Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O silêncio e o massacre

“No creo que las imágenes puedan mentir. He visto noticieros, fotografias…” (Octavio Paz, La Noche de Tlaltelolco)

Não se pode esconder os mortos do México. Os massacres de Tlatlaya e Iguala revelam o pior do país: os militares matando civis e policiais matando estudantes. O México é a barbárie. E o governo do presidente Enrique Peña Nieto quase mudo, paralisado, passa como se a culpa não fosse sua.

Após o desaparecimento dos 43 estudantes em Iguala, Peña Nieto convocou uma entrevista coletiva com a imprensa mexicana e não permitiu que repórteres fizessem algumas perguntas. Na verdade, ele não deu uma única entrevista coletiva (do tipo aberta, sem perguntas combinadas) desde que chegou ao poder. Erro e medo.

O silêncio é a política oficial. O governo tem uma estratégia de comunicação absurda e não fala publicamente sobre os crimes ou sobre narcotráfico. Portanto, esta é uma crise criada pela presidência. Quase dois anos foram gastos escondendo números e dizendo que nada estava errado. Em seguida, eles (o governo) exploram esses massacres e valas comuns com corpos em todos os lugares aparecem. Esconder a cabeça na areia não apaga a realidade.

E a realidade é que em termos de segurança, as coisas são piores com Peña Nieto do que com seu antecessor, Felipe Calderón. Há mortos e crimes em todos os lugares.

Incompetente, negligente

Dois detalhes: em 2013, o primeiro ano de Peña Nieto na presidência, mais famílias foram vítimas de crimes (33,9%) do que nos últimos dois anos de Calderon (32,4% em 2012 e 30,4%, em 2011). A mais recente pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Estatística e Geografia (INEGI) é aterrorizante: 10.700.000 domicílios tinham pelo menos uma vítima do crime. Além disso, em 2013, 131.946 sequestros – 25% a mais do que foram relatados em 2012. Isso não é para salvar o México.

Peña Nieto quis se vender, dentro e fora do país, como um presidente reformista. Mas a capa da revista Time com a manchete “Saving México” foi tão prematura quanto dar a Barack Obama o Prêmio Nobel da Paz antes dos atentados à Síria. Enquanto assassinato e sequestro mexicanos, não importa quantas reformas proponha Peña Nieto.

Peña Nieto tem problema de legitimidade. Muitos mexicanos acreditam que ele ganhou a presidência com armadilhas, com muito mais dinheiro do que os seus adversários e, por isso, não merece estar em Los Pinos. A única maneira de combater essa falta de legitimidade é com resultados, é governar bem. Mas, obviamente, ele ainda não conseguiu.

Como atrair empresas estrangeiras para investir em petróleo e telecomunicações no país quando o exército e a polícia, em vez de cuidar de seus cidadãos, mata-os? Dinheiro procura segurança, não morte.

O massacre de Tlatelolco, em 1968, e sua total impunidade – ninguém nunca foi preso ou condenado pela matança – só foi possível graças à cumplicidade de muitos “jornalistas” que nunca se atreveram a ser, de fato, jornalistas. Mas, graças a Elena Poniatowska e seu livro A Noite de Tlatelolco nós sabemos o que aconteceu. Hoje existem muitas Elenitas no Twitter, Facebook e Instagram, ao lado de jornalistas corajosos nas mídias comerciais, que não deixarão que os responsáveis pelos massacres de Tlatlaya e Iguala vivam tranquilamente. O silêncio operou em 1968, mas não funciona mais em 2014.

O México apodreceu. Estudantes de todo o país, com passeatas e protestos, já não acreditam nas versões oficiais. As linhas são marcadas: o governo, o exército e a polícia não estão com os estudantes, nem com as vítimas de violência, ou suas famílias. O México foi quebrado em Iguala. Peña Nieto não conseguiu lidar com a questão da real insegurança da população. Antes do massacre, o governo foi incompetente e negligente. Seu silêncio ao invés de comunicação é um sinal de que ele não sabe o que fazer. Qual é o plano para que esses massacres não aconteçam novamente? Não ouço nada.

O silêncio é muitas vezes o pior crime.

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Jorge Ramos Ávalos, do Reforma (México)