Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A mídia alavancando campanhas

Desde os primórdios de qualquer processo que envolvesse votação que a política alagoana se mistura e até mesmo se confunde com outros processos fundamentais para a nossa sociedade. Grandes empresários sempre foram vistos como bons administradores e a utilização e aquisição de grupos midiáticos por políticos só fez reforçar essa dependência, numa conversão do antigo coronelismo exercido pelos donos de grandes propriedades territoriais à influência desempenhada num tão grande contingente de pessoas como o que os meios de comunicação atingem.

Basta olhar para os mais importantes grupos midiáticos locais para verificar essa interligação entre mídia e política: Arnon de Mello e Fernando Collor de Mello (Organizações Arnon de Mello), João Tenório (Pajuçara Sistema de Comunicação), Geraldo Sampaio (Grupo Sampaio de Comunicação), João Lyra (Grupo João Lyra), além de tantos outros que possuem várias rádios espalhadas no território alagoano.

Mas se esses têm a possibilidade de utilizar a ‘habilidade’ de manusear o conteúdo ao seu dispor quando necessário, há outros que, mesmo sendo meros profissionais do microfone, utilizam a imagem para conquistar admiradores e tentar o sucesso nas urnas.

Venda e troca de voto

Gente que é capaz de criar quadros ‘solidários’ para tentar uma aproximação forçada com a população e mostrar, do pior modo possível, os valores da política: que não vêm em propostas, mas sob a máscara do assistencialismo – o que nos faz pensar o quanto se ganha quando eleito para justificar tantos gastos pré-eleitorais.

Há também os que são capazes de largar os estúdios fresquinhos para suar em entrevistas em qualquer comunidade com a falta de alguns serviços públicos; os que mudam o alvo das críticas de acordo com as alterações de coligações partidárias; e até os que mesmo não sendo candidatos fazem a diferenciação nas críticas aos amigos e aos inimigos que estão em cargos eletivos.

Tudo bem, alguns foram os casos recentes de pessoas que tentaram enveredar no ramo, mas não se elegeram. Até mesmo porque numa política com grandes traços arcaicos como a praticada aqui em Alagoas, com vários elementos do início do processo democrático (venda e troca de votos, voto do cabresto…), nem muitos minutos de fama são capazes de assegurar vaga.

Objetivos eleitorais de sempre

Entretanto, é uma grande vantagem. Enquanto várias personalidades políticas tiveram que se desvencilhar no início de abril de cargos como os de prefeito, governador, secretários de governo e do município e de ministros, para não se utilizarem da máquina pública em favor próprio, os ‘profissionais do microfone’ têm mais alguns meses para aproveitar uma divulgação que tem um alcance bem maior do que a de qualquer cargo político. Além de terem exposição, mesmo sem cargo eletivo, por anos a fio.

Há ainda os que reclamam de ter de se afastar dos seus empregos por se tratar de um trabalho ‘normal’, uma fonte de renda. ‘Afinal, um advogado não é proibido de exercer a sua função se for candidato, certo?’ Certo, mas qual a possibilidade deste profissional fazer autopromoção num julgamento?

A legislação eleitoral tem várias lacunas, como a que permite a vastidão de adesivos de pré-candidatos por aí, e um dos pontos mais preocupantes é como tratar a utilização dos meios de comunicação. Se não conseguimos tirar a vantagem de quem usa a TV ou o rádio, quanto tempo teremos para assegurar um uso ‘saudável’ das mídias oriundas da internet?

Enquanto isso, continuaremos a ver os mesmos objetivos eleitorais, representados por diferentes caras, das respeitadas por causarem medo numa cidade no interior às de quem sempre aparece desejando seu bom-dia ou boa-tarde e se aproveitando das muitas falhas do serviço público.

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Estudante de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal de Alagoas), Maceió, AL