Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O planeta se uniu contra a intolerância

Este artigo é uma homenagem aos coleguinhas jornalistas – cartunistas três deles Jean Cabut, “Cabu”, cartunista renomado há décadas e colaborador da Charlie Hebdo desde a fundação da revista, em 1970, era o autor de uma das três charges que em 2006 mexeram negativamente com a sensibilidade dos radicais islâmicos, por isso a publicação teve que ser protegida contra eventuais atentados. Nascido em Châlons-sur-Marne, “Cabu” começou a publicar suas primeiras ilustrações aos 16 anos, depois passou dois anos na Guerra da Argélia. Completaria 77 anos na próxima semana e é considerado um dos precursores da história em quadrinhos-reportagem.

Georges Wolinski,outro componente histórico da redação assassinado nesta quarta-feira, nasceu há 81 anos na Tunísia, era simpatizante do Partido Comunista sem nunca ter militado, e cartunista habitual do Humanité. Também foi colaborador de Hara-Kiri em suas versões mensal e semanal. Nascido em Paris, em 1957, retratista social e comprometido com seu tempo da mesma forma que seus companheiros assassinados.

Bernard Verlhac, o “Tignous”, colaborava em outros veículos, como Marianne, L’Echo des Savanes e Fluide glacial, assim como em diversas emissoras de televisão. Anticapitalista assumido, em 2011 publicou seu último álbum, 5 ans sous Sarkozy, e foi também o autor, entre outras obras, de Pandas dans la brume (2010), On s’énerve pour un rien (1991), Tas de riches (1999) e Le fric, c’est capital (2010).

Todos foram assassinados ontem,7/1, na França, pela fúria de psicopatas escondidos por trás do islamismo.

Um pouco de todos nós, jornalistas, escritores, cartunistas, professores, filósofos morremos um pouco com o atentado de ontem em Paris. Na vida de cada um dos 12 assassinados havia um pedaço de cada um de nós: sonhos, esperança de dias melhores para a humanidade, expectativas de pacificação no planeta depois de séculos de violência.

Ninguém vive sem sonhos. Nem esperança. Essas são as matérias-primas que alimentam o jornalismo, a literatura e as artes no mundo contemporâneo. Esses elementos transpuseram séculos devido a sua escassez num mundo cada vez mais rarefeito de flores em lugares ocupados por escombros das guerras e conflitos: num mundo lutado de cemitérios para guardar os mortos das guerras, pragas, endemias e epidemias, pela intolerância de uns e o radicalismo de outros.

Tentou-se matar de uma vez todos os jornalistas-cartunistas do planeta, mas graças a uma saga humana e à globalização, o tiro saiu pela culatra: o planeta se uniu contra a intolerância de quem buscava, como os jornalistas-cartunistas assassinados, esperança onde só há violência e o controle da criminalidade onde bandidos e psicopatas se escondem por trás da religião. Vamos continuar produzindo jornalismo, cartuns, livros e debates literários na mesma linha de sempre, a produção de ideias capazes de gerar mais sonhos e mais esperanças.

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Reinaldo Cabral jornalista e escritor