Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

A serviço de quem?

Não sei a serviço de quem, mas o esforço para desviar o foco das discussões após o atentado contra os jornais e as rádios de Marília é quase um novo crime contra a cidade. Na onda de transformar o caso em acusação contra as empresas – instituições privadas com direito à linha editorial que quiserem – meia dúzia de paladinos está esparramando um festival de bobagens na cidade, na internet ou ao vivo na televisão. Triste sair do foco do crime e do grupo político envolvido para perder-se nisso, mas vamos lá.


A linha do jornal sempre foi clara, aberta com os leitores. É uma empresa privada que adota sua linha e teve postura de ser parceira de prefeitos em início de mandato e em diversas questões. Há documentos sobre todos os mandatos para confirmar. Graças aos erros dos quadrilheiros, trabalho dos bombeiros e equipamentos da empresa, as edições sobreviveram para contar essa história.


Osvaldo Machado, com seu discurso parado na década de 70, está longe do puritanismo que prega. Não só é ex-assessor de Camarinha como foi contratado como funcionário-fantasma do Baneser. Ganhou do Baneser e nunca fez nenhum serviço para o Baneser. Trabalhava para Camarinha. E Camarinha já era rico e acusado de fraudes. Antes de iniciar o que conta como jornada para ‘viver do que escreve’ escrevia no Diário com bastante proximidade de Camarinha. Não foi por querer atacar Camarinha que ele deixou o jornal. Além do mais, faz muita política – todas as suas denúncias vão à Câmara e não viram ação judicial e muito menos condenação – e foi candidato a vereador na oposição a Camarinha. Óbvio que vai fazer esse discurso.


Propaganda pessoal


Não é só no Diário que ele não tem mais credibilidade para trabalhar. Ninguém, de qualquer linha editorial, contratou mais Osvaldo Machado. A solução é deixar o atentado e discutir quem foi mais ou menos envolvido em suspeitas. Pode-se no máximo admitir que é preciso investigar tudo e todos. Mas não se pode permitir que esse desvio e essas apurações apaguem o fato central do crime cometido, que se for abandonado pode se repetir e perpetuar uma prática inaceitável.


Justiça, leitor e a coletividade poderão julgar a mídia e os jornalistas da forma devida e necessária. Mas não se perca o centro do debate. O crime bárbaro contra o jornal e as rádios mostra que qualquer empresa está sujeita a novos atentados, a agressões semelhantes. Quer dizer que está válido atentado contra empresa cuja linha editorial não agrade aos jornalistas e à oposição? Daqui a pouco vai estar liberado explodir jornal da Fenaban, que só defende banqueiros e pagamento da dívida.


E depois, quem controla ou escolhe o jornal que pode ser empastelado? Pode-se cometer atentado contra jornais de sindicatos, entidades e ONGs, que são sempre publicações de um lado só, ainda que direcionados para a comunidade? Pura estupidez. Estão usando um caso grave para desviar a discussão e fazer ataques intestinais, fazer pose, fazer graça. Uma pena para a cidade e para o jornalismo.


É importante que a cidade tenha um jornal do porte e ainda maior que o Diário. Tendo o jornal, a cidade pode discutir liberdade da mídia, a democratização da imprensa. Essa campanha contra, esse desvio dos debates, essa palhaçada para fazer propaganda pessoal só desvia o foco desse debate. Ainda bem que a polícia, a Justiça e a coletividade não têm dado muito ouvido a essa gente.

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Diretor de jornalismo e marketing do jornal Diário de Marília, rádios Diário FM e Dirceu AM