos o autor do crime não foi identificado, em 20 se tratou do crime organizado e, em apenas um homicídio foi atribuído a um servidor público.

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Paula Chouza, do El País