Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A jornalista que usa a arte da notícia com ironia

Quem não conhece a jornalista Teresa Barros ou desconhece o trabalho que há 44 anos desenvolve na mídia brasileira? Se você desconhece a trajetória da jornalista, leia com atenção a entrevista.

Carioca ‘da gema’, a jornalista Teresa Barros, conhecida nacionalmente por profissionais da área da mídia e conhecida pelo grande público, formadores de opinião, que acessam diariamente o site político do jornalista Cláudio Humberto ou por quem lê os jornais impressos no país, em busca de informações políticas e econômicas do Brasil… E, claro, temida por políticos.

Aliás, Teresa desenvolve juntamente com a equipe do jornalista, CH, as seleções de notícias que são veiculadas diariamente pelo site e pelos jornais pequenos, médios e grandes por todo o território nacional. Sua ferramenta de trabalho é, sem nenhuma dúvida, dar uma pesquisada em sua agenda ou nas dezenas de e-mails que recebe diariamente de suas fontes, sempre confiáveis.

Atuando há 10 anos na equipe, que é também formada pelo jornalista Tiago de Vasconcellos e Enio Lins, design e desenhista do site, o trabalho que Teresa desenvolve no site é desafiador e gratificante.

‘Nunca namorei guerrilheiro’

Profissional objetiva e instigadora, entrou numa redação aos 16 anos no Rio, onde foi repórter do Caderno B do JB, depois atuou como editora do jornal Hoje, da Rede Globo, editora-chefe da área Internacional e diretora de programas especiais da extinta Rede Manchete por dez anos. Também traduziu e editou livros.

Pela Rede Manchete, em 1985 passou um mês com outros quatro jornalistas de outros estados brasileiros participando de um intercâmbio do governo americano, visitando vários jornais, TVs, como a CBS, participando também de um briefing na Casa Branca. O objetivo deste intercâmbio era interagir e trocar experiências no jornalismo com diretores de jornais e revistas americanos. Sua viagem na terra de Tio Sam foram experiências adquiridas que puderam ser usadas em seu trabalho no Brasil. Em 23 dias, viajou por sete estados americanos. No ano de 1990, Teresa, segue para a Polônia, pela extinta TV Manchete, para produzir e editar a primeira entrevista do líder do Solidariedade, Lech Walesa.

Ainda hoje mantém ligação com diversos ‘correspondentes’ no exterior, colegas estrangeiros com quem troca figurinhas de vez em quando sobre o Brasil e brasileiros lá fora.

Indagada sobre os movimentos estudantis e a ditadura militar, ela responde sem pestanejar: era jovem e só pensava em namorar. Pausa e risos. Retornando à pergunta sobre a ditadura militar, ela recorda o apartamento alugado no Leblon, que dividia com uma colega, e onde abrigou por alguns dias alguns procurados pela dita cuja. ‘Foi um `aparelho´ e eu nem me dei conta do perigo que corria…’ ‘Mas nunca namorei guerrilheiro… A ‘causa’ não combinava com romance, era o que diziam. Quem não morreu à época, hoje está muito bem ‘anistiado’.

Sem papas na língua, na entrevista ela comenta sobre a profissão, diverge em relação à obrigatoriedade do diploma de jornalista, e não poupa crítica a ninguém. Avessa às badalações e à propaganda, asseguro como blogueira e jornalista que foi uma tarefa difícil conseguir esta entrevista. Mas Teresa Barros, depois de alguma resistência, concordou.

O bate-papo

Nome: Teresa Barros

Idade: 62 anos

Profissão: jornalista profissional desde 1965

Quantos anos de profissão: mais de 40

Breve curriculum: Comecei em revistas femininas na antiga Rio Gráfica Editora, depois Editora Globo, fui free-lancer dos extintos Diário de Notícias e Correio da Manhã – Atualmente, o site de Claúdio Humberto.

Ponto de Vista – Você é a favor ou contra a legalização do diploma para jornalistas e por quê?

Teresa Barros – Jornalismo é vocação, não obrigação.

Em sua opinião, a imprensa marrom invadiu os grandes veículos de mídia no país?

T.B. – Se invadiu, não sei, mas a política está um mar de lama.

Como burlar a indústria cultural e publicar o outro lado da informação, indo contra os interesses econômicos?

T.B. – Felizmente não sou dona de jornal e meu interesse econômico se resume a fechar as contas no final do mês.

O que a levou a se tornar jornalista?

T.B. – Gostar de escrever e muita curiosidade. Fiz jornais de colégio etc.

Como jornalista, você pode perder o amigo e não a piada?

T.B. – Perco o amigo. Se ele não entendeu a piada, não podia ser meu amigo.

‘São raras mulheres comandando uma redação’

A Fenaj é um órgão de representatividade para a categoria em sua opinião?

T.B. – A mim não mais representa, sou ‘dessindicalizada’ há quase 15 anos. Poupo meu dinheirinho mensal e minha paciência.

Qual o papel da imprensa moderna?

T.B. – Ser eterna.

O que causa medo em sua profissão?

T.B. – A ignorância no sentido do desconhecimento, a preguiça e a arrogância. E a autocensura.

O que a irrita?

T.B. – Acho que os medos acima explicam tudo.

Qual foi o melhor dia de sua vida?

T.B. – Todos os dias em que posso trabalhar no que gosto. E os nascimentos da Laura, minha única filha, e agora o do meu primeiro neto, o Thomas.

Até que ponto a mulher avançou profissionalmente?

T.B. – Nunca reparei, mas ainda hoje são raras as mulheres comandando uma redação. Sei que jornalismo bom não tem sexo.

‘Trabalho no que gosto e me divirto à beça’

Em sua opinião, o Brasil cuida bem de seus idosos? Justifique.

T.B. – Como sempre, cuida de ‘firulas’, do tipo passe livre no transporte, cinema etc., mas na hora de pagar aposentadoria corrigida pela inflação aos que ganham além do mínimo, o governo pune e condena os idosos brutalmente.

A solidão a incomoda?

T.B. – Só sinto falta do barulho das pretinhas da máquina de escrever – uma excelente trilha sonora diante das ‘trilhas’ que somos obrigados a suportar hoje em tudo, do elevador ao supermercado, da loja de biscoitos ao aparelho de som na mala do carro.

Quais são as bandeiras que carrega?

T.B. – Nunca carreguei bandeira, nem do dia da própria, no saudoso colégio Pedro II, no Rio.

A ‘Lei Maria da Penha’, que defende a s mulheres da violência doméstica, funciona no país?

T.B. – Melhor alguma coisa que nada, mas o Brasil acha que resolve tudo com novas leis.

Você se sente uma mulher realizada?

T.B. – Não posso reclamar: trabalho (muito) no que gosto, com quem gosto, me divirto à beça e ainda recebo por isso.

Sonhos.

T.B. – Durmo mal.

Homem ideal.

T.B. – O meu.

Qual a melhor cidade para se viver?

T.B. – Certamente não o Rio de hoje. Se pudesse, moraria em Paris ou em Dublin, na Irlanda.

Mulher na política funciona melhor?

T.B. – Tem algum bom exemplo aí?

Qual o pensamento do dia?

T.B. – ‘Nada como um mandato atrás do outro, com um referendo no meio.’

Mensagem final.

T.B. – Ctrl+Alt+Del.

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Jornalista, diretora do Sindicato dos Jornalistas de Londrina e vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas secciconal Maringá, PR