Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Carta Capital

LIBÉRATION EM CRISE
Carta Capital

O capitalista e o jornalista

‘Mais uma lição para os jornalistas que chamam os patrões de colegas e os consideram parte da mesma turma. Em dificuldades, o diário francês Libération, fundado por Jean-Paul Sartre na década de 70, recorreu a Edouard de Rothschild, da centenária família de banqueiros, em janeiro de 2005. Rothschild injetou 20 milhões de euros no jornal, tornando-se o acionista majoritário, com 37% do controle do negócio.

A entrada do banqueiro no jornal, até hoje um reduto da esquerda francesa, foi apoiada por Serge July, o lendário diretor de redação do Libé. Pois, na terça-feira 13, Rothschild exigiu que July deixasse o cargo. Com a ameaça de que não aplicaria mais um centavo no negócio, caso fosse contrariado. O jornal vem apresentando prejuízo de 500 mil euros por mês e vendas em queda.

A derrocada do Libé não chega a ser um fato isolado na imprensa francesa. Outros dois jornais tradicionais, Le Figaro e Le Monde, foram obrigados nos últimos anos a recorrer a empresários da indústria bélica (Dassault e Lagardère, respectivamente) para sobreviver. Mas a saída de July é um marco, pelo que ele e o Libération simbolizaram nos últimos 30 anos. ‘Isso parece a morte de algo’, disse um colega de redação.’



TELEVISÃO
Nirlando Beirão

Hebe está uma gracinha

‘Silvio Santos, com sua vocação de torturador sorridente, adora brincar de esconde-esconde à custa de seus apresentadores. Você tem de ser um aficionado do SBT – e olha que sobraram poucos, pouquíssimos – para saber em que grade se esconde hoje o vociferante Ratinho ou em que horário enigmático foi parar a graciosa Galisteu.

Às vezes, nem eles próprios saibam dizer, surpreendidos que são, dia sim, dia não, por uma bateria de ordens e contra-ordens que não têm nada a ver com qualquer sintonia com o ibope, com eventual motivação comercial, nem com aquela intuição que fez de SS, no passado, um sábio da tevê. Não, hoje em dia Silvio Santos quer simplesmente, com espasmos de sádico, se deleitar com a falta de limite de seu próprio poder.

Mas eis que, num golpe do acaso, Hebe Camargo consegue voltar ao seu antigo ninho de afagos, carinhos e desaforos das segundas à noite. É uma graça vê-la de novo tão feliz e à vontade, presidindo a coreografia dos que freqüentam seu divã semanal, stars e starlets sempre induzidos, docemente, a reiterar as idéias daquela que é a mais legítima psicanalista do povo.

Hebe anda irritadíssima porque o governador Lembo fez uma dura acusação à ‘elite branca’. Sacudindo seus braceletes de brilhante, Hebe toma as dores e diz que é duro ser parte dessa vilipendiada categoria dos super-ricos insensíveis. Vocês não imaginam quanto custa hoje pagar o jardineiro. Referindo-se às mansões assustadas, diz: ‘Os prisioneiros, hoje, somos nós’. Os convidados, mesmo os que pertencem a outra tribo, constrangedoramente confirmam.

A maldade de Silvio Santos consistiu em exilar a fada madrinha para a sibéria dos sábados, a pretexto de desafiar a novela Belíssima, de Sílvio de Abreu, na noite em que a novela tem maior duração e audiência. SS, xiita brincalhão, como que escalava sua apresentadora-ícone que se implodiu no ar, em missão suicida.

O traquejo e a espontaneidade de Hebe, que tem de Tevê o que a Tevê tem de história no Brasil, não ocultaram a tristeza do exílio e o programa sofreu os solavancos do esquecimento. O ibope despencou. O retorno à velha casa reaqueceu a audiência, não a ponto de voltar aos dois dígitos dos tempos de fartura, mas a apresentadora-gracinha está, nas suas palavras, ‘transbordando de felicidade’. No calor da temporada futebolística, exibe um medalhão verde-amarelo e tece loas ao patriotismo, enquanto ataca o governo do ex-torneiro mecânico.

Encerrado em seu bunker solitário, SS deve estar preocupado. A energia e vitalidade com as quais Hebe Camargo turbina seu impecável profissionalismo são um contraste para o padrão SBT. O patrão gosta de ter por perto gente infeliz – como ele.’



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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo

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