Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Atentado à liberdade das mulheres

Recebi, no dia 24 de maio, um comunicado da jornalista e diretora-geral do Cimac – Comunicación e Información de la Mujer A.C, Lucía Lagunes Huerta, denunciando mais um atentado contra a sede da organização, situada na Cidade do México. A entidade, que funciona há mais de 23 anos, vem sendo alvo de ataques violentos contra seu patrimônio sem que as autoridades do país tenham dado uma resposta aos crimes.

A última investida ocorreu no dia 20 de maio, quando, além do roubo de todos os equipamentos, também foram destruídos e extraviados arquivos e documentos do acervo do grupo. É importante registrar que o Cimac foi, por muitos anos, responsável pela divulgação mundial do feminicídio na cidade de Juárez e em todo o país. Além disso, a organização esteve vigilante contra as constantes agressões praticadas pelos militares contra as mulheres, além de apoiar a produção de uma cobertura de imprensa não sexista.

O Cimac contribui com a mudança social, com a democratização dos meios de comunicação e tenta influenciar as agendas nacionais e globais em favor dos direitos humanos e pela equidade social. Para tanto, articula uma rede de mais de dois mil profissionais de comunicação (homens e mulheres) em 29 dos 32 estados na nação e luta por melhores condições de trabalho para todos os/as integrantes da mídia mexicana. Dentre suas ações, também destacamos a denúncia pública de atentados à liberdade de expressão e a liberdade de imprensa no México.

Referência na defesa dos direitos humanos

Tive a oportunidade de conhecer as jornalistas que estão coordenando a instituição e visitar sua sede antes dos assaltos, em 2008. Presenciei o cotidiano de um trabalho que nasceu da organização de mulheres que atuavam na mídia comercial e sentiram a necessidade de investir na produção de um jornalismo com respeito à população feminina. Vale registrar que o Cimac foi, por maios de 15 anos, a única agência de notícias feminista em toda a América Latina (atualmente, contamos com o importante trabalho, aqui no Brasil, da Agência Patrícia Galvão, em São Paulo) e que tem seu trabalho reconhecido pela Unesco e ONU Mulheres.

Mais recentemente, em 2009, quando o movimento feminista brasileiro estava preparando suas militantes para a I Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), tive mais uma oportunidade de discutir o trabalho do Cimac com a jornalista Érica Cervantes. Ela participou do seminário “O Controle Social da Imagem da Mulher na Mídia”, realizado pela Rede Mulher e Mídia, em março daquele ano, em São Paulo. Na oportunidade, dialogamos, inclusive, acerca de possibilidades de cooperação para o fortalecimento da produção de notícias com equidade de gênero nas redações na América Latina.

Quando uma organização como o Cimac enfrenta essa situação, sem que a justiça e o Estado tomem uma posição consistente para que os crimes não caiam na impunidade, compreendemos como extremamente vulnerável a existência dos/as defensores/as dos direitos humanos das mulheres no mundo. Precisamos ser solidários/as com o momento que o grupo está enfrentando e não deixar que o descaso das autoridades permaneça no anonimato. Temos certeza de que os crimes praticados não irão calar as vozes de todas as mulheres que fizeram e fazem da entidade uma referência na defesa da liberdade de expressão e dos direitos humanos em todo o mundo.