Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Cenas de intolerância explícita

Sou jornalista e estava prestando serviços para a D&C Editora, de Recife, que publica as revistas Fácil Nordeste e Negócios S.A.. Uma vez que jamais assinaram carteira, não pagam seguro saúde, seguro viagem, nada para nenhum jornalista, só assim posso me referir: estava prestando serviços.


Tenho algo a dizer sobre a empresa que talvez não agrade muito, mas tenho que advertir. Fui agredida na empresa onde trabalhei sem carteira assinada, sem direito algum e prestando serviços por quatro anos. Fui cobrar R$ 80 de um trabalho que havia feito (de acordo com cálculo do Sindicato dos Jornalistas, deveria ser, no mínimo, R$ 240) e uma comissão que meu pai deveria ter recebido por ter conseguido um anúncio de uma empresa de helicópteros.


Esta cobrança do dinheiro de meu pai já estava sendo protelada havia dois meses, pois o anúncio saiu na edição março/abril da revista. Apenas R$ 180! O diretor comercial, Sérgio La Greca, irmão do diretor-presidente da revista, começou a gritar que eu já estava ‘enchendo com isso de querer o dinheiro’, que o anunciante só havia pago uma prestação do anúncio. Eu disse, então, que já que não havia dinheiro, mas houve trabalho, que ele me pagasse com algum objeto, como uma permuta.


Neste momento, o diretor começou a retirar celulares e calculadoras da mesa e eu perguntei se ele achava que eu iria pegar. Ele afirmou que eu ‘estava com cara de quem iria pegar algo, roubar’, a esta altura já aos gritos, indignado porque eu estava cobrando um direito. Saí da sala e fui à sala do irmão dele, o dono da revista (bati na porta antes de entrar, como manda a boa educação). Fiz a reclamação lá, ao que recebi como resposta, aos gritos: ‘Estou cheio dessa conversa. Não tenho nada a ver com isto’. Retruquei que teria, já que o anúncio foi publicado na revista, mas ele afirmou que era algo particular entre o diretor comercial e meu pai, acordo entre os dois.


Eu reafirmei que não estava tendo sucesso com isto. Neste momento ele disse que eu ‘baixasse meu tom de voz, porque eu estava falando de um jeito que não queria’, com o detalhe que eu estava sendo tratada aos gritos. Foi o que eu disse a ele – que estava falando normalmente, mas que começaria no mesmo tom que deles, os dois irmãos.


Vidro quebrado


Cobrei, então, os R$ 80 que Fernando La Greca me devia. Ele esbravejou que só daria em julho, como combinado. Coloquei que praticamente estávamos em julho e que havia um jogo do Brasil pelo meio do caminho e ficaria complicado para receber dinheiro. Então ele disse que pagaria ‘talvez só lá pelo dia 15 quando talvez a revista seja publicada’. Retruquei que queria o dinheiro naquela hora, já que fiz a tal matéria havia mais de um mês. Neste momento, ele colocou o dedo na minha cara e, junto com o irmão (ambos estão na faixa dos 45 a 50 anos, não são garotos) me agrediram moralmente, me chamando de ‘jornalistazinha medíocre, idiota, incompetente’, entre outras coisas.


Eu disse então que havia proposto que me pagassem com objetos. Fernando riu da minha cara e disse que não pagaria mais nada. Eu disse que ele não publicasse minha matéria, então. Ele riu e disse que eu fosse à m…, e que publicaria a matéria.


Neste momento desci as escadarias da revista, obviamente já nervosa pelo acontecido, e quando cheguei onde estava a telefonista eu disse: ‘Ok, me emprestem o fax e quando pagarem, devolvo’ – e o tirei da tomada. Fui então agarrada por Sérgio La Greca e contida por outros funcionários que temem perder seus empregos. Sai da empresa ouvindo os desaforos de Sérgio.


Assim que cheguei à rua eu disse que iria cobrar o dinheiro ainda. E ele me empurrou de modo que caí de costas, e ele ainda queria me bater, só tendo sido contido pelo fotógrafo e pelo motoqueiro da revista. Eu disse a ele: ‘Você me agrediu, vou à Delegacia da Mulher’. Ele disse: ‘Vá, que m… Você é uma m…’. E veio para o meu lado de novo, querendo me agredir.


Como tenho 30 cm a menos que ele, peguei uma pedra para me defender. Ele disse: ‘Jogue, sua m…’. Joguei para me defender e a pedra bateu no vidro do carro dele. Então ele disse: ‘Chame a polícia para prender essa bandida’. E eu respondi: ‘Acho bom que chame, porque tenho algo a dizer a eles’. Então saí de lá e fui me ‘refugiar’ (sim, de medo, porque não sei do que esse povo é capaz) em uma delegacia lá perto, que trata apenas de roubo de carros.


Boletim de ocorrência


Fui orientada a ir logo à Delegacia da Mulher. Chamei meu pai pelo telefone, já que estava com nervos em frangalhos (depois disso tudo, quem não ficaria?) e fui lá e prestei queixa contra os dois. Serão intimados e iremos nos encontrar na Delegacia no dia 5 de julho. Saindo de lá, fui ao Sindicato dos Jornalistas e prestei a mesma queixa. Serão investigados pelo Sindicato porque consta que não é a primeira reclamação que recebem da empresa.


Estou investigando tudo relacionado à D&C Editora. Sempre respeitei muito Fernando La Greca, dono da revista, mesmo quando ele me pagava com três meses de atraso.


Mas isto foi tudo o que aconteceu. E como não deu tempo de ir ao médico, só consegui dormir com analgésicos. São 6 e meia da manhã do dia 29 de junho e minhas costas ainda doem. Estou tomando todas as providências legais que me são de direito, nada fazendo fora da lei.


Contei o que houve para o máximo de colegas que conheço. Não posso permitir que outros passem o que passei, porém sei que sempre haverá quem aceite, uma vez que a necessidade é grande e as oportunidades para jornalistas são escassas. Mas o ditado ‘antes só do que mal acompanhado’ bem caberia aqui. Não me pagavam por serviços extras e me contentei com permutas que não serviam para pagar minhas contas.


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D&C Editora responde


As revistas Fácil Nordeste e Negócios S.A., publicadas pela D&C Editora, circulam ininterruptamente no mercado editorial da nossa região há onze anos e dois anos, respectivamente, e nunca se viram envolvidas num caso tão lamentável quanto este em que a jornalista Cláudia Giane diz ter sido agredida na nossa empresa. A verdade é que isto não ocorreu da forma como esta profissional denuncia. A referida jornalista esteve na sede da nossa empresa para tratar de assuntos particulares com um de nossos funcionários e, como não encontrou a solução imediata que exigia, transtornou-se e passou a tomar atitudes irracionais e incompatíveis como se espera de um profissional de imprensa. Assim, tumultuou o ambiente de trabalho e ameaçou denegrir nossa imagem institucional e pessoal, o que, efetivamente, vem fazendo.


Diante desses fatos e dentro do equilíbrio profissional que tem caracterizado nossa trajetória, já tomamos as medidas legais cabíveis para resguardar o nome da D&C Editora, da revista Fácil Nordeste, da Negócios S.A. e do nosso próprio nome, que ao longo de mais de uma década conseguimos, com muita luta, construir um histórico de conquistas no mercado editorial, empresarial e turístico do Nordeste.


Em resumo, lamentamos todo esse incidente e os danos que começam a ser causados à nossa imagem institucional e pessoal e reafirmamos nossa fé na Justiça e na mídia responsável, como meios reparadores de todo esse transtorno.


Atenciosamente, Fernando La Greca, Diretor-Presidente

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Jornalista, Recife (PE)