Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A República em polvorosa

A República está em polvorosa, ministros do Supremo Tribunal Federal falam em crise entre os poderes, os meios políticos estão assanhados e a mídia afia as garras. Motivo: uma reportagem de Veja (nº 2076, de 3/9/2008) onde é reproduzida a gravação de uma conversa telefônica, rápida e rotineira, entre o presidente do STF, Gilmar Mendes e o senador oposicionista Demóstenes Torres (DEM-GO).


A importância da matéria está na revelação dos dois repórteres que a assinam onde afirmam que o grampo foi feito pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência), e o seu teor repassado à revista por um funcionário da mesma agência sob a condição de se manter anônimo. A conversa entre as duas autoridades realmente ocorreu, os interlocutores a confirmam, mas a grande crise está montada em cima de apenas três linhas de informação oferecidas pelos repórteres.


Traduzindo: um araponga da Abin fez a gravação, outro a transcreveu e repassou à revista. Não há indicação alguma de que o grampo teria sido ordenado pelo diretor da Abin ou alguma autoridade superior.


‘Crise institucional’


O caso é grave, mas recentemente houve outros piores e ninguém se ouriçou. O resto da reportagem compõe-se de avaliações, análises e impressões sobre um suposto ou talvez verdadeiro surto de grampos nas altas esferas do Estado.


A maior parte do texto da reportagem propriamente dita refere-se à eventual briga entre o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu e o atual ministro da Justiça, Tarso Genro, aparentemente desafetos.


A denúncia foi apresentada discretamente na capa da revista, esmagada por uma xaropada pseudo-psicológica a respeito de vinganças. Aparentemente os próprios editores não acreditaram que as informações publicadas acionariam o que no domingo (31/8) à noite estava sendo classificado nos blogs como ‘crise institucional’.


Como sempre acontece, a revista rodou na sexta à noite, mas antes disso os grandes jornais já recebiam o material para abrir trepidantes manchetes nas edições de sábado.


 


Leia também


A volta da arapongagem – Luciano Martins Costa