Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A mídia e a construção do caráter dos jovens

Atualmente, uma grande parcela da sociedade brasileira encontra-se desorientada. Pensando em termos de crianças e jovens adolescentes, grupos sócio-etários que requerem atenção especial por estarem em formação, constata-se que, de um lado, os pais buscam adaptar-se à mutação comportamental permanente, e de outro, os filhos tentam inserir-se nesta sociedade midiatizada, com valores fluidos e o império do consumo como elemento diferenciador e fundamental das relações sociais.

Não se pode negar que a tecnologia e seus recursos facilitam a vida de todos, proporcionando um maior contato com informações de todo o tipo, ainda que traga marcas das motivações econômico-sociais que levaram à sua criação e difusão, prioritariamente mercadológica. A internet, por exemplo, sabidamente é uma eficaz ferramenta de aprendizado e entretenimento, utilizada em larga escala por crianças e adolescentes, mas, ao mesmo tempo, pode servir de dispositivo a atos criminosos nas mãos de sujeitos mal intencionados, que passam a fazer do seu uso um facilitador para a concretização de seus interesses ilícitos.

A conformação social contemporânea, onde a mídia é uma parte estruturante, mas não exclusiva, os jovens não são efetivamente preparados para a vida num sentindo mais amplo e libertador, já que o modelo é o do consumo exacerbado, da falta de limites, do parecer acima do ser e da beleza e da juventude como traços de superioridade. A partir daí, a futilidade ganha maior espaço, enfraquecendo a fase de construção de caráter de crianças e adolescentes. Urge a definição de outros parâmetros e modelos de referência, para tal sendo preponderantes os papéis da comunicação e da educação, duas áreas cada vez mais imbricadas.

Políticas públicas e democráticas

Os jovens sentem-se um fragmento do mundo, com pensamentos e atitudes diferenciados. Isso se reflete também no Brasil, dentre outros fatores, a partir dos padrões estabelecidos (e reforçados) pela mídia. Isso se materializa em problemas como o bullying, um fenômeno constante nas escolas, em que alunos sofrem agressão pelos mais variados motivo, aparentemente banais. Um aparelho nos dentes, o jeito de andar, o peso, o cabelo ou a roupa podem ser motivos de agressão física ou moral.

Valores e atitudes adquiridos no lar são assimilados pelas crianças e reproduzidos dentro da sala de aula. Atitudes machistas, discussões sem motivos relevantes, discursos carregados de palavras de baixo calão, demonstrações públicas de ressentimentos e mágoas passam a influenciar diretamente as crianças. Proliferam situações emocionais equiparáveis a chantagens, relacionadas a amizades e gostos, passando por julgamentos (apressados) sobre a sexualidade. Essas e tantas outras situações que as crianças são submetidas durante seu desenvolvimento emocional e intelectual passam a privá-las de liberdade, condicionando-as.

Nesse cenário, os professores deixam de ser referência de educação, papel que passa a ser ocupado especialmente pela televisão, através de seus shows, imagens e produtos. Os estilos das celebridades, difundidos midiaticamente, tornam-se metas a serem seguidas pelos jovens. Isso reforça a premissa de que a escola deve ser mais do que um local para aprender conteúdos de disciplinas, constituindo-se como um lócus de aprendizagem para a vida, onde há lugar não só para diversão, respeitando as diferenças. A mídia deveria contribuir nesse processo, mas para isso são necessárias políticas verdadeiramente públicas e democráticas.

Uma articulação coletiva

O futuro do Brasil depende de jovens que choram por um vampiro, que não buscam informações sobre política e, por isso, votam no político que tem a melhor aparência, que usam o jornal apenas para ler as narrativas mais supérfluas, que julgam sem conhecer, que colocam a aparência em primeiro lugar, que se esquecem de refletir que o ser humano deve ser tratado como ser humano e que isso não acontece de acordo com as páginas policiais.

Mas o futuro do Brasil também está nas mãos de jovens que podem fazer muito e, dependendo da própria sociedade e sua mídia, podem constituir um grupo de dimensão verdadeiramente impactante. Jovens que ficam indignados com as injustiças, que buscam o crescimento social e pessoal (incluindo o profissional), que dispõem de uma sólida base familiar e a valorizam, que dão importância ao conhecimento, que buscam informações sobre política, que debatem e estão abertos a pesquisar e conhecer, com maturidade. Esses jovens podem mudar a situação do país, cada um fazendo a sua parte, numa articulação coletiva.

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Respectivamente, professor titular no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos e graduando em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda na mesma instituição