Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A cobertura de um massacre que se repete

O mais espantoso na cobertura televisiva do massacre na Virginia Tech, segundo a crítica de TV do New York Times, é notar como as matanças em instituições educativas se tornaram algo comum nos EUA. Alessandra Stanley, em artigo na terça-feira [17/4/07] – um dia após o tiroteio que deixou 33 mortos na universidade na cidade de Blacksburg – afirma que os telespectadores passaram a encarar tragédias deste tipo de uma maneira metódica.


Para eles, a descrença inicial se transforma rapidamente em um ritual para digerir a má notícia. ‘Equipes de notícias correm para o local, testemunhas enviam imagens gravadas em seus celulares, estudantes pacientemente recordam suas impressões diante de câmeras de TV’, enumera Alessandra.


Lembrando Columbine


‘Isso é como em Columbine’, desabafa um aluno da Virginia Tech diante do microfone da MSNBC. ‘Muito triste’. Realmente, oito anos depois, é difícil não lembrar do massacre da escola Columbine, no Colorado, quando dois adolescentes munidos de armas e bombas assassinaram 12 colegas e um professor – e se mataram. O incidente levou à produção do documentário Tiros em Columbine, de Michael Moore, e serviu de inspiração para o longa Elefante, do cineasta Gus Van Sant.


Após a associação, sem demora, psicólogos e ex-especialistas em perfis psicológicos do FBI tomam conta da telinha, tentando arrumar uma explicação lógica para o absurdo que acaba de ocorrer na Virginia. No fim, a tentativa não tem sucesso. ‘Eu não consigo acreditar que mais um desses aconteceu’, diz William Lassiter, do Centro de Prevenção de Violência Escolar de Raleigh, na Carolina do Norte.


Da confusão ao desastre


Nos momentos iniciais, conseguir informações precisas sobre o que realmente havia ocorrido na manhã de segunda-feira foi difícil para os veículos de comunicação americanos. ‘Tudo parecia confuso para nós’, conta Jon Banner, produtor-executivo do World News, da rede ABC. ‘Mas era mais trágico ainda para as pessoas daquela comunidade’. ‘Nós soubemos que tinha acontecido um tiroteio – uma vítima, sete feridos –, e do nada alguém falou que eram na verdade 20 mortes’, lembra Alex Wallace, produtor-executivo do NBC Nightly News.


A partir daí, as emissoras resolveram enviar seus principais apresentadores para a Virginia. Katie Couric voou a Blacksburg para entrevistar sobreviventes e apresentar de lá uma edição especial do CBS Evening News. A ABC News anunciou que Charles Gibson, âncora do World News, chegaria à cidade na terça-feira e que o programa Nightline seria dedicado ao massacre no campus.


O presidente da Virginia Tech, Charles W. Steger, participou de coletivas de imprensa e descreveu o tiroteio como ‘uma tragédia de proporções monumentais’. O presidente dos EUA, George W. Bush, foi ao ar para expressar o sentimento de pesar da nação. O francês Jacques Chirac também prestou condolências por seu país.


‘Enviem suas fotos’


Apesar de todo esforço profissional, a imagem mais próxima do massacre vem da câmera de um telefone celular, do lado de fora do prédio Norris Hall, palco do segundo tiroteio – o primeiro ocorreu em uma residência estudantil, a 800 metros dali. Ao receber ordens de ficar no chão, o estudante Jamal Albarghouti pensou que a polícia estava respondendo a uma ameaça de bomba. Deitado, manteve a câmera ligada, por onde é possível ouvir 27 disparos de arma. Albarghouti mandou o material para a I-Report, seção do sítio da CNN que permite que pessoas comuns enviem notícias e imagens de desastres. A emissora rapidamente assinou um contrato de exclusividade com o estudante. Até a noite de segunda-feira, a CNN.com já havia registrado 1,8 milhão de visitas ao clipe.


No fim, o triste episódio da Virginia Tech mostrou como as grandes emissoras se apóiam cada vez mais em ‘repórteres amadores’ na tentativa de levar o telespectador quase para dentro da tragédia. ‘Tomem cuidado’, dizia o âncora da CNN Don Lemon aos estudantes universitários. ‘Mas nos enviem suas fotos e vídeos’, completava. Com informações de Paul J. Gough [Hollywood Reporter, 17/4/07].