Saturday, 11 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Abuso de autoridade

No dia 23, o agente da Polícia Federal Alessandro Oliveira matou um homem que praticava um assalto em frente ao colégio onde estuda seu filho e feriu o outro assaltante. No dia seguinte, ficou irritado ao ver uma equipe da TV Record no local para repercutir o fato da véspera. Estava no seu direito quando foi até a equipe e avisou-a de que não aceitaria ser filmado. O veto se estendia ao filho. Mas a partir daí abusou da autoridade e agiu sem a serenidade que sua função de policial lhe impõe.


Mesmo que os jornalistas não tivessem acatado o seu pedido e agido de forma eticamente incorreta, nada justificaria o que aconteceu em seguida. O policial foi para cima da equipe, quebrou parte do equipamento do cinegrafista Edílson Matos ao tentar extrair a fita, ameaçou a todos com seu revólver, algemou-os e os levou presos para a delegacia.


A repórter Célia Pinho, líder da equipe, que reconstituiu os fatos, estava abalada e indignada. ‘Em 20 anos de profissão, é a primeira vez que isso acontece comigo. É uma humilhação qualquer profissional sofrer uma arbitrariedade como essa’, disse. Segundo ela, no momento do incidente, os jornalistas não tiveram nem ocasião de ir além de defender-se e ao seu material de trabalho: ‘não houve nenhum tipo de desacato, e a pessoa só foi se identificar como policial quando já estávamos na delegacia’.


Lá, os profissionais ficaram incomunicáveis e uma outra equipe da emissora foi impedida de filmar no local. Célia, Edílson e Marcelo foram liberados depois de seis horas. Depois, fizeram exame de corpo de delito e registraram um boletim de ocorrência.


Direito alheio


O episódio, por ser muito grave, precisa ser apurado com rigor e receber o acompanhamento do Ministério Público e do Sindicato dos Jornalistas. Se comprovado o abuso de autoridade e a violência por parte do agente federal, a punição tem que servir de inibição à repetição desse tipo de prática, nociva tanto para a imprensa como para a imagem da corporação.


Se os acontecimentos da véspera abalaram a estabilidade do policial, era de prudência dar-lhe um descanso e retirá-lo da função. Aplicando o que aprendeu na sua formação, o agente poderia tentar outros meios para defender os seus legítimos direitos de cidadão, sem precisar agredir os direitos alheios, como fez.

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Jornalista, editor do Jornal Pessoal, Belém, PA