Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Co-fundador do Facebook compra revista política americana

 

Chris Hughes, co-fundador do Facebook, é o novo dono da revista americana The New Republic. Fundada em 1914, a revista publica artigos sobre política e arte e ajudou a definir o liberalismo moderno nos EUA. Os detalhes da compra não foram divulgados.

Hughes, de 28 anos, será publisher e editor-chefe da revista. Richard Just continuará como editor. E Martin Peretz, que atuou como editor-chefe de 1975 a 2010, quando foi nomeado “editor-chefe emérito”, se tornará membro do conselho da New Republic.

Hughes afirmou que foi motivado por um interesse no futuro do jornalismo de qualidade, com artigos longos e análises aprofundadas. Para ele, este tipo de jornalismo se encaixa perfeitamente no formato dos tablets. Ele afirmou que não tem a intenção de acabar com a revista impressa, mas que seu foco será justamente investir nas plataformas digitais móveis. E prevê: daqui a cinco ou 10 anos, grande parte dos leitores da New Republic lerá a revista em tablets.

Mudança de ares

Para Just, que continuará a comandar diretamente a parte editorial, a mudança de liderança representa uma oportunidade de contratação de mais jornalistas – hoje, são 29 profissionais na redação. “Faz muito tempo” que a equipe não cresce, diz o editor. Mas a influência da New Republic nunca dependeu de uma redação grande, nem foi prejudicada por sua pequena circulação (cerca de 50 mil exemplares). A revista foi fundada pelo jornalista político Walter Lippmann e já teve como colaboradores os escritores George Orwell, Virginia Wolff e Philip Roth – além de presidentes, como John F. Kennedy, como leitores.

Sob a liderança de Peretz, a revista apoiou apaixonadamente Israel e recebeu muitas críticas por sua defesa da guerra – em 2003, chegaram a ser publicados editoriais de apoio à guerra do Iraque, motivo de arrependimento posterior. Nos últimos anos, a revista passou da publicação semanal para quinzenal e teve suas páginas remodeladas em busca de um design mais moderno. Também investiu em uma estratégia de cobrança online pelo acesso a parte de seu conteúdo, e na criação de um aplicativo para iPad.

Missão jornalística

Hoje, a New Republic pertence a um consórcio liderado pelo banqueiro de mídia Laurence Grafstein. O grupo de investidores se uniu a Peretz em 2009 para comprar a revista de volta da editora canadense CanWest Global Communications. Há alguns meses, surgiu a ideia de vendê-la – pessoas envolvidas no processo dizem que o objetivo do consórcio era encontrar um parceiro que ajudasse a investir na transformação digital e no desenvolvimento de uma estratégia forte voltada para as redes sociais e os aplicativos móveis.

Entre os interessados estavam Jared Kushner, dono do New York Observer; a Thomson Reuters; o Yahoo! e a Bloomberg. Hughes, que dividia o dormitório com Mark Zuckerberg em Harvard e era responsável pela parte de relações públicas do Facebook, deixou a rede social em 2007 e coordenou a atuação online da campanha presidencial de Barack Obama em 2008. Ele também fundou o site Jumo, uma espécie de rede social que liga organizações e pessoas interessadas em participar de projetos de caridade.

Em janeiro, o Huffington Post noticiou o interesse de Hughes na compra da New Republic. Perguntado sobre como pretende trazer lucro para a revista, ele respondeu que “o lucro em si” não é sua motivação. “O motivo pelo qual estou me envolvendo é que acredito no tipo de jornalismo vigoroso que nós – nós em geral, como sociedade – precisamos”, afirmou. Ainda assim, o empresário espera, claro, que a revista tenha lucro. “Mas estou investindo e tomando o controla da New Republic por causa de minha crença em sua missão, e não para torná-la o próximo Facebook”, completou. Informações de Brian Stelter e Michael J. De La Merced [The New York Times, 9/3/12].