Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Censura togada

O juiz Nelson Marques da Silva, do Juizado Especial de Alfenas, MG, baixou liminar proibindo Frederico Mendonça de Oliveira, jornalista, músico e escritor, a se pronunciar na tribuna da Câmara dos Vereadores daquela cidade, ocasião em que denunciaria obra
público-privada irregular de responsabilidade de outro juiz, Paulo Cássio Moreira, e que teria desrespeitado todas as normas relativas a obras públicas contidas na Lei Orgânica do Município. Por ter denunciado ilícito público e abuso de autoridade por parte deste juiz, Frederico está sendo processado em queixa-crime e indenizatória por danos morais.

Perseguido por adeptos da ‘obra’, Frederico sofre há um ano hostilidades e constrangimentos na porta de sua casa, e inutilmente tentava fazer BOs, quado resolveu denunciar o fato à imprensa.

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O caso Isabella mostra que as provas técnicas precisam ser cada vez mais consistentes e definitivas para superar as mentiras. Não basta ter indícios, gravações de áudio, de vídeo e testemunhos diretos. É necessário levar o criminoso a confessar e esclarecer pessoalmente o ato cometido. Temos observado que os acusados se esmeram em desmentir a acusação, se especializam em mentir olhando firme para o inquiridor, às vezes lavado em lágrimas, sofrimento e emoção. A melhor escola é a freqüentada pelos políticos.

Lembro de Bill Clinton negar que não teve relação sexual com Mônica Lewinsky. Internamente estava convencido de que falava a verdade, visto que houve ‘apenas’ felação. Muitos escândalos denunciados por áudios e vídeos também não deram em nada, para a alegria dos envolvidos. Sempre há o recurso de que são provas obtidas de forma ilegal, a gravação é de má qualidade, houve montagem, está fora do contexto, etc. Mesmo com o uso de câmeras em lugares públicos, que muito auxiliam as investigações, noto que a cada melhoria nas gravações de som, imagem e de novas tecnologias bioquímicas e genéticas, há também maior especialização dos acusados e dos advogados de defesa em desqualificar as provas e apontar falhas no processo. É importante lembrar que mentir ou tentar enganar é crime! Esquecido ou aceito sem maiores cobranças, é chamado juridicamente de falsidade ideológica. (José Renato M. de Almeida, engenheiro mecânico, Salvador, BA)

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Alguma coisa está fora da ordem… Os negros, os marginalizados e os depositados em ‘aldeias’, nas periferias. A injustiça ainda não espanta os meios de transmissão. A ausência total de compaixão é suplantada pela imponência do mais forte. Negro, gay, lésbica, transgênero não dar em outra, é infrator.

Paira, no mundo midiático, um clima de intolerância que informa através de uma disfunção narcotizante. Um silêncio perturbador que altera o sistema nervoso central daqueles que vivencia as mazelas. Noventa por cento da população brasileira sabe que a pequena Isabella foi jogada de um prédio, mas quantos por cento sabe que a Tropa de Elite, o BOPE, assassinou onze pessoas, entre elas uma senhora de 70 anos, em apenas uma operação no mês de abril, na comunidade Cidade de Deus, Rio de Janeiro? Quantos por cento ouviram falar do jovem assassinado por um policial após se negar a parar em uma blitz? Em Juazeiro (BA), toda semana surgem vítimas da violência e a mesma versão: ‘Vítima assassinada à tiros por dois homens em uma moto. Não há pistas dos assassinos…’

É preciso jornalismo. Jornalista não é salvador da pátria, nem a profissão existe para revolucionar. Porém, é necessário estimular a crítica, estimular consciências. (Cecílio Bastos, estudante de Jornalismo, Juazeiro, BA)

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Em 22/4, senti o tremor de terra em São Paulo. Paredes e chão estremeceram, idem os móveis. Ao descer do sexto andar para saber informações, não consegui descobrir o que se passava. Ao voltar ao meu apartamento, encontrei uma vizinha, anunciando que a TV noticiou um tremor de terra!

Liguei a televisão e apenas a Rede TV! informava o acontecido. Infelizmente, durou pouco, já que o assunto voltou a ocupar o centro das atenções. Foi aí que lembrei de ligar o rádio, mas aí também havia poucas notícias a respeito do terremoto. E, quando havia, mudava-se de imediato para o assunto da garota arremessada pela janela. Nem pensei em internet, pois estava bastante assustada; a mesa do computador balançava. Talvez, se algum prédio tivesse desabado em São Paulo, quem sabe o caso da família Nardoni fosse esquecido por alguns instantes…

Quero dizer com isso que, quando precisamos de informações sobre algo que diga respeito à vida de todos nós – e uma coisa gravíssima, como um tremor de terra –, não encontramos facilmente. Ou seja, o show Isabella, criado e alimentado insuportavelmente pela mídia, é mais importante do que um serviço de utilidade pública!

A mídia, tristemente, ignora que outras pessoas nesse país não estão interessadas em todos os temas escabrosos, eleitos para ocuparem os noticiários da vez. Não importa se outras crianças e mulheres sejam espancadas, assassinadas, estupradas, cortadas em pedacinhos, todos os dias, em todos os recantos desse Brasil. (Emily Cardoso, jornalista, São Paulo, SP)

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Voltaire já dizia que podia não concordar com uma palavra do que o outro dissesse, mas que defenderia até a morte o direito desse outro dizer o que quisesse. Estamos sutilmente substituindo a democracia pelo arbítrio. Se o professor baiano Antonio Dantas ousou dizer que o povo baiano (ou os estudantes da faculdade de medicina) têm o QI baixo, no mínimo ele está exercendo seu direito de manifestar livremente uma opinião pessoal que, certamente, deve ter sido fundada em alguma situação empírica. Quem tem que se defender, caso tenha se sentido ofendido, é aquele que se sentiu diretamente atingido, como pessoa, pela afirmação do professor.

O professor tem o direito de dizer o que quer, o que pensa. Os alunos têm o direito de se defender, no caso, de provar o contrário: que têm QI elevado. Dispensem o professor de seu cargo de coordenador, tudo bem, façam novamente as provas em que foram reprovados e provem que o professor esteve errado em suas conclusões. Agora, vir o Ministério Público Federal processar o professor por racismo, preconceito e etc. é puro arbítrio, intimidação e controle social absoluto. Para que espécie de tempo passado na história estamos regredindo? Depois, ouço e vejo um pretenso comentarista político de um canal de TV, durante o noticiário noturno (José Neumanne Pinto, no Jornal do SBT, 1/5, à noite), chamar o professor Dantas de ‘energúmeno’. E fica por isso mesmo?

Um diz que estudantes baianos têm QI baixo; outro diz que quem disse aquilo é um energúmeno. País civilizado, este. A conclusão a que o arguto comentarista chegou é a de que se os alunos são energúmenos é porque são coordenados por outro energúmeno. Então, como vivemos em um país de analfabetos funcionais e banguelas, posso dizer o mesmo de nossos ministros da educação, da cultura e da saúde. Pois deixemos que os energúmenos se entendam. O professor teve coragem de expor em público suas opiniões pessoais. Permitamos que aqueles que vestiram a carapuça se defendam e provem o contrário. Direitos iguais. Isto é mais democrático do que o Estado mostrar aos cidadãos que se abrirem a boca contra o regime sofrerão lavagem cerebral. E pior: dizer que o Olodum é uma banda de música, é ofender todas as bandinhas de coreto do mundo inteiro. Pra começar. (Nereu A.T.G. Peplow, advogado, Curitiba, PR)

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Estou deveras impressionado com o ‘ódio’ que o povo devota à ex-prefeita e atual ministra Marta Suplicy. De acordo com todos os blogs do PIG, ela foi estrondosamente vaiada no ato organizado pela Força Sindical. Fiquei a me perguntar: Gilberto Kassab, José Serra, Aécio Neves e Geraldo Alckmin não participaram de nenhuma manifestação do Primeiro de Maio? E, se foram, foram aplaudidos, vaiados, ignorados? Esse registro a mídia se esquece de fazer. Por quê? Já sei: não havia repórter acompanhando nenhum dos três. Mas exatamente porque os donos de jornais e editores jamais deixariam de escalar alguém para acompanhar tais personalidades. Ah!, então foi porque os repórteres são surdos, eles não conseguem ouvir apupos dos candidatos de seus patrões? Mas isso também é uma injustiça com os repórteres, nem todos são surdos, nem todos são ‘colonistas’. A maioria, quero crer, é formada por profissionais sérios que registram fielmente o que vêem e ouvem. Como terá sido a recepção nestes atos a Kassab, Serra, Alckmin e Aécio? Como não pude ir a manifestação alguma do Primeiro de Maio em São Paulo, alguém poderia me contar como eles foram recebidos? Preciso dessa informação que a imprensa me sonegou. (Luiz Hespanha, jornalista, São Paulo, SP)

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O Observatório da Imprensa não menciona mais o seqüestro de Ingrid Betancourt. Indubitavelmente, seria justo libertá-la o mais rápido possível. Seria um excelente assunto para o Observatório. É realmente uma crueldade manter uma senhora indefesa presa do modo como está. Não existe justificativa. (José Esteves Rabello, engenheiro, São José dos Campos, SP)

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Com tantos erros e omissões graves que acontecem na imprensa, vocês vão achar uma bobagem o que tenho pra dizer, mas acredito que em todos os campos da informação – por mais desimportantes que pareçam – é preciso ter seriedade. Estava vendo com minha sobrinha a revista Capricho de abril, seção Moda, sobre estilistas revelação e fiquei interessada em saber mais porque gosto muito de moda. Mas na hora que fui à páginas do Orkut da jornalista que assinou a matéria, Marcela Falcão, minha surpresa: os estilistas que ela elogia e que mostra como revelação são todos seus amigos! Nas fotos ela está de beijos e abraços com muitos deles. Quer dizer, não tem pesquisa nenhuma, só propaganda de graça aos amigos do peito. Isso pode? Para os amigos tudo. E como o leitor vai acreditar na informação? (Kátia Santorelli, estudante universitária, São Paulo, SP)

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Gostaria de sugerir um tema para debates, o qual passou despercebido pela imprensa em geral (não sei se propositalmente, mas até que daria um ótimo objeto do debate), sobre o parecer da Secretaria de Direito Econômico (SDE), quanto ao contrato de exclusividade da Rede Globo com o Clube dos 13 para a transmissão do Campeonato Brasileiro, desde a década de 1990, no qual existe uma clara manifestação de preferência para a emissora quanto à renovação, em detrimento da livre concorrência e da depreciação das outras emissoras de televisão. Ante a esse tema, o Atlético Paranaense propôs a cobrança pelos direitos de transmissão por vias radiofônicas e teve sua pretensão negada pela justiça paranaense, com o argumento de que haveria prejuízos econômicos para as emissoras de rádiofusão.

Seria interessante que fosse estabelecido um debate sobre várias questões surgidas desses conflitos, ou sejam: 1) contrato de exclusividade; 2) interesse da concorrência; 3) inviabilidade de outras emissoras interessarem-se em pleitear o direito de concorrerem como interessadas, uma vez que o contrato exclui essa possibilidade; 4) a iniciativa inédita do Atlético Paranaense, aqui no Brasil, mas muito comum na Europa, e a decisão da SDE; 5) o parecer em si da SDE. (Daniel Scarpille, advogado, São Paulo, SP)

Nota do OI: Ver, neste Observatório, ‘A comercialização de direitos esportivos

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Gostaria de saber a opinião de vocês, e até ser levado a debate sobre os absurdos jornais populares. Aqui em Campinas circula o Noticias Já. Custa 50 centavos, mas vem recheado de clichês suburbanos que nada acrescentam ao cidadão, manchetes cheias de bordões e gírias populares, e muitos erros de português. Não existem órgãos que
impeçam estas barbaridades contra o bom senso do cidadão? É possível entrar no Ministério Público contra isso? Seria um bom tema para o Observatório. (Antonio Gomes da Silva, técnico de enfermagem, Campinas, SP)

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Efetuei algumas buscas sobre a notícia divulgada pelo portal iG do escândalo envolvendo o jogador de futebol Ronaldo ‘o Fenômeno’ e o travesti André Luis Ribeiro Albertino e, como era de se esperar, não encontrei nada de mais profundo. Com exceção aos destemidos e determinados ‘Vesgo’ e ‘Silvio’ do programa Pânico na TV, que convidaram o travesti para seu programa e acabaram tendo um prejuízo por ele teve um surto e quebrou algumas coisas na TV.

Lamento que não tenhamos tido até o momento a atitude profissional dos jornalistas chamados investigativos de se aprofundarem nesse caso que certamente iria causar o esgotamento dos jornais e picos extraordinários de audiência.

Onde estão os atentos e éticos jornalistas? Onde estão os informantes da população? Onde estão os veículos que irão providenciar horários extras para informar a população do andamento do caso?

Lamentável, mas a realidade se encarregou de providenciar os comparativos de que são todos ridículos e o povo continua acreditando, sendo manobrado e guiado ao bel-prazer de poucos… (Walter Osvaldo Webski Regis, Ponta Grossa, PR)

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Jornalista, Alfenas, MG