Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A mão que suja a outra

O prefeito de João Pessoa (PB), Luciano Agra (PSB), usou o Twitter para desqualificar as opiniões do jornalista Hélder Moura à sua administração. Não satisfeito, foi para uma rádio de João Pessoa dizer que o colega não pode criticar a prefeitura municipal porque o sistema Correio da Paraíba, onde o jornalista trabalha, recebe verba de publicidade.

O primeiro equívoco de Agra foi atacar Hermes de Luna no Twitter, confundindo-o com Hélder Moura. Digamos que foi a pressa do prefeito em revidar o “delito de opinião” do colunista que o levou a cometer essa “barrigada”, jargão jornalístico que significa erro de informação. Depois, veio o mais grave. Luciano Agra assumiu, publicamente, sua relação perniciosa com a imprensa – a de usar o dinheiro público para negociar o silêncio dos jornalistas sobre sua administração, exceto se for para elogiar, uma espécie de liberdade vigiada.

Dias antes, Agra havia comemorado o resultado de pesquisa publicada no Jornal da Paraíba que lhe deu aprovação de 51%, dizendo que a pesquisa tinha credibilidade porque fora contratada por um “sistema que não milita no nosso esquema”. Ou seja, na cabeça do prefeito, é assim mesmo: calça de veludo ou bunda de fora, quando o erário está sob controle deles. O dinheiro público – ele não tem pudor em dizer – paga a indumentária de quem se alinhar; quem não se curvar, fica com a bunda exposta.

Verba pública não é para censurar

O colunista, como é o caso de Hélder Moura, tem um espaço na mídia para dar opinião, produz textos não necessariamente noticiosos, pode assumir posicionamentos políticos, criticar, elogiar. Tudo que ele escreve e assina é de sua responsabilidade, inclusive para responder judicialmente. Portanto, é livre!A liberdade de expressão é um princípio constitucional. Será que nós, jornalistas e cidadãos, estamos perdendo a capacidade e o direito à indignação, à crítica? É lícito vender ou comprar consciências? O contraditório enriquece o debate, só não acrescenta nos regimes ditatoriais porque a intolerância é o que alimenta o ego de quem está no poder.

Não é segredo para ninguém a relação de amor e ódio entre imprensa e gestores públicos. Andam de mãos dadas, feito recém-casados que trocam afagos, beijos, elogios e abraços diariamente, mas a lua de mel acaba quando vêm as críticas.

Vivemos um momento emblemático na Paraíba. Os homens públicos estão se tornando instituições privadas a serviço deles mesmos, como se nada mais pertencesse ao povo, nem mesmo a voz, que querem calar a todo custo. O prefeito Luciano Agra precisa saber que propaganda institucional não é jornalismo e que verba pública é para divulgar ações e não para censurar jornalistas.

“Quem aplaude a censura hoje, pode ser a vítima de amanhã.” A frase de Mino Carta, diretor da revista CartaCapital, deve servir de reflexão para todos nós, profissionais e empresários da comunicação.

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[Marcela Sitônio é presidente da Associação Paraibana de Imprensa (API)]