Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Assim somos nós…

Erotismo explícito, quase avacalhado, falta total de conteúdo dos participantes e exposição de valores morais e éticos completamente questionáveis; por tais razões, o Big Brother Brasil não é recomendado por profissionais da área psicológica, psicanalista e psiquiátrica para crianças e adolescentes.

Os telespectadores, ao invés de se servirem de ‘carne humana’ no conforto de suas casas, deveriam nutrir imensurável pesar na constatação que ali na casa está uma pequena amostra estatística do que se pode encontrar nas ruas, ou seja, indivíduos sem escrúpulos capazes de quaisquer atos por sua sobrevivência, mesmo quando esse conceito não signifique necessariamente continuar vivo, respirando.

Sobreviver, no BBB, não significa conquistar prêmios ou bens durante a estadia na casa com o intuito de bem aplicá-los ou de oferecer a entes queridos maiores confortos. A idéia do compartilhar se confronta diretamente com o grau de egoísmo que os participantes do programa carregam consigo, a ponto de não pensarem em pais, mães, irmãos e irmãs quando se expõem de forma violenta às câmeras, exibindo sua ‘carne’ aos telespectadores em troca de favores, ou seja, de votos que façam com que sua ganância por um milhão de reais e outros prêmios continue possível. Ironicamente, os próprios parentes, daqueles mais explícitos, costumam se iludir com as câmeras da emissora e as promessas de trabalhos futuros para seus entes. É a sociedade da ilusão, das promessas e da imagem, em detrimento do trabalho e dos valores morais e éticos.

Egoísmo, vaidade e desmoralização

Quanto ao mito da ignorância intelectual daqueles que assistem o BBB, com certeza é uma falácia dizer que eles tiram notas mais baixas ou têm os piores salários ou estudam em instituições de ensino menos prestigiadas. A inteligência não está associada ao fato de se assistir ou não ao programa, apesar de ser comprovado que o interesse por conteúdos educativos estimula a capacidade raciocínio dos indivíduos. Podemos, sim, falar em ignorância explícita com fortes indicativos de vazio moral e ético – mesmo sendo boa parte da audiência composta por jovens de classe média e alta. Qualquer visita a fóruns de internet sobre o Big Brother Brasil deixará quaisquer pais, psicólogos, psicanalistas e psiquiatras estarrecidos com o grau de violência nas palavras dos jovens, que fazem dos participantes réus condenados às piores avacalhações. E chegamos a outra questão importante: os erros dos outros adiam ou simplesmente atrofiam a nossa percepção quanto aos nossos problemas.

Assistir à fórmula saturada do BBB de mulheres peladas na piscina e no chuveiro faz com que os jovens adentrem a ilusão fantasiosa da sociedade midiática, na qual não basta ser ou namorar alguém, mas o importante é, sim, se relacionar com aquele ou aquela que tem aquilo que despertam nos outros interesse. Naqueles instantes do programa, mesmo aquela modelo do corpo escultural parece acessível a todos e por ela todos estão lutando; tanto os de fora como os de dentro. A televisão é um mundo que todos cobiçam e o mundo exterior, das experiências reais, algo distante, preterido pela conveniência da televisão e da internet. A sociedade vigiada atrofia as reflexões, os questionamentos e o livre-pensar em prol da mediocridade daquilo que pode se ver e parecer ser. O BBB é o caminho mais curto para o egoísmo, a vaidade e a desmoralização dos indivíduos.

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Jornalista, Salvador, BA