Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A maioria aceita ‘censura prévia’

Parece que a sociedade está mesmo disposta a dar um basta aos enlatados e projetos alienantes empurrados goela abaixo dos telespectadores. Pelo menos é o que mostram os números da pesquisa da Sensus, realizada entre os dias 18 e 22 de junho de 2007, com 2 mil pessoas. O resultado foi surpreendente: 57,9% dos entrevistados aceitam a censura prévia na TV.

Sem entender este resultado como censura ditatorial, a sociedade parece estar cansada da apologia a toda nudez exposta que as novelas apresentam, das traições dos relacionamentos, dos casamentos que nunca podem ser saudáveis e tem sempre que aparecer uma mulher ou um homem para trair e trocar pares, da apologia à violência, bem como da falta de criatividade nos textos que fazem da programação de TV (com raríssimas e honrosas exceções) algo dispensável para muitos, já que contribui, em geral de forma negativa, para a formação da sociedade.

O ‘desespero’ chegou

Afinal, num país em que a TV deixa de ser um meio de comunicação, apenas, para ser o aparelho ideológico mais importante e formador da organização social, e onde não há opções de canais, o limite entre uma programação construtiva e interessante passa longe de ser o propósito principal das empresas de comunicação que detêm as concessões. Até porque a televisão é, sim, um meio educativo e gerador de conceitos, idéias e cultura e por mais que isso não seja o seu objeto de trabalho num país em que poucos têm acesso aos bens e serviços, o cidadão é formado, em parte, por esse meio. Se a TV tem a maior penetração na quase totalidade dos lares brasileiros é mais do que urgente repensar o conteúdo deste meio que deveria ter total compromisso em transformar a sociedade. Se assim não o for, algo violento está ocorrendo. Marilena Chauí diz que a ‘violência é toda prática e toda idéia que reduza um sujeito à condição de coisa, que viole interior e exteriormente o ser de alguém, que perpetue relações sociais de profunda desigualdade econômica, social e cultural’. A TV faz ou não isso?

Dessa forma, o resultado da pesquisa parecer transmitir o ‘desespero’ que chegou à casa das pessoas e, numa forma de dizer ‘socorro, precisamos de ajuda’, a votação para o ‘controle’, digamos assim, da programação de TV, é proporcionalmente correta no sentido de que algo tem que acontecer. Esperamos que de bom.

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Socióloga e jornalista, professora da Universidade do Estado da Bahia e da Faculdade São Francisco de Juazeiro, BA