Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

‘Quero revogar as certezas sobre a violência no Brasil’

Acostumado a cobrir situações de conflito armado fora do país, o fotojornalista André Liohn, 40 anos, natural de Botucatu (SP), esteve presente nos eventos que deram início à primavera árabe e cobriu casos sobre refugiados na Somália, entre outros momentos de violência e conflito pelo mundo. Suas fotos já lhe renderam um premio Robert Capa Gold Medal Award da Overseas Press Club, além de um World Press Photo. Agora retornou ao Brasil com um novo projeto intitulado “Revogo”, apresentando seu ponto de vista sobre a violência que acontece no país.

“O que chamo de violência, não é só a violência física, do crime propriamente dito. Estou explorando dentro da nossa cultura o que chamo de cultura da violência”, conta o fotógrafo. O título do projeto busca revogar o conceito de violência apenas na forma física e levá-lo a um nível mais ideológico. “Quando o trabalho estiver pronto, eu quero que ele revogue as certezas que nós temos sobre o que é violência no Brasil.” É uma busca por identificação dos focos onde cada pessoa agiu de forma violenta ou não violenta.

André aponta que esta cultura tem sido patrocinada por nossa sociedade atualmente, e o seu objetivo com este trabalho é justamente desconstruir esta ideia.

Neste trabalho, as imagens representam assuntos como a sexualidade, situações envolvendo gênero, cor, classe social etc. Em uma das cenas registradas, há a presença da sensualidade como devassidão e André apresenta alguns questionamentos quanto ao momento em que esta mentalidade passou a agir na sociedade. “Como o mercado entendeu que o homem brasileiro quer realmente uma devassa?”, completando com a pergunta: em que momento devassidão se transformou num atributo da mulher brasileira? Todas as imagens convidam para uma reflexão de práticas sociais que se tornaram violentas ao longo do tempo.

Vivências pessoais

Ainda que em algumas imagens existam a presença de sangue e morte, a violência é representada em “Revogo”. Segundo o Mapa da Violência divulgado pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, as mortes violentas são recorde, ocupando o sétimo lugar no total de óbitos. Ainda neste estudo, os que mais morrem são jovens e negros. O trabalho do fotojornalista pretende fomentar a análise desse fenômeno social.

Violência urbana também é um dos temas discutidos por André, como no caso do crescimento desordenado da cidade. Além de prostituição, a condição social e as mazelas que muitos grupos vivem à margem da sociedade são o fio condutor do projeto.

Este, mais do que muitos outros, é um trabalho que reflete questões pessoais de André Liohn devido à sua infância complicada, seu envolvimento com as drogas e as dificuldades financeiras. Segundo Liohn, essas vivências pessoais influenciaram sua visão a partir do que ele próprio observou do caminho das pessoas com quem se relacionava. “Eu não queria ser aquilo”, diz. “Nós precisamos equilibrar a sociedade.”

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Ruam Oliveira é estudante de jornalismo