Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Cobertura zero na mídia brasileira

É muito interessante constatar a que interesses serve a imprensa comercial brasileira. A saída de quatro juízes corruptos da Suprema Corte do país vizinho, Argentina, teve cobertura zero na televisão e nos jornais do Brasil.

Trata-se de fato de importância transcendental, nunca antes registrado em qualquer país do mundo. A ‘caixa preta’ da Justiça, que alguns dizem querer abrir, na terra de Prata não somente foi aberta, mas seu lixo removido.

Não se viu uma linha, uma reportagem sequer, na mídia que supostamente informa a população brasileira. Informa? Deforma.

Quando a movimentação popular – o panelaço – depôs o presidente De la Rúa em 2001, aqui mostraram os saques a supermercados, que foram ocasionais, e de qualquer forma irrelevantes diante do fato de que, pela primeira vez na história do país amigo, a máxima autoridade do poder político era posta na rua pela força do povo.

Naquela oportunidade, houve espaço para mostrar essa distorção informativa em órgãos como o Observatório da Imprensa, a Revista de Cultura Vozes, a revista Conceitos, da Associação dos Docentes da Universidade Federal da Paraíba (ADUFPB-JP), a Agência de Informações Frei Tito para América Latina (Adital) e o jornal ibero-americano La Insígnia.

Quando começou no país vizinho o processo de escracho aos políticos corruptos – quase uma redundância – apenas umas linhas apareceram na seção de leitores da revista Caros Amigos. Esse processo, que inclui genocidas liberados pela Corte Suprema de Justiça de qualquer culpabilidade pelos delitos de lesa-humanidade cometidos durante a ditadura, conseguiu na prática o que a justiça corrupta negava: castigo aos culpados.

O alarme do apaniguado

Não podem morar em qualquer lugar, pois que localizados pelos sobreviventes, são denunciados pelo que fizeram, e postas no domínio do público as barbaridades que cometeram contra seu próprio povo, contra a humanidade. Nenhum vizinho quer morar ao lado de gente assim. São obrigados a se demitir de seus empregos, quando os movimentos de direitos humanos dão a conhecer o curriculum dos açougueiros.

E a imprensa brasileira cala. Distorce, deforma. Já enche a boca quando quer mostrar que ‘A Argentina está falida’, que ‘a Argentina dá calote no FMI’. Um país deve pagar o que deve, não o que querem lhe fazer pagar. A dívida externa argentina inclui débitos privados assumidos como públicos pelos governantes depostos pela população em 2001. O narcopresidente Menem e seu cupincha Cavalo voltam a ser chamados a depor.

A nova Corte Suprema de Justiça os convoca para prestarem contas, dentre outras coisas, por contrabando de armas. É uma perseguição, alega o ex-mandatário. Não há dúvida. Persegue-se a moralidade que a ditadura e a corrupção gravemente violentaram. Não haverá ‘grande imprensa’ de lá ou de cá que possa inverter essa marcha.

E um sinal extremamente favorável desse caminho argentino à justiça é o alarme de um dos maiores apoiadores do genocídio: Mariano Grondona. Editorialista de um dos maiores jornais de Buenos Aires, La Nación, lançou no domingo suspeitas de ‘inidoneidade’ sobre alguns dos novos integrantes da nova Corte de Justiça na Argentina. Em seu pânico, o apaniguado dos traidores fardados que apontaram as armas contra a população que deviam defender, evidencia o rumo certo. Não importa o silêncio da imprensa venal.

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Poeta