Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

‘A mídia virou uma questão de marketing’

Ele já escreveu livros, dirigiu jornais e revistas e fez programas de rádio e de TV. Mestre em jornalismo, é conhecido no Brasil e no exterior. Na bagagem, 51 anos de profissão. Há algum tempo, vem se dedicando a observar e criticar a mídia que é produzida no Brasil. Atualmente, está à frente do programa Observatório da Imprensa, veiculado pela TV Educativa do Rio de Janeiro para todo o país, desde maio de 1999.

Crítico agudo, Dines é categórico: ‘A mídia virou uma questão de marketing. E não se preocupa com a formação e o desenvolvimento das crianças. As crianças são tratadas como consumidores em potencial e não como cidadãos’.

Em entrevista ao site da 4ª CMMCA, Dines sugere que as salas de aulas sejam transformadas em pequenos ‘observatórios da imprensa’. Desta forma, acredita, será possível criar gerações mais críticas.

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Qual é a proposta do programa Observatório da Imprensa?

Alberto Dines – O Observatório da Imprensa é a versão televisiva do site (www.teste.observatoriodaimprensa.com.br) criado pelo Labjor – Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp – que pretende acompanhar o desempenho da mídia brasileira. É uma entidade civil, não-governamental, não-corporativa e não-partidária. O programa na TV completou, em maio de 2003, o seu quinto aniversário. Trata-se de um programa interativo e seu público é de formadores de opinião. Os telespectadores participam do debate, ao vivo, por telefone e fax. O público vota, pela internet, em uma pesquisa sobre o tema do programa. Além de reportagens, cada programa tem a participação de convidados nas principais capitais brasileiras. O programa conta ainda com a participação de estudantes de jornalismo de todo o Brasil, via internet, que fazem perguntas para os convidados. Atualmente,o programa é transmitido em rede para todo o Brasil.

Qual é a sua análise da mídia que é produzida para crianças e adolescentes?

A.D. – A mídia virou uma questão de marketing. Não há nenhuma preocupação com a formação e o desenvolvimento das crianças e dos adolescentes. A mídia vê as crianças como consumidores em potencial e não como cidadãos. É isto o que acontece na realidade. A qualidade é muito ruim mesmo.

Como reverter este quadro?

A.D. – É preciso investir na formação dos produtores, dos jornalistas, enfim de todos aqueles que fazem mídia. A formação é essencial. Ao mesmo tempo, acredito que as crianças e os adolescentes devem fazer parte deste processo, devem ser incluídos, não como seres passíveis, mas, sim, como atores ativos. Eles são e fazem parte da mídia, portanto devem fazer valer suas opiniões e ações. São audiências importantes e fundamentais. A família e a escola poderiam ajudar bastante. Um bom começo, talvez, seria que cada escola, cada sala de aula, se transformasse em um grande observatório da imprensa. Observatório que debatesse o uso e o conteúdo da mídia. Isto, com certeza, criaria uma geração de audiência responsável e crítica.

Qual é a importância da realização da 4ª Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Adolescentes ?

A.D. – Falamos muito sobre globalização, mas não sabemos aproveitar este mundo globalizado. Temos que aproveitar o que ele tem de mais positivo que é justamente a possibilidade de conhecer o outro. Nesta Era da Informação, temos que tirar proveito da informação e desta aproximação – quase que física – para o nosso próprio enriquecimento pessoal. Saber, por exemplo, que o adolescente chinês traz consigo cinco mil anos de cultura e tradição é extraordinário. Da mesma forma o árabe, o inglês ou o escandinavo. Temos que aproveitar as tecnologias de hoje para intercambiar todo este conhecimento. É preciso entender que somos uma fraternidade de pessoas iguais com características diferentes. E que a mídia pode e deve narrar a aventura de nossa espécie. A realização desta cúpula é oportuna e mais do que necessária.