Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Sete de Janeiro não é apenas Onze de Setembro

Se esse é o nosso Onze de Setembro, vamos encarar o problema: os extremistas, infelizmente, estão anos-luz à frente quando o assunto é cooperar globalmente em rede para propagar o ódio e disseminar o terror. Contra isso, o que estamos fazendo? Seguiremos os jornalistas simplesmente erguendo plaquetas de luto nas ruas? Somos – ou pelo menos deveríamos ser – inteligentes o suficiente para saber que, assim como o terror aprendeu a não ter mais centro, a frente dessa batalha há muito deixou de ser a praça pública.

E há décadas a imprensa nacional e mundial segue vulnerável a toda sorte de ditadores, pistoleiros, capangas e até de outras estirpes de terroristas – esses legalizados –, que ainda mantêm à sombra muitos de nossos deadlines e redações. Esses criminosos muitas vezes andam à luz do dia, não usam capuzes ou capacetes de motoqueiros nem invadem jornais com fuzis de assalto. Eles já estão lá dentro. De grandes corporações a grupos políticos a humores de diretores de redação, eles são conhecidos e há muito fazem o que fazem – ora aos olhos complacentes da Justiça, ora aos sorrisos silenciosos dos donos da mídia, ora à vista grossa das nossas inertes federações, sindicatos e associações de classe.

Enquanto a nova ordem histórica global só se encarrega de atualizar e ampliar o cerco à liberdade de expressão e à imprensa, tudo o que conseguimos fazer neste Sete de Janeiro é posar diante das câmeras com nossos papelões pretos de protesto e cartazes frente às câmeras e redes sociais. Isso é combativo? Isso mudará as coisas? Só isso garantirá a necessária manutenção do espaço público ao bom debate, ou de nossa integridade física, intelectual, profissional e moral?

O novo terrorismo está dizendo algo

Até quando nos portaremos assim, à espera dos que nos aniquilam, como frágeis drosófilas acometidas pela síndrome do Super-Homem: em delírios, nos achamos tão intocáveis e acima dos demais mortais que assim seguiremos morrendo, como de fato somos: apesar da força das palavras e das ideias, nada mais encarnamos que uma negra nuvem de frágeis moscas negras contra o branco papel. Vamos lá então: #SomosTodosMoscasCharlie mudando seu status para luto mundial. Boa maneira de garantir que nada mudará.

O terrorismo contra as redações que agora atinge de forma mais sangrenta um dos corações da democracia que ainda restam no globo está nos dizendo algo. Se até formigas, cupins e abelhas assim vivem seus modos complexos de inteligência coletiva, como há tempos lembra Steven Johnson, aprendamos também com a observação dos novos padrões que se colocam.

Repito: o terrorismo que agora atinge as redações está nos dizendo algo. Precisamos nos unir e transformar nossas estratégias de ação. Repito de novo. O novo terrorismo que atinge as redações está nos ensinando algo: precisamos nos defender e nos replicar de forma mais inteligente e eficaz, seja em enxames, em redes, em células. É pela nossa sobrevivência, é pela manutenção daquilo que ainda nos faz profissionais, cidadãos, pessoas, democratas, amantes da liberdade e opositores das injustiças, onde quer que estejamos.

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Lázaro Magalhães é jornalista