Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A cobertura da educação

Na quarta-feira (6/1) um telejornal local, Paraná TV, abordou um tema complicado, a avaliação escolar, dando mostra de grande superficialidade. A denúncia de um pai de que seu filho teria sido aprovado, por conselho de classe, sem a média estipulada, provocou uma enxurrada de manifestações de pais e professores de várias cidades do Paraná. O eco do público fez o telejornal dar continuidade ao tema no dia seguinte, entrevistando professores e a secretária de Educação Yvelise Arcoverde. A temática é importante e deve ser debatida, mas abordagens superficiais não contribuem em nada para a situação.

Em linhas gerais, para que um aluno seja considerado apto para avançar para a série seguinte tem que atingir uma nota igual ou superior a 240 pontos em quatro bimestres, de maneira que a nota mínima por bimestre corresponda a 60 pontos. Os alunos que não atingem tal pontuação ao final de cada bimestre ainda têm uma recuperação ao final do período. Os que, mesmo assim, não conseguirem a média necessária, ainda podem ser aprovados por um órgão deliberativo de professores, intitulado conselho de classe, que deve levar em conta uma série de quesitos além das notas. Foi pelo fato de ter o filho aprovado por este conselho que o referido pai foi à imprensa denunciar que seu filho foi aprovado sem nota para tanto.

O volume considerável de e-mails que a equipe do telejornal afirmou ter respondido pode ser facilmente explicado pelo fato de que em muitas escolas e colégios os professores são pressionados pela direção e equipe pedagógica a reprovar o mínimo possível de alunos. A secretária de Educação afirmou em entrevista que os diretores não têm nenhuma orientação da secretaria para não extravasar uma cota mínima de reprovação, mas estes sabem que se houver em suas escolas um alto índice de reprovação terão de prestar contas a seus superiores. Assim, muitos professores se sentem indignados e desmoralizados por, não raramente, terem de aprovar alunos que não se esforçaram para conseguir a média no ano letivo. Considerando que, como afirmou um professor entrevistado, ‘a nota é uma moeda de troca para que o aluno se veja obrigado a estudar’, a aprovação dos que não a atingiram é um ataque à suposta autoridade dos professores.

Apenas uma conseqüência

Seria fácil elogiar a equipe do telejornal por abordar um tema tão importante para a sociedade e por prestar esse serviço para a população no que diz respeito à educação pública. Entretanto, é curioso notar que em nenhum momento os âncoras ou os jornalistas perguntaram a algum professor (a): quantos alunos você tem em cada classe? (b) qual a sua carga horária semanal dentro de sala de aula? (c) você acredita que suas condições de trabalho interferem no aprendizado dos alunos? (d) ou será que menos alunos seriam aprovados sem a média indicada caso as salas de aula não fossem tão cheias?

Tais questões não recebem atenção da mídia, pois a denúncia do pai indignado não era sobre nenhuma destas, e sim, sobre o fato de seu filho ter sido aprovado sem a média necessária. Isto não detém a atenção dos dirigentes políticos e não é uma preocupação da sociedade em geral. Os problemas centrais da Educação pública, tanto no estado do Paraná quanto em qualquer outro, não se reduzem ao fato de muitos alunos serem aprovados sem média para tanto, pois isto é uma consequência de turmas com mais de 40 alunos, de educadores com salários vergonhosos e com uma carga horária excessiva.

Estes aspectos não fazem parte do horizonte de preocupações dos pais e se por acaso algum tivesse se queixado de que os mesmos tivessem atrapalhado a aprendizagem de um filho que reprovara talvez não tivesse recebido atenção da equipe jornalística do Paraná TV. O que fica evidenciado nas reportagens é um estardalhaço sobre, apenas, uma consequência dos principais problemas da Educação. Resta saber se a imprensa não aborda a problemática central por achar que não tem importância ou se a mesma não tem importância por não ser abordada.

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Professor de História, Ponta Grossa, PR