Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A mesma origem dos jornais rivais

No dia 15 de novembro de 1945 foi para as ruas o primeiro número de O Liberal, o mais novo vespertino da cidade. Em 22 de agosto de 1982 foi a estréia do Diário do Pará, que iria dividir o mercado com os dois outros jornais de circulação diária em Belém nessa época: A Província do Pará, o mais antigo de todos, e o mesmo O Liberal. Com um intervalo de 37 anos, os dois jornais, que continuam a circular diariamente na capital paraense (agora na companhia do Amazônia Jornal, do grupo Liberal), tinham duas características comuns: foram criados para ser jornais de partido, com a imediata finalidade de influir na campanha eleitoral em curso (ou em perspectiva) quando surgiram, e por trás da iniciativa estava o mesmo esquema político, embora em posições distintas entre um e outro momento.

O Liberal devia servir de arma para o maior caudilho da república no Pará, o coronel Joaquim de Magalhães Cardoso Barata, se defender dos ataques violentos desferidos contra ele pelo mais influente jornal desse período, a Folha do Norte, e contra-atacar o jornalista Paulo Maranhão, dono da publicação e autor de textos terríveis. Desde 1932 a Folha se tornara o reduto do ‘anti-baratismo’, sem competidor à altura – na imprensa ou fora dela. Apesar de fustigar seu alvo preferido, o ‘baratismo’ não só resistia, mas até continuava a crescer: na eleição de 1945, Barata foi, ao mesmo tempo, o senador mais votado (com 62 mil votos) e o campeão dentre os deputados federais eleitos (25 mil votos), formando assim a maior bancada parlamentar. Mas ele próprio sabia que não podia mais ficar sem trincheira jornalística: os anos seguintes seriam politicamente mais duros. Tanto que perderia a eleição para o governo do Estado, cinco anos depois.

No editorial inaugural, na primeira página, O Liberal garantia aos seus leitores que iria adotar ‘elevação de linguagem’. Assim, seus jornalistas não seriam jamais confundidos ‘com aquela raça de pseudos jornalistas’, que se caracterizaram como ‘alinhavadores da torpeza, contumazes forjicadores de escândalos’. Jornalistas que ‘não vacilavam em denegrir e vilipendiar seja lá quem fosse que não lhes satisfizesse a gula mercenária ou não se ajustassem covardemente aos seus caprichos e intolerâncias’ referindo-se, obviamente, à Folha do Norte.

Entendia que o Pará ‘jamais desfrutaria dias de sossego, de paz e serenidade, enquanto, para desventura de sua gente, existisse o jornal que era o maior perturbador e inimigo da felicidade paraense’. Os responsáveis por esse jornal eram movidos, havia 13 anos, pela raiva, o despeito e a cólera, ‘porque nada conseguiam a favor do seu triste e angustioso desejo, que era abater no Pará o prestígio inabalável de Magalhães Barata’. Mas a nova derrota que sofreram, na primeira eleição direta desde o início da ditadura do Estado Novo, em 1937, ‘fora a demonstração inequívoca de que a coletividade paraense não estava com eles, não lhes aceitava as opiniões’.

O Diário do Pará podia repetir as mesmas expressões em 1982, só que desta vez contra os autores desses conceitos, porque o ‘neobaratista’ Jader Fontenele Barbalho criara o jornal para enfrentar O Liberal, que apoiava a candidatura do seu adversário na disputa pelo governo do Pará, o médico e empresário Oziel Carneiro. No curso de uma história política (ou de elites) que não segue diretrizes ideológicas, não leva a sério programas e considera os partidos meros acidentes de percurso, a ironia é uma constante e o drama – como a tragédia – rapidamente se transforma em farsa, ou comédia.

Autoconfiança em excesso

O Liberal, que surgiu em 1945, exatamente no dia da votação, que proporcionaria fácil vitória aos ‘baratistas’ na eleição parlamentar, perderia a traumática eleição geral de 1950, quando o mais pessoalmente odiado dos adversários de Barata, o general Zacharias de Assumpão (que, ironicamente, iria se notabilizar como democrata e pacificador), o derrotou, por apenas 582 de votos de diferença. A volta de Barata ao poder, em 1955, e do ‘baratismo’ com Moura Carvalho, quatro anos depois, quando o caudilho morreu no exercício do cargo, permitiu ao jornal vencer suas constantes crises e sobreviver, mas sem nunca se estabelecer. Quando os militares deram o golpe, em 1964, os ‘baratistas’ eram a representação política da corrupção, exteriorizada no contrabando e no jogo do bicho, cujo combate constituiu uma das bandeiras de campanha dos novos donos do poder (a outra era a subversão, anêmica no Pará).

O jornal renasceu das cinzas quando Romulo Maiorana, que crescera à sombra do ‘baratismo’, o comprou, em 1966, e o transformou de jornal de partido em empresa jornalística. Como já não tinha dinheiro suficiente para dar conta dessa tarefa, em virtude da crise de sua rede de lojas de varejo, recorreu a amigos para capitalizar O Liberal, fazê-lo dar um salto tecnológico e comercial, em 1972, com a adoção do sistema de impressão offset (pouco depois da introdução dessa melhoria no Brasil, pela Folha de S. Paulo), e acabar com o velho inimigo dos tempos do jornal de partido, comprando a Folha do Norte, em 1974, oito anos após a morte de Paulo Maranhão. Mas, sobretudo, com a conquista de um canal de televisão, que lhe deu acesso ao negócio de maior rentabilidade.

Para vencer as resistências do passado, eliminar as restrições dos órgãos de segurança e expandir sua corporação, Romulo Maiorana precisou contar com o apoio dos novos senhores da política, os militares, e, em particular, com a sua maior liderança no Pará, o coronel Jarbas Passarinho. Com muita habilidade, Romulo conseguiu se equilibrar entre os compromissos com os novos aliados e a herança do ‘baratismo’. Mesmo políticos cassados, como Hélio Gueiros e Newton Miranda, continuaram a ter abrigo no jornal, que também promoveu a nova geração de ‘baratistas’, da qual a maior expressão seria Jader Barbalho, filho de um dos mais atuantes parlamentares da velha corrente política.

Mas quando Jader e Oziel se apresentaram no principal confronto da eleição de 1982, Romulo teve que decidir pelo partido situacionista. Os peemedebistas perceberiam que nem por isso o dono de O Liberal se colocou frontalmente contra os oposicionistas.

Espaços independentes dentro do jornal continuaram a transmitir informações e expressar opiniões que não estavam subordinadas à aliança política estabelecida pelo proprietário do veículo. Mas isso já não era o suficiente para as necessidades de Jader, muito menos para os interesses do principal avalizador da sua candidatura, o governador Alacid Nunes, que rompera de vez com Passarinho, depois de anos de uma guerra não declarada entre os dois, desligando-se também do governo federal, na figura do general João Batista Figueiredo, ao qual até então servira.

Mas não só por isso: Hélio Gueiros rompera ruidosamente com O Liberal e com Romulo Maiorana, ao perceber que não receberia apoio à sua candidatura de senador contra o próprio Passarinho, a quem conseguiria derrotar graças às duas sublegendas lançadas pelo PMDB (a soma delas superou a votação do ex-ministro, que, num característico excesso de autoconfiança, preferiu concorrer sozinho contra os três peemedebistas). Esse rancor, Hélio carreou para as páginas do nascente Diário do Pará, que abrigou suas catilinárias contra o ex-amigo e não-aliado (apesar das ofensas, os dois se reconciliariam logo depois).

Dúvida em aberto

O curioso é que os dois jornais políticos, de campanha, lançados no intervalo de quase quatro décadas, mesmo tendo origens semelhantes, com patronos que integravam a mesma genealogia política, acabaram se transformando no maior caso de rivalidade jornalística na história do Pará. Travam atualmente não só uma renhida disputa comercial e editorial: por divergência política, um procura destruir o outro. Apesar de se terem transformado realmente em empresas, mais poderosas até do que seus portes econômicos poderiam sugerir, não se profissionalizaram. Seria como se o ódio que ‘baratistas’ e ‘anti-baratistas’ destilavam entre si se tivesse concentrado na mesma família, agora cindida radicalmente.

Uma parte dessa história é contada, exatamente quando o Diário do Pará completa 25 anos de vida, por um dos seus primeiros jornalistas. Expedito Leal lançou neste mês Um Jornal de Campanha (Editora Komedi, 272 páginas, R$ 25), que não é exatamente a história do jornal, nem mesmo a oficial ou oficiosa, mas apenas ‘relembranças jornalísticas’, conforme o subtítulo. O autor não se limita a falar do Diário, em cuja redação exerceu cargos de confiança: conta também parte da sua vida, aproveitando para certos ajustes de contas e alguns depoimentos de interesse mais pessoal. Com prós e contras, é uma iniciativa louvável e positiva no panorama geral de omissão dos jornalistas, que raramente saem do âmbito das suas tarefas profissionais cotidianas para dar sua contribuição para um conhecimento mais geral e crítico sobre esse escaninho vital do poder, que é a imprensa.

Expedito não aprofunda questões polêmicas, como a origem do jornal, mas pelo menos as registra, dando pistas sobre as respostas. ‘Quem bancou o Diário? Já ouvi esta pergunta infinitas vezes e confesso que nunca causei constrangimento nem ao Jader e nem ao seu Laércio sobre o assunto. A versão mais corrente não só na redação como no meio jornalístico foi um só: o ex-governador de São Paulo, Orestes Quércia, teria sido o grande financiador do projeto, obviamente, incluindo o sistema gráfico’.

Se todas as versões confluíam para uma só, é pouco provável que não estivesse aí a verdade. Tudo indica que foi mesmo Orestes Quércia, na época ainda acreditando em ser presidente da república, o responsável pelo capital inicial do jornal, que faltava a Jader e seu grupo. O dedo do gigante aparecia na razão social da empresa que editaria o Diário, a Gráfica Bauru, de São Paulo. Mas as precárias instalações físicas também evidenciavam o tamanho limitado desse capital inicial.

O Diário parecia que duraria pouco tempo. Mas Jader percebeu, como outros coronéis da política no Norte e Nordeste, que não podia mais ficar à mercê dos donos dos principais grupos de comunicação, sobretudo quando o comando passou para as mãos da segunda geração, pouco afeita à história e aos seus compromissos. Tinha que montar sua própria estrutura se quisesse preservar o próprio poder. Passaria a combinar o exercício da política com a atividade empresarial, na qual não era – e continua a não ser – um exemplo.

A Romulo Maiorana essa perspectiva não passou despercebida. O empresário tentou manter o esquema tradicional de aliança oferecendo apoio total a Jader quando ele se elegeu governador. Assim, imaginava convencê-lo a desistir de seguir a nova carreira. Mas a campanha eleitoral de 1982 fora traumática: mesmo com o uso da máquina estadual, comandada por Alacid Nunes, a vitória foi apertada – e podia ser efêmera.

Laércio Barbalho, o principal personagem no livro de Expedito, transmite esse estado de espírito numa entrevista dada ao autor do livro:

‘O Jader passou o primeiro governo dele dando tudo o que podia para o Grupo Liberal. Foram os mais favorecidos durante o [primeiro] governo do Jader’.

Ainda assim, não era suficiente. Ao invés de descartar seu jornal de campanha, Jader tratou de dar-lhe competitividade, substituindo as velhas máquinas de impressão por rotativas offset. Continuou um degrau tecnológico abaixo de O Liberal, mas já não tão abaixo quanto antes. Que capital permitiu esses saltos, é a dúvida, ainda em aberto. Mas ela não é estranha ao começo de muitas das empresas de comunicação do país.

Perguntas e respostas

A novidade está agora na longevidade do papel que o político Jader Barbalho assumiu como empresário do jornalismo, superando todas as marcas anteriores, inclusive a de Barata. O Diário não apenas sobreviveu: aumentou a competição com seu grande rival e já o superou no segmento da mídia impressa. Essa façanha pode ao menos parcialmente ser explicada pelo uso do poder político pelo empresário, que se vale de certa falta de separação entre o público e o privado.

O próprio Expedito Leal é exemplo desse ‘processo viabilizatório’, que lhe garantiu o ingresso na carreira de procurador do Ministério Público do Estado, por indicação do patrão. Muitos outros receberam cargos públicos como compensação ou complementação dos baixos salários na empresa jornalística, um ponto de partida do entrelaçamento de alçadas que, freqüentemente, deriva em promiscuidade total entre o que é governo e o que é a empresa, quando uma mesma pessoa tem os pés numa e noutra estrutura.

Essa situação realmente não é nova. No caso do Diário, porém, se tornou especial, pelo poder político que Jader alcançou. Daí o interesse pelo livro de Expedito Leal. E por outros que vierem depois dele, com mais perguntas e maiores e melhores respostas sobre esse novo marco na história da imprensa no Pará. Se possível, com mais realismo e menos fantasia.

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O jornal que virou mito e confusões em 1964

O Jornal do Dia circulou diariamente em Belém entre 1961 e 1965, mas é quase impossível encontrar um só dos seus exemplares. Diz a lenda que seu proprietário, Armando Carneiro, mandou recolher e destruir tudo que pôde. Como os romanos em Cartago, pretendia não deixar qualquer sinal da existência da criatura, embora ela pudesse orgulhá-lo. O JD assinalou um dos melhores momentos da imprensa paraense: comandado por Cláudio Augusto de Sá Leal, que deixara a chefia da redação de A Província do Pará, uma equipe de jovens, aguerridos e sonhadores jornalistas (sem a exigência do diploma universitário, qualquer um podia ser chamado de jornalista) fez uma publicação vibrante, moderna, em sintonia com o dia a dia.

Era criativa, mas não original. Com certa ironia, dizia-se que o Jornal do Dia era a Última Hora da véspera. Não sem certa razão: o jornal carioca só chegava a Belém no final da tarde ou início da noite. Parte do seu material era recortado, colado e saía nas páginas do JD do dia seguinte. A busca de semelhança era intencional: a quase réplica paraense devia fustigar o governo do PSD ‘baratista’, à frente o governador Aurélio do Carmo, sempre prolífico em dar motivos a matérias apimentadas. O jornal devia também, como UH, dar apoio ao presidente João Goulart, do mesmo PTB de Armando Carneiro, que era deputado federal, mas pretendia ser governador, em 1965. Um caminho tortuoso, porque Armando integrava um clã político conservador, sob a rígida batuta de Pedro Carneiro, que fora senador e era capitão da indústria, sem nunca se desligar de sua origem rural. Mas o que não faltava era argúcia e inteligência a Armando, que apostou na audácia. Como os esquerdistas eram considerados os melhores jornalistas, os contratou e os liberou para os ataques. Publicaria o que eles apurassem contra o ‘baratismo’.

Os militares que derrubaram João Goulart em 1964 foram atrás dos subversivos, mas no Pará eles eram poucos e nem podiam ser pintados de muito perigosos. Estavam mais para a festividade do que para as agruras e severidades da revolução. O principal alvo tinha que ser a corrupção. E ela podia ser encontrada nas páginas do Jornal do Dia, repletas de denúncias contra o contrabando, o jogo do bicho e outras formas espúrias de financiamento da atividade política e manutenção do poder. O jornal serviu bastante à estocagem de munição, que acabaria fulminando o governador Aurélio do Carmo, cassado três meses após a deposição de Jango.

Só que Armando Carneiro não podia comemorar o que tanto apregoara. Ele próprio, um petebista com grandes planos, estava pessoalmente ameaçado. Achou melhor fechar o jornal, jogar sal sobre sua tumba e proclamar o delenda Jornal do Dia. Também considerou mais prudente abandonar a política e se concentrar nos negócios, que renderam o bastante para torná-lo um dos mais abastados empresários da terra. Ainda tentou realizar seu projeto de governo através do irmão, Oziel Carneiro, mas Jader Barbalho foi uma pedra no caminho.

Letra de forma

Hoje, Armando deve ser tão lembrado quanto seu jornal, mas um útil capítulo do livro de Expedito Leal sobre o Diário do Pará, que Jader criou duas décadas depois, recompõe fragmentos da história do Jornal do Dia, do qual muitos sempre ouviram falar, mas poucos viram – e raros ainda podem ver.

O pai de Jader, Laércio Barbalho, que tinha memória excepcional (parcialmente herdada pelo filho), dá no livro um depoimento que reproduz com fidelidade o clima de incertezas, agonia e contradições vivido entre 31 de março e 1º de abril de 1964, em Belém, e que ajuda a entender o desfecho desairoso do jornal, as posições ambíguas de alguns personagens, e explicaria a sistemática oposição que o jornalista Cláudio Leal sustentaria contra Jader, agravada em O Liberal pela posição da empresa contra o político do PMDB. Seria uma luta pessoal como parte de uma luta maior, na interpretação de Laércio.

Ele reconstitui uma reunião convocada pelo vice-governador, Newton Miranda, para analisar a situação, da qual participaram ainda os secretários Henry Kayath (da fazenda) e João Viana (de interior e justiça), e Antônio Logo, diretor do DER. Diz Laércio:

‘Aí, quase todos que se encontravam ali, estavam convencidos que a ‘revolução’ era só contra o PTB. Não iria atingir o pessoal do PSD. Então o Newton fez contato com o Aurélio do Carmo, essa coisa toda. O Newton queria urgentemente tomar conta do ambiente. Quem primeiro fez as prisões foi o Iran Loureiro, foi quem prendeu o Ruy Barata e alguns outros (Iran Loureiro era o comandante da PM). No dia seguinte a coisa foi mais grossa e prenderam mais gente.

[…] O Newton convocou uma reunião no palácio às nove horas e disse: ‘Laércio, tu vais comigo’. Eu não tinha nada com o negócio, era um simples deputado. Passei então a ser testemunha dessa coisa.

[…] Aí ficou combinado que sairia dali do Palácio, eu sairia para compor uma comissão. E eu fui pro Quartel General. Me meti nessa fria, e eu não tinha nada com isso. E lá colocaram um major, um capitão e eu, para correr os jornais e as rádios pedindo ajuda para a ‘revolução’. Quando cheguei no Jornal do Dia, quem estava lá era o Guaracy de Brito. Foi-lhe explicado que a ‘revolução’ era irreversível. Que o povo precisava ser tranqüilizado. E que nada contra deveria ser publicado. O Guaracy respondeu que tinha umas matérias do Sindicato do Petróleo e outros. O major Ribamar retrucou que as matérias não deveriam ser publicadas. O Guaracy retrucou que eram matérias pagas e que não poderia atender ao pedido e que não tinha autoridade para fazê-lo. O major indagou quem seria a tal autoridade. Foi-nos indicado que seria o Sá Leal. O militar pediu que o mesmo entrasse em contato telefônico com ele. É possível que por causa da minha presença, mas não tive nada… Eu ia só conduzido. Aí ele quis bancar o durão com o Ribamar, que deixou claro naquele momento que era uma ordem. ‘O senhor não publica nada’.

Não sei o que ele respondeu. Sei que o militar disse: ‘Então vou mandar buscá-lo’… Aí ele tremeu. A essa altura a coisa já tinha evoluído de tal forma que até o Jader já estava preso com o pessoal dele na Base Aérea.

[…] Soube que nessa noite o Sá Leal teria se desculpado. E as matérias não foram publicadas’.

Posta em letra de forma a versão de Laércio Barbalho, quem souber do conto que lhe acrescente um ponto. A história agradecerá.

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Sem acordo

A Y. Yamada, a maior rede de varejo do Norte do país, comemorou seus 57 anos com anúncios inseridos exclusivamente no grupo RBA, do deputado federal Jader Barbalho, e no SBT. Só no dia do aniversário, foram 200 mil reais de propaganda no Diário do Pará. Para todo mês se agosto a verba é de R$ 600 mil, parte dela também nos demais veículos de comunicação da corporação. As emissoras de rádio e a televisão do ex-governador anunciam as lojas Yamada o dia inteiro, inclusive com transmissão direta, ‘ao vivo’, da matriz e primeira unidade da corporação, na rua Manoel Barata.

Há quatro meses os Yamada nada veiculam no grupo Liberal. Suas vendas, ao contrário das expectativas, ao invés de cair, aumentaram. Os números do crescimento, entre 12% e 144% (para fogões de luxo), foram fornecidos por um dos diretores da rede ao jornalista Mauro Bonna, que os divulgou em sua página dominical no Diário, provocando um grande impacto no mercado.

A interpretação mais corrente é de que, como a iniciativa do rompimento entre os Yamada e o grupo Liberal foi de Romulo Maiorana Júnior, uma recomposição só será possível se o executivo das ORM voltar atrás e chamar seu anunciante para uma nova tentativa de entendimento. Se não fizer isso, continuará fora da mídia dos Yamada, que são os maiores anunciantes privados do Estado.

Por coincidência, voltou a circular o boato sobre o surgimento (ou a volta) de mais um jornal diário na cidade.

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Jornalista, editor do Jornal Pessoal, Belém, PA