Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Comunique-se

ELEIÇÕES 2006
Tiago Cordeiro

Globo X Band: 1º round, 31/07/06

‘A guerra das Eleições 2006 já começou. Essa afirmação nada tem a ver com os candidatos e sim com as emissoras. Nesta segunda-feira (31/07), a Band publicou um anúncio de página dupla nos jornais Estadão e Folha de S. Paulo respondendo ao anúncio ‘Eu Prometo’ da TV Globo. O título do texto publicitário ‘Eles prometem. A Band cumpre’ coloca uma série de fatos da política nacional que, segundo a Band, teriam sido omitidos pela concorrente.

‘Duro é promessa de quem nem candidato é (…) Para chegar lá, não basta ônibus ou barco. A viagem pela história é bem mais complexa’, afirma o anúncio da Band. Depois são lembradas situações como o escândalo do Proconsult (‘A Band denuncia o Proconsult no Rio. Eles silenciam’), o comício das ‘Diretas Já’ (‘A Band cobre os comícios das Diretas Já. Eles silenciam’) e a cobertura da CPI do governo Collor (‘A Band entra desde o primeiro momento na cobertura ao vivo da CPI do governo Collor. Eles só aparecem depois’).

Ao lembrar ter feito o primeiro debate na TV Brasileira entre os candidatos, a Band afirma que a Rede Globo ‘manipulou a edição do debate’. Ao fim do texto, a emissora questiona a cobertura da Globo para este ano: ‘2006 – A Band vai fazer a cobertura mais precisa e imparcial da TV brasileira. E eles? Será que mudaram?’.

Nas últimas semanas, a Rede Globo tem anunciado que fará ‘a maior cobertura jornalística que uma eleição já teve no Brasil’ com ‘isenção, transparência e compromisso com a verdade’. Na semana passada, a emissora divulgou o motorhome, uma redação móvel que percorreria as cidades do País. Curiosamente, Adherbal Fortes de Sá Jr, diretor-geral da TV Bandeirantes em Curitiba (PR), ao participar do ‘Papo na Redação’ no Comunique-se, comentou a respeito: ‘ Acredito no ônibus (…). Vale para mostrar o que está acontecendo no Brasil profundo – creio que é essa a intenção da Globo. E vale também como uma lição de tecnologia para todos nós.’

A assessora de imprensa da Band resume o objetivo da emissora. ‘O anúncio é auto-explicativo. Determinados fatos históricos precisam ser colocados na sua devida perspectiva’. A emissora não quis comentar sobre um possível processo da Rede Globo como resposta.

A TV Globo deve divulgar um comunicado sobre o episódio ainda hoje – a resposta ainda não tinha se tornado pública até o fechamento deste texto. A campanha dos candidatos começa no dia 15/08.’



FENAJ DERROTADA
Tiago Cordeiro

PL: Depois do veto…, 28/07/06

‘A Associação Nacional de Jornais (ANJ) anunciou em seu site que participará do grupo de trabalho que irá discutir propostas para a regularização da profissão de jornalista. A idéia do grupo foi firmada em reunião na quarta-feira (26/07) com o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, poucas horas antes do veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Projeto de Lei nº 79, de 2004. O grupo contará com cinco representantes de empresas, do governo e dos jornalistas, com a coordenação do Ministério.

A ANJ posicionou-se contra o PL desde sua aprovação no Senado, no dia 04/07. Fernando Martins, diretor-executivo da ANJ, foi procurado para falar sobre o posicionamento da entidade e, através de seu assessor, comunicou não querer falar a respeito. Representantes da Aner (revistas), Abert (televisão) e Fitert (Federação Interestadual de Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão) foram procurados para falar a respeito, mas não foram encontrados. Contudo, a assessoria da Abert confirmou que a entidade também participará do grupo e está escolhendo seu representante. Todas as entidades eram contra o Projeto de Lei.

O Conselho Federal de Relações Públicas (Conferp) não participou da reunião com o ministro do Trabalho e nem deve fazer parte do grupo. A entidade também era contra o PL e alega que alguns assessores de imprensa invadem a área de trabalho dos Relações Públicas. Segundo João Alberto Ianhez, o Conferp não foi convidado a fazer parte do grupo por culpa da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), autora do projeto.

‘Acho que há um receio de se colocar o Conferp pela simples razão que nós sabemos como é a regulamentação da profissão de jornalistas nos países democráticos. Isso vai atrapalhar todo o objetivo da Fenaj’, afirmou Ianhez. Ele também negou que o Coselho esteja apoiando entidades como a ANJ. ‘Estamos combatendo esse PL há três anos e meio, essas entidades vieram depois. Tivemos contato com elas apenas quando o projeto foi encaminhado para sanção presidencial. Não é de hoje que isso tramita’, revela o presidente do Conferp. Ianhez destaca ainda que as justificativas no veto presidencial são exatamente as mesmas que a entidade apontava contra o PL.

O presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Maurício Azêdo, não confirmou participação no grupo. ‘Se a ABI for convidada, participa. Caso contrário, não irá interferir’. Azêdo se posicionou contra o fim da obrigatoriedade do diploma de jornalismo. ‘Achamos inadmissível se dar um passo atrás com a eliminação do diploma para o exercício da profissão. Evidente que há funções que não precisam do diploma’, afirmou. A ABI também foi contra o PL.

O Comunique-se procurou também o deputado Pastor Amarildo (PSC-TO), que não foi encontrado. Durante a semana, o deputado afirmou que nunca recebeu o apoio da Fenaj. Sérgio Murillo, presidente da Federação, em entrevista à Central de Radiojornalismo, negou duramente as afirmações do político.’

Milton Coelho da Graça

É chato dizer, mas eu não disse?, 28/07/06

‘Lá vai a Fenaj diretamente para o inferno reservado pelo poeta Dante aos bem-intencionados porém incapazes e irrealistas.

O parecer do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, não deixou margem ao presidente Lula nem para emendas-remendos ao projeto resultante de um cambalacho de nossa maior entidade com um pastor-deputado boboca. Os fundamentos do parecer coincidem em gênero, grau e número com a sentença proferida pela juíza paulista Carla Rister. Ou seja, quando o Supremo Tribunal Federal decidir em termos finais sobre a constitucionalidade da obrigatoriedade do diploma, certamente também levará em conta a opinião do Poder Executivo.

A pelegagem, inspirada pelo modelo fascista da Carta del Lavoro de Mussolini, não sobrevive num modelo democrático de governo, mesmo que eventualmente ele assuma características populistas-paternalistas e seja distribuidor da grana do Imposto Sindical.

O diploma deveria ser defendido através de acordos diretos com as entidades patronais, tão interessados como nós na qualidade profissional e isso pode ser facilmente comprovado pelas seleções regularmente feitas por Folha, Abril, Globo etc. E/ou por um exame obrigatório ao estilo do exame da Ordem dos Advogados, que acabaria com as faculdades-fábricas de diplomas.

Do jeito que está, os dois a três mil empregos de assessores nos três poderes da República não seriam distribuídos como favores de juízes, deputados ou ministros, mas levando em conta basicamente o critério de uma boa formação acadêmica.

A Fenaj, com uma obsessão corporativista acima de qualquer compromisso com o avanço da profissão e do País, vai carregar o estigma de uma derrota fragorosa, infligida pela Constituição e paradoxalmente pelas mãos do próprio presidente Lula, a quem tanto procuram adular.’

Comunique-se

Lula veta PL integralmente, 26/07/06

‘Segundo a assessoria de imprensa da Casa Civil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou integralmente hoje (26/07) o Projeto de Lei nº 79, de 2004. O PL ampliava as atribuições para jornalistas e tornava obrigatório o diploma para profissionais como repórteres fotográficos e cinematográficos, diagramadores, ilustradores, etc.

Em reunião hoje à tarde, com o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, o governo federal decidiu criar um grupo de trabalho, formado por representantes de empresas, trabalhadores e governo, para discutir uma nova regulamentação para a profissão de jornalista. O ministro tentou que a Fenaj, ANJ (jornais), Aner (revistas), Abert (televisão) e Fitert (Federação Interestadual de Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão), chegassem a um acordo a respeito do PL. O presidente da Fenaj, Sérgio Murillo, afirmou que a Federação fez várias concessões, mas as demais entidades se mostraram irredutíveis. ‘Chegamos a manter as atuais funções, incluindo apenas a de assessor de imprensa, mas as outras entidades nem isso aceitaram’, conta.

O grupo de trabalho criado pelo governo, com cinco representantes de cada lado, começa a trabalhar em agosto e terá 90 dias para chegar a uma conclusão. Nas últimas semanas, instituições sindicais e jornalistas debateram ativamente a questão. Na discussão da ampliação das funções jornalísticas, até mesmo a obrigatoriedade do diploma foi contestada.

Na noite do dia 04/07, o projeto foi aprovado no Senado Federal e encaminhado para a sanção presidencial. A proposta foi elaborada pela Fenaj e apresentada pelo Pastor Amarildo (PSB-TO). O projeto original era de autoria da deputada Cristina Tavares (PMDB/PE) em 1989.

Dias depois, o jornal O Globo publicou uma matéria em que diversos senadores solicitavam mais tempo para avaliar o projeto. Alguns já se posicionavam contra não apenas o projeto, mas também a própria obrigatoriedade do diploma. Na mesma época, o Estado e S. Paulo, Fenaj e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo (SJPSP) trocaram acusações e ofensas por meio de notas e editorias. A Fenaj também atacou O Globo por meio de nota divulgada. ‘Essa é a democracia das empresas. É um belo exemplo de anti-jornalismo, de manipulação de informação e hipocrisia patronal’, protestou Murillo na ocasião, lembrando que, na edição de 13/07, o periódico da família Marinho fez campanha pela quebra do regimento do Senado estimulando um ‘jeitinho’ para a matéria não seguir para sanção presidencial.

Tentando esclarecer o que chamava de campanha de desinformação, a Fenaj divulgou uma nota, explicando os pontos mais polêmicos do PL. Pouco tempo depois, a Associação Brasileira de Imprensa divulgou um expediente pedindo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que vetasse a proposta. A Associação dos Arquivistas do Estado do Rio de Janeiro também divulgou uma nota em que repudiava sua aprovação.

No dia 19/07, o governo anunciou que debateria com as organizações sindicais. Na mesma semana, o Comunique-se publicou uma nota em que o advogado Lourival J. Santos afirmava que o PL seria inconstitucional. Dias depois, o Ministério Público encaminhou um parecer à Casa Civil recomendando que o presidente não assinasse o projeto de lei.

No rastro da polêmica o Comunique-se organizou dois ‘Papos na Redação’ com Murillo e Fernando Martins, diretor da Associação Nacional dos Jornais (ANJ).

O veto presidencial deve ser publicado amanhã (27/07) no Diário Oficial da União.’



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EFE: SIP expressa satisfação por veto de Lula a PL, 27/07/06

‘Miami, 27 jul (EFE).- A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) expressou nesta quinta-feira (27/07) sua satisfação pelo veto do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, a um projeto de lei que ‘pretendia ampliar a obrigação da posse de diploma universitário para o exercício de trabalhos jornalísticos’.

O projeto de Lei Complementar 79/04 ampliava de 11 para 23 os ofícios dentro da atividade jornalística para os quais seria obrigatório o diploma universitário.

Entre os ‘novos ofícios incluídos estavam os de comentarista, fotógrafo, diagramador, ilustrador, revisor, arquivista e professor de jornalismo’, disse a SIP em comunicado.

O presidente brasileiro vetou na quarta-feira o projeto, que havia sido aprovado em 4 de julho pelo Congresso Federal.

Na quarta-feira foi criado um grupo de trabalho formado por representantes do Governo, empresários de comunicações e empregados, que deverá apresentar em 120 dias uma nova proposta de legislação sobre o tema.

A iniciativa gerou a oposição de diversas associações jornalísticas, por considerá-la restritiva à liberdade de imprensa e criar obstáculos para o exercício das atividades jornalísticas.

Em uma carta enviada a Lula, a presidente da SIP, Diana Daniels, e o presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação, Gonzalo Marroquín, expressaram sua confiança em que o Congresso Federal derrogue ‘qualquer norma de obrigatoriedade que limite a atividade jornalística’.

‘Há décadas, nossa organização vem lutando para que se elimine quaisquer restrições à profissão, como a obrigatoriedade de pertencer a uma associação ou a de possuir um diploma universitário’, disseram os diretores.

Por isso a SIP aderiu às reivindicações de várias associações brasileiras, entre elas, a Associação Nacional de Jornais (ANJ); a Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER); a Associação Brasileira de Empresas de Rádio e Televisão (ABERT); e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI). (c) Agencia EFE’



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Fenaj repudia veto do presidente Lula, 27/07/06

‘A Federação Nacional dos Jornalistas enviou, nesta quinta-feira (27/07), uma nota de protesto contra o veto do Projeto de Lei que amplia as funções do jornalismo. A Fenaj acusa o presidente Luís Inácio Lula da Silva de favorecer os interesses dos donos dos meios de comunicação brasileiros.

Na nota, a entidade chamou de ‘saída honrosa’ a decisão do governo de criar um grupo de trabalho para discutir uma nova regulamentação para a profissão e garante que participará de todos os debates.

Leia abaixo na íntegra a nota da Fenaj:

‘Os patrões venceram. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva capitulou mais uma vez aos interesses das grandes empresas de comunicação do País ao vetar integralmente o projeto de lei que atualiza as funções da profissão de jornalista. Orientado por sua equipe, o presidente cedeu aos argumentos falaciosos dos donos da mídia que, utilizando indevidamente do poder de difusão que têm, usaram seus veículos apenas para defender seus interesses.

A atualização da regulamentação profissional dos jornalistas é uma reivindicação legítima da categoria, organizada em seus Sindicatos e na FENAJ. O projeto de lei nº 079/2004 foi discutido e democraticamente aprovado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal. Ao vetá-lo integralmente, o presidente nega, mais uma vez, sua origem sindical, sua luta pela organização dos trabalhadores e, principalmente, o respeito aos princípios democráticos que vigoram no Brasil.

O governo simplesmente não resistiu à pressão desigual dos donos da mídia. Capitulou aos interesses empresariais, como fez em relação à criação do Conselho Federal de Jornalistas e ao processo de implantação da TV e do rádio digital no País.

A FENAJ não pode aceitar que, nessa capitulação, o governo lance mão do argumento da liberdade de imprensa e de expressão indevidamente utilizado pelos donos da mídia. Na campanha que desencadearam pelo veto ao PL 079, grandes jornais e emissoras de TV passaram por cima da liberdade de expressão e de imprensa que falsamente dizem defender.

A verdadeira ameaça à liberdade de expressão e de imprensa não é a regulamentação da profissão dos jornalistas. É, isto sim, o alto grau de concentração da propriedade privada na mídia, o conluio com elites políticas nos Estados e no Congresso Nacional e a hegemonia, no mercado de comunicação, de um único grupo, a Rede Globo.

Mais uma vez o movimento sindical dos jornalistas foi vítima de sórdida e orquestrada campanha sustentada pelas empresas, que difundiram, em escala de massa, desinformação e histeria. Transformou-se uma justa reivindicação profissional em um problema de Estado. Contaram, como sempre, com os serviçais de plantão e com novos e inesperados aliados, inclusive no campo dos trabalhadores. É condenável a postura da Federação dos Radialistas (Fittert) que defendeu o veto total, ao lado das empresas de rádio e TV, e, no momento final de negociação, propôs a retirada da função de repórter cinematográfico, previsto como atividade de jornalista desde 1969.

Como ‘saída honrosa’, o Governo propôs a formação de um grupo de trabalho para discutir mudanças na regulamentação profissional. A proposta nasce comprometida pela postura autoritária das empresas de comunicação e de suas entidades representativas: ANJ, Abert e Aner que, sabidamente, não querem qualquer regulamentação.

A FENAJ não se furtará ao debate democrático e participará do grupo de trabalho proposto pelo Ministério do Trabalho, mas não abrirá mão dos direitos conquistados com a luta de gerações de jornalistas brasileiros. É preciso esclarecer à sociedade que aos jornalistas interessa manter e aperfeiçoar a regulamentação da profissão, e aos patrões interessa o fim do diploma, a ausência de um conselho profissional, a desmoralização das entidades sindicais e a não-observância dos princípios éticos que regem a profissão.

Por seu compromisso com esse passado de lutas e por acreditar em um país mais justo com o seu povo, a FENAJ, os Sindicatos de Jornalistas e toda a categoria vão continuar defendendo a regulamentação profissional, a exigência da formação de nível superior em Jornalismo para o exercício da profissão e a auto-regulamentação, com a criação de um Conselho Profissional. Porque tudo isso é condição para a prática de um jornalismo verdadeiro, ético e socialmente responsável’.’



JORNALISMO ECONÔMICO
Eleno Mendonca

Por conta própria, 31/07/06

‘O emprego nunca mais será como antes. Por isso, em vez de a imprensa discutir como fazer voltar o regime de carteiras assinadas para cobrir o enorme rombo da previdência, como tem feito, deveria mostrar qual é afinal essa realidade. Quando o Globo Repórter não se lança a exibir enlatados com bichinhos e imagens bonitas de desertos e cachoeiras, quando investe em reportagem, faz lembrar os programas do passado e mostra que ainda não perdeu a mão. Nesta semana mostrou de forma competente como as pessoas se relacionam com a informalidade. Ficou claro que hoje, ainda que se retirasse um monte de encargos das contratações, muitos ainda permaneceriam no segmento chamado por conta própria.

Aquele emprego a que todos estávamos acostumados, de carteira assinada, de direitos como FGTS e férias de 30 dias não existe mais ou está em extinção. No jornalismo, então, virou artigo raro. Os candidatos deveriam se dar conta desse novo cenário. Muitos estão nessa condição porque acham que ganham mais trabalhando via nota fiscal. A maioria porque é uma imposição do mercado e o governo não tem muito a fazer a respeito. O correto seria lá atrás as autoridades terem desonerado a folha e pagamento, terem dado chance de sobrevivência ao emprego formal. Hoje, quando todas as redações e empresas do setor de comunicação se dão conta de que podem contratar como PJ, que é bem mais fácil a relação, que as rescisões têm menos risco, que o desembolso é de uma relação com fornecedor, pode-se dizer que não tem muito mais o que ser feito.

O governo ficou de braços cruzados e o mercado se ajeitou, como acontece em outros segmentos da economia e da sociedade. Hoje há empresas do segmento que funcionam totalmente nesse regime. Sindicatos frágeis também permitiram esses avanços, que são legais, mas que tiram os direitos trabalhistas de muitos. Para quem emprega é um bom negócio, para quem recebe fica a sensação de se estar tendo menos descontos, mas não se coloca na ponta do lápis vários benefícios, como férias, 30% de férias, FGTS, plano de saúde, aposentadoria e por aí vai.

A nova realidade econômica tem sido poucas vezes retratada na nossa imprensa. O Globo Repórter fez isso bem. Mostrou com base em pesquisa que além de necessidade, boa parte das pessoas está na informalidade porque gosta. Na verdade a pessoa se viu forçada a isso e os que se deram bem passaram a achar mais interessante ser dono do próprio nariz. Ter uma empresinha dá essa sensação, a despeito da quantidade enorme de burocracia e impostos.

Cabe ao governo então tentar dar suporte a essa nova situação. Em vez de ficar assistindo ao fechamento de nove entre dez empresas que se abrem ainda no primeiro ano de vida, deveria pensar numa forma de estimular esses empreendedores, ex-empregados, a se manterem no mercado.

A apatia do governo é tão grande que por esses dias vi uma reportagem mostrando que há um outro dado estatístico a favorecer as autoridades no futuro. Como não tem mais tantos filhos como acontecia até o final dos anos 70, a população está envelhecendo. Assim, logo teremos menos jovens a brigar pelo mercado de trabalho. Daí será a vez de se olhar para os mais velhos. Ou seja, o governo demora tanto que as coisas se acomodam por si.

(*) Também assina uma coluna no site MegaBrasil, é diretor de Comunicação da DPZ e âncora da Bandnews. Ele passou pelo Estado de S. Paulo, onde ocupou cargos como o de chefe de Reportagem e editor da Economia, secretário de Redação, editor-executivo e editor-chefe, Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil.’



JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

Profição de jornalista, 28/07/06

‘toda certeza é um beco sem saída.

(Astier Basílio in Antimercadoria)

Profição de jornalista

O considerado leitor Paulo Droescher, de São Paulo, profissional tão discreto que jamais havia colaborado com a coluna, navegava pelos sites de informação, perdeu a paciência com o festival de besteiras e resolveu despachar esta mensagem urgentíssima:

Não pude resistir ao ler (carregado de orgulho) esta notícia no Último Segundo, abaixo do título Governo decide vetar projeto que altera profissão de jornalista:

‘O projeto aprovado definia para a profição de jornalista atuar em processos gráficos, rádio, foto, cinematográficos, eletrônicos, informatizados ou qualquer outro veículo de comunicação de caráter jornalístico.’

Sem entrar no mérito do que deve ou não estar no campo de atuação dos colegas, tenho a impressão de que, antes de regulamentar um profissional da palavra, a lei deveria exigir no mínimo uma relação um tiquinho mais íntima com a língua pátria.

É mesmo, Paulo, que horror, hein?!?! E o Último Segundo diz que ‘as informações são do Jornal Nacional, da Rede Globo’, o qual, como sabemos, é falado e não escrito. Janistraquis acha que, se o redator não estiver de sacanagem, então é daqueles que também escrevem excessão, desapercebido e, quando fala, pronuncia gratuííííto, fluííído, beneficiência e vai por aí afora.

Roubaram o Mestre!

Como todos estão lembrados, depois da derrota para a França o jornal português O Jogo estampou na capa a foto do craque Cristiano Ronaldo e o seguinte título — Roubaram o puto. Pois quando conhecemos a história do plágio sofrido pelo nosso Mestre Deonísio da Silva, Janistraquis propôs:

‘Vamos dar o mesmo título, considerado! Afinal, se Deonísio não é um puto como Cristiano Ronaldo, ninguém, principalmente seus alunos, há de lhe negar a eterna juventude.’

Verdade. Deonísio é jovem no comportamento, nas idéias, no entusiasmo pela literatura e a língua portuguesa. Leia no Observatório da Imprensa os detalhes desse lamentável episódio de plágio explícito com o qual um finório ‘pesquisador’ chamado Plínio dos Santos tentou passar a perna no considerado Mestre.

Artigo da pomba!

Pertence à indignada lavra da considerada Danuza Leão um dos textos mais demolidores dos últimos tempos, intitulado O Admirável Estatuto do Menor. Leia o excerto e corra ao Blogstraquis para conhecer o desabafo desta mulher que não teme a inevitável patrulha dos politicamente corretos:

(…) Sobre Suzane e os irmãos Cravinhos, nem sei o que dizer, porque não sei, até agora, o que pensar. Mas quanto ao adolescente que matou Liana, como a Justiça não pode puni-lo, já que na época do crime ele era menor, tenho a esperança de uma hora dessas saber que ele foi justiçado por seus companheiros de Febem ou de manicômio.

E com requintes de crueldade.

Indecência

Considerado leitor que se assina ‘Alternativo’, envia título do Diário do Nordeste, de Fortaleza: Moralidade materna ainda preocupa.

Alternativo ficou a imaginar se não faltava um i, pois a imoralidade materna é algo doloroso, e somente depois de certo tempo descobriu o X do problema:

Obviamente, tratava-se da mortalidade materna, mas, convenhamos, moralidade ou imoralidade também é preocupação constante nos dias de hoje.

É verdade, ó Alternativo, porém Janistraquis está convencido de que a imoralidade é preocupação mais constante, principalmente com toda esta sinonímia:

Bandalha, bandalheira, bandalhice, bargantaria, brejeirice, corrução, corrupção, crápula, cupidez, deboche, degeneração, depravação, descaramento, descaro, desenvoltura, desonestidade, despudor, desvergonha, dissipação, eroticidade, erotismo, espurcícia, frascaria, frascarice, hediondez, hediondeza, ignomínia, imoralidade, impropriedade, impudência, impudicícia, incastidade, indecoro, indecorosidade, indignidade.

Mais: intemperança, libertinagem, libidinagem, licença, licenciosidade, luxúria, maganagem, maganeira, maganice, obscenidade, ordinarice, patifaria, perdição, perdimento, perversão, podridão, podriqueira, pornografia, pouca-vergonha, pulhice, pústula, putaria, sacanagem, sacanice, safadeza, safadice, salácia, salacidade, sem-vergonhez, sem-vergonheza, sem-vergonhice, sem-vergonhismo, torpeza e, evidentemente, filhadaputice.

Ler e escrever

Dos quase 20 mil candidatos que disputam cargos nas próximas eleições, há dois que querem ser governadores e só sabem, mal e mal, ler e escrever. Tomem nota dos nomes, porque ambos podem ser, em futuro próximo, presidentes do Brasil: Roberto Pereira, do Partido Humanista da Solidariedade (PHS), comerciante; e Plauto Vieira (Gugu), do Partido Republicano Progressista (PRP), mecânico de manutenção.

Janistraquis, veterano de tantas eleições, fraudadas ou não, garante que o mecânico tem mais chances do que o comerciante.

Leia no Blogstraquis a excelente matéria de O Globo.

Richthofen & cia.

A considerada leitora Marcia Miranda dos Reis, de Porto Alegre, que é formada em Jornalismo e Direito, achou deverasmente inesquecível o julgamento de Suzane mais irmãos Cravinhos:

Considerado, minha ‘porção advogada’ ficou perplexa com o baixo nível de defensores e acusadores dos réus. A cada entrevista no rádio ou TV, diziam barbaridades, numa atitude de quem não conhece o ritual do júri nem as filigranas da língua portuguesa, se me faço entender. Gostaria de ter assistido aos debates; já pensou o que não saiu de disparates em réplica e tréplica?

Olhe, Marcia, Janistraquis, que também viu e ouviu alguma coisa, imagina que espetáculo parecido a gente não teria nem nos circos mais vagabundos que armam sua esgarçada lona pelo interior do Brasil.

Astier Basílio

Leia no Blogstraquis a íntegra do poema intitulado Mirante, cujo primeiro verso encima esta coluna.

Caminho das pedras

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, bem pertinho do Congresso onde mais se rouba neste país de m…, pois Roldão presta aqui enorme serviço aos leitores, ao ensinar o caminho das pedras para um dinheirão que, se ficar dando sopa por aí, vai parar na conta da cambada impune que só pensa na reeleição:

‘FUNDO 157 — Pessoal, quem pagou Imposto de Renda até 1983, teve a opção de investir parte do valor a recolher no chamado Fundo 157 de várias instituições financeiras.

Há um saldo não reclamado de 500 milhões de reais. Se for seu caso, acesse a

página: www.cvm.gov.br. Clique no ‘acesso rápido’, ‘consulta Fundo 157’ e

veja em que instituição bancária está o seu dinheiro.

Se não for seu caso, avise seus pais, avós, tios, amigos mais velhos, etc.’

(A reeleição a que se refere o intróito é a dos deputados, claro.)

Convocação

Dunga anunciou que não convocará ‘estrangeiros’ para o amistoso contra a Noruega e então Janistraquis, que não dorme no ponto como Parreira, resolveu sugerir o nome do vascaíno Valdir Papel, herói da derrota de ontem para o Flamengo. É boa indicação e esperamos que algum clube lá daquelas bandas contrate o elemento.

Nota dez

O considerado Mauro Santayana, que junta as palavras como Itzhak Perlman extrai os sons do violino, escreveu no Jornal do Brasil:

(…) É notório que o Estado de Israel recebe poderosa ajuda financeira dos judeus da Diáspora, o que é legítimo e natural. Se os judeus e seus aliados, entre eles o governo norte-americano, podem mandar dinheiro para Israel, os palestinos de qualquer parte do mundo, e seus aliados, têm o mesmo direito de ajudar os que vivem nos territórios ocupados. Não pode haver diferença entre judeus e palestinos, principalmente para nós, brasileiros.

Leia no Blogstraquis a íntegra deste excelente e indispensável artigo.

Errei, sim!

‘LIXO PURO – Em A Tribuna, de Santos, esta coluna fisgou a seguinte singeleza, na matéria intitulada Prefeitura lança campanha do lixo: ‘(…) outra medida a ser adotada é a colocação de mais de 170 latões de concreto na faixa de areia da praia’. Latões de concreto! Janistraquis aproveitou para provocar: ‘Considerado, isso me lembra tua sogra, que certa vez se referiu a uma casa toda envidraçada de madeirinha.’ (junho de 1990)

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP) ou moacir.japiassu@bol.com.br).

(*) Paraibano, 64 anos de idade e 44 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu oito livros, dos quais três romances.’



MERCADO DE TRABALHO
Eduardo Ribeiro

A Comunicação Corporativa movimenta-se, 26/07/06

‘Alguns cobiçados e estratégicos cargos dentro da Comunicação Corporativa mudaram de mãos nas últimas semanas, mostrando que o mercado também nesta área melhorou, oferecendo maior movimentação e melhores oportunidades para os profissionais.

Uma das definições mais aguardadas era a do sucessor de Renato Gasparetto Jr, na Diretoria Geral de Comunicação e Relações Institucionais do Grupo Telefônica, em São Paulo. Gasparetto, para quem não sabe, saiu da Telefônica para ocupar um cargo semelhante na Gerdau, em Porto Alegre. Pois bem, essa definição saiu: quem assume o posto é Valter Brunner, que, ao aceitá-lo, abriu mão da Diretoria de Assuntos Corporativos da Philip Morris Brasil, em Curitiba, cargo que ocupou nos últimos seis anos. Ele fica lá ainda mais alguns dias e se apresenta no novo posto no dia 21 de agosto. Terá sob seu comando as diretorias de Relações com a Imprensa, comandada por Emanuel Neri, de Marketing Corporativo, com Lylian Brandão, e de Relações Institucionais, com Evair Morais. Na Philip Morris, o nome de seu substituto ainda não foi anunciado. A assessoria de imprensa da empresa, vale lembrar, continua sob os cuidados do gerente de Comunicação Leandro Conti, pelo telefone 41-2111-6037.

A Kraft Foods, que também é do grupo Philip Morris e fica igualmente em Curitiba, viu acontecer movimento muito parecido: perdeu seu diretor de Comunicação para outra organização com sede em São Paulo, a General Electric. Newton Galvão, que iria para seu terceiro ano de capital paranaense, não resistiu ao convite da GE e está de volta a São Paulo. Assumiu o novo posto, deixando outra cobiçadíssima vaga para trás. Ele, aliás, está atualmente no Exterior cumprindo processo de integração na nova organização.

Pouco antes, no final de junho, Eliel Cardoso, que, coincidentemente, também foi da Philip Morris (havia saído de lá em 2004), deixou o posto de diretor de Comunicação da Dow Brasil por iniciativa própria, por considerar que sua carreira ali não teria como evoluir e também para repensar sua vida. A empresa decidiu não substituí-lo, passando o diretor de RH a acumular a função. Passadas algumas semanas, Eliel tomou uma decisão radical: optou por pendurar as chuteiras corporativas e, após 22 anos de mercado, vai tocar seus próprios negócios. Um deles é um pequeno café já estabelecido na região da Berrini, no Brooklin, localizado à Rua Sansão Alves dos Santos, 448, que adquiriu com um sócio (em São Paulo). E um outro, que ele ainda está acertando, será a abertura de um espaço alternativo de Yoga, que oferecerá aulas em grupo e individuais, além de massagem shiatsu e técnicas indianas que auxiliam o bem estar e o crescimento interior. Até lá, deve concluir dois cursos de instrutor de Yoga, um pela FMU e outro pelo conhecido mestre iogue Pedro Kupfer, além de cursos de massoterapia pelo Senac. ‘É uma mudança radical’, diz Eliel, que é praticante de Yoga e meditação há mais de cinco anos. ‘Mas depois de mais de duas décadas atuando no jornalismo e na comunicação corporativa em grandes empresas (Nestlé, Philip Morris e Dow), acho que chegou a hora de mudar meus rumos profissionais por ‘exigências internas’.

Também de mudança, Elisa Prado deixou o comando de Comunicação da Vivo e está assumindo a Comunicação da Tetra Pak, sucedendo Carla Coelho que deixou o posto e foi de mudança para o Canadá.

Outra executiva da área corporativa que está de trabalho novo é Valéria Café, ex-gerente de Comunicação Corporativa da Multibrás e que quando lá esteve cuidou da comunicação corporativa da organização para toda a América do Sul. Valéria foi para a HP, contratada com a missão de cuidar da Comunicação Externa e da marca corporativa da organização.

No Rio de Janeiro, duas mudanças também são destaques. A primeira é a volta de Ronaldo Lapa ao Brasil depois de uma temporada de estudos em Harvard, para assumir a nova Diretoria de Comunicações da UniverCidade. Terá sob seu comando as áreas: Central de Informações, Central de Eventos, Assessoria de Comunicações, TV Universitária e Central de Propaganda, incluindo a editora, o site e a intranet. Ex-O Globo e JB, Ronaldo tem experiência também como executivo e, antes de viajar, era professor da Escola de Comunicações e Artes da UniverCidade.

A segunda mudança, também fresquinha, é a contratação de Cássia Maria Rodrigues como nova gerente de Mídia da Souza Cruz, na vaga deixada por Mair Pena Neto, hoje na agência Reuters. Cássia foi correspondente de O Globo, em Londres, durante dez anos, e teve também passagens por Veja e Folha de S.Paulo. Foi assessora do ex-ministro da Justiça Fernando Lyra e do governador Mário Covas; trabalhou nas campanhas de José Serra e Fernando Henrique Cardoso. Em 1993, lançou o livro Operação sete anões pela L&PM. Cassia tem na equipe Aline Almeida, contratada em janeiro deste ano.

No segmento das agências de Comunicação, uma mudança importante vem da MVL Comunicação, presidida por Mauro Lopes (ex-Folha de S.Paulo). Miriam Virgínia Lopes, diretora-geral e sócia, passou a ocupar a recém-criada Vice-Presidência Executiva da agência, função na qual responderá pelas áreas administrativa e de capacitação da agência. Marcelo Mendonça, diretor de Operações e sócio, assumiu a Vice-Presidência de Operações, também recém-criada, tendo sob sua supervisão todas as operações da MVL. Maurício Bandeira de Melo e Nilson de Oliveira passaram a integrar a diretoria e o conselho de sócios. O fortalecimento da cúpula permitirá que o presidente, Mauro Lopes, se dedique mais à consultoria para os clientes e à representação institucional da agência. Tudo isso em São Paulo.

(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’



ORIENTE MÉDIO EM GUERRA
José Paulo Lanyi

Jornalismo contra a guerra, 27/07/06

‘Um jornalista maduro, décadas de experiência em televisão, convida os seus colegas para uma sessão de fotos da guerra, em PowerPoint. Nas imagens, uma menina israelense se compraz em deixar o seu nome (ou os seus votos de violência) em uma fileira de bombas que ainda estão em solo pátrio. Inicia-se aí uma seqüência macabra, arrematada por crianças em pedaços. A guerra como ela é.

O autor da apresentação eletrônica selecionou as imagens em um site que mostra, sem a legenda da sutileza, a dimensão biológica do conflito no Líbano. Nada de cenas de videogame, a milhas profiláticas do horror. Ali criança tem cratera no corpo. Choca. E é isso que o jornalista quer. Ele quer nos dizer que a guerra não é ‘glamourosa’, como, sublinha ele, nós a vemos nos telejornais. Guerreiros bem nutridos, heróis e anti-heróis, as bandeiras, a democracia, o fanatismo, um certo fascínio pela epopéia de todos os tempos. Ele não o disse, mas, interpreto eu, trata-se de uma terapia de choque pelo estarrecimento.

Assisti à demonstração, mas não até o fim. Em minha vida de repórter, vi muitos cadáveres. De crianças, também. Na época, em meus vinte e poucos, enfiei na cabeça que não me deixaria impressionar, nem com a imagem, nem com o cheiro, tampouco com o fato em si. Lamentaria, sim, mas sem me deixar envolver. Uma defesa e tanto. Quando, horas depois do trabalho, aquilo ainda ameaçava invadir a minha mente, eu buscava refúgio na minha ‘força interior’- uma espécie de Rambo que elimina a emotividade a tiros de bazuca. Ou fazia isso ou me implodiria no cotidiano. Era o que eu pensava.

Assisti, portanto, mas não até o fim. Duas ou três crianças já foram o suficiente. Uma criança vale por uma escola inteira. Um morador, por todo o condomínio. Não sou mais o mesmo.

Outros reagiram como eu. Não quiseram ver mais. Nosso amigo jornalista explica por que fugimos dessa exposição de desgraças: somos alienados e não queremos assimilar a verdade da guerra. Não sei quanto aos outros. Eu já vi o suficiente, não na representação, mas na carne, no sangue, nos ossos e nas lágrimas de um pai ou uma mãe.

Uma notícia do New York Times publicada no Observatório da Imprensa tempera o nosso debate.

‘Uma semana depois que programas televisivos transmitiram imagens da cabeça decepada de um homem-bomba, o governo do Paquistão pediu às emissoras privadas que evitem cenas de ataques suicidas e atentados terroristas.

O governo afirma que divulgar cenas do tipo glorifica estes atos, assusta o público e leva a mais violência.

(…)

Ao mesmo tempo em que este cenário violento cresce, prosperam também as empresas de mídia privada. Com a política de abertura na mídia instituída pelo presidente, dezenas de emissoras nacionais e regionais surgiram nos últimos cinco anos. Antes disso, o Paquistão tinha apenas uma emissora, estatal e amplamente censurada.

Com a nova realidade dos canais televisivos, a programação rompeu barreiras e tabus, passando a abordar questões sobre sexo e política. Com as regras mais frouxas, o discernimento sobre os limites do conteúdo de TV também afrouxou. A divulgação de imagens violentas – que refletem os conflitos reais enfrentados pelos paquistaneses – choca e incomoda a população e as autoridades. Informações de Salman Masood [The New York Times, 21/7/06]’.

Opto pelo meio termo. Penso que se pode ostentar uma cena chocante. Ou dez cenas chocantes. Cem, que sejam. Mas as imagens não podem valer por mil palavras. É preciso contextualizar a miséria humana. Não basta dizer que a guerra faz isso. Necessário analisar, buscar as causas, apontar exaustivamente as responsabilidades. Se há algo que a mídia pode e sabe fazer é pressionar. É o seu dever. Que o faça na medida certa. Sem show. Sem omissão.

(*) Jornalista, escritor, ator, é autor de quatro livros, um deles com o texto teatral ‘Quando Dorme o Vilarejo’ (Prêmio Vladimir Herzog). No jornalismo, tem exercido várias funções ao longo dos anos, na allTV, TV Globo, TV Bandeirantes, TV Manchete, CNT, CBN, Radiobrás e Revista Imprensa, entre outros. Tem no currículo três prêmios em equipe: Esso e dois Ibest. Nascido em Brasília, filho de um oficial do Exército e de uma artista plástica, é paulistano de coração e torcedor de um clube do Rio de Janeiro: o Vasco da Gama – time que escolheu aos sete anos, quando morava no Rio Grande do Sul.’

Antonio Brasil

Imagens do massacre de crianças, 31/07/06

‘Mostrar ou não mostrar, eis a questão. ‘Diante da dor dos outros’, como tão bem definia a pensadora americana Susan Sontag, diante de um bombardeio de imagens terríveis, quais são os limites dos jornalistas e da mídia? Até que ponto podemos mostrar imagens de crianças mortas na primeira página dos jornais ou nos telejornais sem causar excessiva repulsa ou o pior, sem causar uma reação de impotência e indiferença? Qual é poder das imagens para influenciar ou mudar os acontecimentos no Oriente Médio?

Nas últimas horas, o conflito no Oriente Médio tomou rumos ainda mais dramáticos e perigosos. Manifestações em diversas capitais do mundo demandam explicações e vingança. Uma breve consulta ao site do Newseum, (ver aqui), o Museu Virtual do Jornalismo, mostra as primeiras páginas dos principais jornais do mundo com imagens muito fortes de crianças mortas em Qana, no Líbano. O massacre de tantas crianças causou uma enorme e surpreendente reação na comunidade internacional.

Até mesmo os políticos ou jornalistas mais cínicos e indiferentes começam a mostrar sinais de revolta, indignação e impaciência. Até quando? Quantas crianças ainda vão morrer nos próximos dias? Gritos de ‘crime de guerra’ e promessas de retaliação de um lado, ou justificativas e explicações técnicas de outro, aumentam ainda mais o clima de tensão na região e no mundo.

Assim como em outros momentos da História, podemos estar diante do início de mais um grande conflito. Um ataque israelense à Síria ou ao Irã pode significar o fim de todas as guerras, a Terceira Guerra Mundial ou o fim do mundo.

De um lado, temos mais uma guerra no Oriente Médio, mais uma de tantas outras, com mais uma denúncia de massacre contra civis inocentes. De outro, temos as promessas de retaliação por parte de grupos islâmicos radicais como a Al Qaeda contra Israel, EUA e países europeus. Um grande ataque de retaliação é mera questão de tempo. O mundo se prepara para ainda mais imagens de morte e destruição.

A cobertura da guerra entre israelenses e libaneses na televisão brasileira não mudou muito. Tudo continua da mesmíssima maneira. Na Globo, audiofones muito frios e distantes de Beirute com imagens neutras das agências internacionais. O correspondente da Globo continua invisível. Do outro lado, muitas matérias sobre o poderio militar e tecnológico das forças israelenses. Por incrível que pareça, as melhores imagens e matérias do Líbano têm sido produzidas por ‘refugiados’ brasileiros. Na falta de correspondentes mais ‘visíveis’, eles se tornaram jornalistas e cinegrafistas amadores. As demais emissoras continuam a confiar na cobertura das agências internacionais ou no trabalho de alguns ‘correspondentes’ solitários e improvisados. Após mais de duas semanas de guerra com mais de sete brasileiros mortos, inclusive crianças, as grandes estrelas do nosso jornalismo de TV ainda não se dispuseram a arriscar a vida ou a reputação em Beirute. Ou seja, de onde menos se espera, é daí que não sai nada mesmo.

A Globo parece mais preocupada em mostrar e divulgar sua mais nova aquisição tecnológica: um ônibus de segunda-mão que foi todo recondicionado e transformado em uma verdadeira unidade móvel. O Priscilão, referência ao filme ‘Priscila, a rainha do deserto’, deve levar alguns jornalistas e cinegrafistas pelo Brasil afora com o objetivo de mostrar a dor e as demandas dos outros brasileiros.

As grandes estrelas da emissora, no entanto, não devem participar dessa Caravana Holidei. Como sempre, eles se reunirão aos ‘jornalistas-retirantes’ somente para apresentar os telejornais. Mais uma vez, as estrelas do jornalismo ficarão longe de mais uma guerra.

Segundo a FSP desta segunda-feira, ‘Anúncio da Band declara guerra à Globo na cobertura eleitoral’ (ver aqui)

‘Rebatendo o anúncio de página dupla que a Globo publica desde a semana passada nos maiores jornais do país sob o título ‘Eu prometo’, hoje a Band publicou o seu anúncio, também de página dupla, em que proclama: ‘Eles prometem. A Band cumpre’.

Ou seja, a guerra está declarada. Na televisão brasileira, a luta pela audiência e pelos votos dos brasileiros têm menos riscos e oferece mais oportunidades de lucros do que a o conflito no Líbano. Se o mundo não acabar, se a Heloisa Helena não for eleita e não houver maiores surpresas, eles podem estar certos.

(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Trabalhou no escritório da TV Globo em Londres e foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’ e ‘O Poder das Imagens’. É torcedor do Flamengo e não tem vergonha de dizer que adora televisão.’



VIDA DE JORNALISTA
Cassio Politi

Repórter negociou libertação de reféns, 28/07/06

‘A negociação era tensa. Com uma arma apontada para a cabeça, a mulher chorava. O desespero de seus filhos, um casal de crianças, aumentava o clima de tensão entre seqüestrador, reféns e policiais.

– O melhor para você é se entregar agora. Não compensa cometer um crime mais grave – disse o negociador ao seqüestrador.

– Eu tenho família, estou desesperado. Tenho dois filhos. Não tenho condição de me sustentar – disse, não menos aflito, o homem que empunhava um revólver.

O drama acabou quando todos foram libertados. A negociação do seqüestro seria normal se o negociador em questão não fosse um repórter de televisão.

* * * * *

O carro de reportagem acompanhou o carro da polícia, que ia às pressas ao bairro de Interlagos, na Zona Sul de São Paulo. Era fim de tarde de um dia de semana e um seqüestro estava em andamento havia mais de três horas. A casa era grande, com um quintal agradável, típico do bairro paulistano, que abriga poucos prédios.

Valmir Salaro desceu do carro da TV Globo e notou que era o primeiro jornalista a chegar à porta da casa onde a mulher e as duas crianças eram reféns de um sujeito que fugia da polícia. Na porta da casa, observava a movimentação, quando um policial se dirigiu a ele.

– O seqüestrador está exigindo um jornalista como negociador. Ele quer a Imprensa presente.

Credencial

Valmir subiu a escada do sobrado e viu os policiais parados à porta do quarto. Vez ou outra, o criminoso abria a porta e usava a mulher como escudo quando falava com a polícia.

– Tem um jornalista aqui, da TV Globo. Ele vai conversar com você – anunciou um policial.

O seqüestrador não confiou na informação. Valmir teve de passar sua credencial da Globo por baixo da porta. Àquela época, meados dos anos 90, se tornara comum bandidos negociarem a libertação de suas vítimas com a presença de câmeras. Era uma forma de garantir que seriam presos sem sofrer violência. Reportagens contendo esse tipo de negociação eram freqüentes em programas policiais, como o Aqui Agora, do SBT.

Rendição

Valmir ouviu alguns minutos da negociação. ‘Ganhei um pouco de confiança e comecei a conversar com o bandido. Ele queria se entregar, mas tinha medo de apanhar ou ser morto’.

– Estamos aqui, com câmera. Você pode se entregar, sem que haja violência. Você vai ser levado para uma delegacia. Lá, você vai pagar pelo crime que cometeu. Se você não fizer nada contra essa família, sua pena vai ser mais branda.

Foi mais ou menos meia hora de negociação. O bandido entregou o revólver à refém, que repassou a arma à polícia. O perigo tinha passado. A dona da casa saiu com as crianças e abraçou Valmir, num clima de comoção. ‘Você fica imaginando mil coisas. As minhas filhas tinham a mesma idade daquelas crianças’.

Ajudar

Valmir Salaro, àquela altura, tinha mais ou menos 15 anos de experiência como repórter policial. Até ali, tinha feito a cobertura de seqüestros, mas a angústia de participar ativamente da negociação era inédita. ‘Você quer ajudar de qualquer forma. A sensação que eu tive foi a de que você não quer tomar partido. Você torce para que todos terminem bem’.

A matéria foi ao ar primeiro na edição noturna do SPTV, que na época era apresentado por Carlos Nascimento, contada com a propriedade de quem viveu o drama.

(*) Cassio Politi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Atuou como videorrepórter de matérias de Cidades e Especiais no Uol News, comandado por Paulo Henrique Amorim até 2004. Trabalha com Internet desde 1997. Esteve em projetos pioneiros em jornalismo na Web, como sites da Zip.Net. Ministra cursos de extensão há cinco anos e deu aulas em 24 estados brasileiros para quase 2 mil jornalistas e estudantes de Jornalismo. Atualmente, tem suas atenções voltadas para a área de Marketing. Ocupa o cargo de Diretor da Escola de Comunicação, a unidade de cursos e seminários do Comunique-se.’



TELEVISÃO
Comunique-se

CNT e Nelson Tanure negociam parceria, 28/07/06

‘Flávio Martinez, presidente da CNT, diz que não gosta da palavra arrendamento ao falar das negociações que ele e o empresário Nelson Tanure estão conduzindo. ‘Estamos conversando sobre uma parceria de conteúdo. A idéia é a CNT entrar com a operação técnica e ele e suas empresas com informação’, explicou o empresário ao Comunique-se.

O boato em torno de um possível arrendamento, como aconteceu com o Jornal do Brasil e a Gazeta Mercantil, não é novo. Segundo funcionários da emissora que não quiseram se identificar, a direção da CNT não fala das negociações, mas elas existem há mais de dois meses.

Martinez descarta qualquer transferência de ações e operações. ‘Não será nada similar ao que aconteceu com o Jornal do Brasil e a Gazeta Mercantil’.

Segundo o presidente da emissora, as conversas estão ‘fluindo bem, embora não tenham chegado ainda a um acordo’.

Quanto a possíveis mudanças no quadro de funcionários, ele garante que não haverá demissões. ‘Se acontecer uma parceria, vamos trabalhar para mais, não para menos. Nosso interesse é somar forças para crescer’.’



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Folha de S. Paulo

Folha de S. Paulo

O Estado de S. Paulo

O Globo

Carta Capital

No Mínimo

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