Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Comunique-se

TELEVISÃO
Comunique-se

Iurd nega canal de TV internacional, 26/5

‘A direção da Igreja Universal do Reino de Deus disse, através de sua assessoria de imprensa, que a informação de que o bispo e empresário Edir Macedo tenha dado início a um projeto para criar uma emissora como a CNN em português não procede. A notícia foi publicada na coluna de Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, no sábado (24/05).

Segundo ela, o canal seria captado por antena parabólica de qualquer lugar do mundo e seu orçamento seria de US$ 40 milhões. A emissora passaria a funcionar no início de 2010.’

 

2 MUNDOS
Bruno Rodrigues

Um livro pioneiro, 26/5

‘Esta semana chega às livrarias uma obra pioneira na área de Comunicação no Brasil, ‘Internet – O Encontro de 2 Mundos’, da editora Brasport. É a primeira grande coletânea de textos que abordam em profundidade a web e a mídia digital, elaborados por gente de entende do riscado.

O objetivo de ‘Internet – O Encontro de 2 Mundos’ é reunir não apenas textos, mas conselhos, desafios e reflexões de 44 profissionais ligados à Comunicação Digital no país. O leque de assuntos inclui de tecnologia a direito, de publicidade a comércio, de gestão a empreendedorismo, de blogs a webwriting, de usabilidade à carreira.

Segundo o jornalista Tiago Baeta, co-autor da obra com Nathalia Torezani, o trabalho conseguiu ‘unir profissionais de gigantes de software, docentes, instituições, empresários, jornalistas, dentre outros, com diferentes pontos de vista, em uma única obra’.

O colunista que vos escreve contribuiu com um texto inédito, um dos mais árduos de criar em toda a minha carreira, mas um dos que considero mais útil e pertinente. Reproduzo, aqui – com a devida autorização dos autores -, um trecho.

— ‘O que aprendi com a Encyclopaedia Galactica’ —

Gostemos ou não de ficção científica, a saga ‘Fundação’, de Isaac Asimov, nos deixa lições importantes, das que não esquecemos jamais.

Para quem ainda não leu ‘Fundação’, vale o resumo que transcrevo abaixo* e que, por si só, explica muito sobre alguns alertas que farei a seguir.

Em um futuro distante, a glória do Império Galático, que já dura doze mil anos, parece eterna, mas Hari Seldon, um jovem matemático, sabe que isso não é verdade. Seldon dedica-se à ‘psico-história’, ciência que une psicologia, história e matemática, e é capaz de prever eventos relacionados a uma imensa quantidade de seres humanos.

Através de seus estudos, Seldon prevê que o Império está entrando em decadência e que deixará de existir em 300 anos, fazendo com que a galáxia mergulhe num período de 3.000 anos de barbárie.

Ciente de sua responsabilidade, ele realiza o grande projeto de constituir uma ‘fundação’ para editar a ‘Encyclopaedia Galactica’, na qual seria reunido todo o conhecimento do Império, passado à posteridade, permitindo à futura civilização retornar ao estado atual em apenas mil anos.

Contudo, Seldon e seu grupo de cientistas encontram resistência e, juntamente com suas famílias, são exilados em um pequeno planeta na periferia da galáxia, sem grandes recursos naturais ou qualquer vestígio de civilização, onde devem desenvolver o projeto sem qualquer ajuda externa.

Contudo, com o passar dos anos, surge algo não previsto pela psico-história de Seldon: um perigoso ser chamado ‘O Mulo’, capaz de dominar mentes, e que é o contraposto ao poderio tecnológico do Império – o que nos leva a pensar que mesmo os melhores planos estão sujeitos a desvios inesperados, e aqueles que não se adaptam à realidade correm grandes riscos.

Como diz o primeiro volume de ‘Fundação’, ‘tecnologia pode ser muito boa e poderosa, mas não é tudo na vida’. A História está cheia de exemplos de como grandes poderes sofrem derrotas por parte de grupos menos equipados, mas bem organizados, e que lutam pela própria sobrevivência.

No ‘Mulo’, vemos Hitler, Bin Laden, tantos outros; no contra-ataque, sempre haverá uma Résistance ou, pesar dos pesares, a invasão de um Afeganistão. Contudo, no centro estarão sempre Mente versus Tecnologia, Megalomania versus Retorno às origens.

Daí, tiro uma dúvida e uma provocação: podemos confiar tanto na internet? Estamos colocando na Rede tudo o que produzimos durante milênios como forma de armazenamento, concentração do saber e facilidade de acesso ou a aceitamos como um real ciberespaço, como ele estivesse ali sempre, como nossa própria atmosfera?

Se nem nela confiamos mais, e há décadas lutamos com fervor para perpetuar o ar que respiramos, o que dizer do que pensamos, produzimos e registramos?

Há ingenuidade em nossa atitude, sim. É preciso que tentemos pressentir, tal qual Hari Seldon, de onde virá o perigo, por mais science fiction que pareça.

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O restante do texto e mais outros 55 – alguns autores contribuíram com mais de um artigo – você encontra em ‘Internet – O Encontro de 2 Mundos’. Haverá um lançamento em São Paulo, na noite da próxima quarta-feira, dia 04/06, na FNAC da Av. Paulista (infelizmente, não estarei neste), e outro no Rio (estarei lá!), em data e local a confirmar.

Não percam!

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A próxima edição de meu curso ‘Webwriting & Arquitetura da Informação’ terá início na semana que vem, dia 03/06, no Rio de Janeiro.

Para quem deseja ficar por dentro dos segredos da redação online e da distribuição da informação na mídia digital, é uma boa dica!

As inscrições podem ser feitas pelo e-mail extensao@facha.edu.br e outras informações podem ser obtidas pelo telefone 0xx 21 2102-3200 (ramal 4).

Até lá!

(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’, e de sua continuação, ‘Webwriting – Redação e Informação para a web’. Ministra treinamentos em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em sete anos, seus cursos formaram 1.300 alunos. É Consultor de Informação para a Mídia Digital do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’, há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.’

 

JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

Parlamentarismo com Lula!!!, 23/5

‘quero ser original

mas não passo de uma xerox

não autenticada de mim mesmo.

(Linaldo Guedes, poeta paraibano.)

Parlamentarismo com Lula!!!

O considerado Leonardo Mota Neto, jornalista do primeiro time, escreveu em, sob o título Lula primeiro-ministro:

O que vou contar aqui tem testemunhas, locais e datas. Não é ficção.

Está em marcha um novo processo de instituição do parlamentarismo no Brasil.

(…) E quem seria o presidente, com Lula primeiro-ministro?

O José Serra, claro. E que teria seus poderes reduzidos ao extremo, para ser apenas uma figura decorativa no topo do Executivo, apesar de ter que ser eleito pelo voto. Em suas funções apenas se limitaria a receber chefes de Estado estrangeiros – o que Lula detesta – e cuidando das Forças Armadas – o que Lula também detesta – deixando tudo com o atual presidente.

Consultado pelo colunista, o considerado Bolívar Lamounier, melhor cientista-político do Brasil, respondeu:

(…) tudo isso aí pode ser verdade. Não pouparei esforços para detonar esse parlamentarismo paraguaio.

Leia no Blogstraquis a íntegra do texto de Leonardo Mota Neto e a opinião de Bolívar.

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Arriégua, Fernanda!!!

Há algum tempo a coluna recebeu filmete do YouTube, porém não foi possível visualizar o conteúdo, por excesso de incompetência nossa. Somente agora pudemos assistir a um fragmento de entrevista de Fernanda Montenegro ao considerado Ancelmo Gois, no qual a primeira-dama das artes cênicas nacionais emite asinina opinião sobre o território deste país que tanto a admira.

Janistraquis está de queixo caído até agora. Se o considerado leitor ainda não viu, veja aqui.

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Redação moderna

O considerado Luiz Oscar Matzenbacher [21/05/2008 – 11:00]

(Freelancer) escreveu na área de comentários:

A expressão ‘ir ao local’ parece que foi banida do jornalismo brasileiro.

Janistraquis discorda, ó Matz:

‘Nas modernas redações, quando alguém anuncia ‘vou ao local!’, significa apenas que vai ao banheiro.’

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Impropriedades

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, de cujo varandão debruçado sobre a ignomínia oficial é possível divisar a cruz na qual a ministra Dilma vai pregar seu auxiliar Zé Aparecido, pois Roldão lia o inefável Correio Braziliense quando deparou com algumas impropriedades inseridas sob o título Onde começa o País:

1. ‘Oiapoque (AP) – A cidade onde começa o Brasil fica no Amapá, na fronteira com a Guiana Francesa.’

‘No extremo norte do país, sobram problemas’.

Comentário: O extremo norte do Brasil fica no pico de Caburaí, em Roraima.

2. ‘É também lugar de (…) índios com crescente intolerância a brasileiros.’

Comentário: Triste constatação. Quer dizer que os índios não são brasileiros?

3. ‘Esse garimpeiro diz que a exploração do ouro nas terras no norte brasileiro acabou. Mas a febre continua na Guiana Francesa, onde brasileiros procuram recuperar o que os franceses tiraram do Brasil’

Comentário: A dominação francesa em parte do território brasileiro foi muito limitada no tempo e no espaço. Só aconteceu no Maranhão, onde não havia jazidas de metais preciosos como o ouro e a prata. As atividades econômicas se limitaram ao cultivo da cana-de-açúcar e à produção de cana, se tanto.

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Gato por lebre

O considerado professor e escritor Deonísio da Silva escreveu no Observatório da Imprensa:

O Almanaque Abril está na 34ª edição (…) Levo o exemplar para casa e passo a folheá-lo na tarde de domingo. É triste, mas erros e equívocos de edições anteriores permanecem.

Confira aqui a íntegra do artigo, para não comer gato por lebre.

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Religião demais

O considerado Abdias Rocha de Azevedo, advogado paulistano, envia notícia da Folha de S. Paulo na qual se lê:

Associação quer espiritualizar o Judiciário

A recém-criada Associação Jurídico-Espírita de SP reúne promotores, delegados e advogados; ‘o Estado é laico, mas as pessoas não’, diz o promotor Tiago Essado.

Eles defendem um Judiciário mais sensível às questões humanitárias, dizem que a maior lei é a de Deus, vêem na condenação penal e na própria função uma missão de vida, defendem o uso de cartas psicografadas nos tribunais e estimulam, nas audiências, a fraternidade entre vítimas e criminosos.

Azevedo, assaltado por sérias dúvidas quanto à existência da alma dita imortal, tem mais dúvidas ainda acerca da Associação; Janistraquis, que não tem mais dúvidas quanto à competência do Judiciário, suspirou:

‘Isso tudo é muito bonito, repleto daquelas boas intenções que atulham o inferno, porém continuo achando que notório saber e ilibada reputação têm mais serventia.’

(Leia a íntegra do texto nas ecumênicas páginas do Blogstraquis)

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Pecado mortal

Para Papa, mídia incentiva pedofilia e prostituição, lia-se na capa deste C-se. Janistraquis, que quando menino foi coroinha irresponsável na paróquia de Santa Júlia, em João Pessoa, pede que se inflija ao redator uma exemplar penitência:

‘Considerado, esse ‘parapapa’ é mais do que simples cacofonia; chega a pecado mortal, né não?’.

Chega.

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De ironias

Millôr Fernandes, também conhecido como ‘O Gênio da Raça’, em sua coluna da Veja que está nas bancas:

(…) Bem, a meus coleguinhas de imprensa sempre aconselho: neste país não se pode ser muito – nem mesmo pouco – sutil. Quando escrevemos qualquer coisa irônica, não podemos deixar de botar ironia! (entre parênteses, claro).

Janistraquis adorou:

‘Pois é, considerado; temos dito a mesma coisa aqui neste espaço, o que significa que estamos em ótima companhia.’

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Linaldo Guedes

Leia no Blogstraquis a íntegra de Xerox. Neste poema, cujo excerto encima a coluna, abre-se o coração do poeta de Cajazeiras, alto sertão da Paraíba. Insere-se no livro Os zumbis também escutam blues (editora A União, PB, 1998).

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Fluido ou fluído?

O considerado Gilson Ferreira, jornalista carioca que trabalha na Petros, leu no C-se matéria intitulada ‘O desafio na web é criar impacto’, diz editor-chefe do portal do Estadão (aqui) e logo implicou com esta frase:

(…) Para que se torne mais atrativa, Chiaretti dá duas outras dicas: o silêncio e a organização, além de um texto mais fluido e com doses de humor.

A dúvida do leitor:

Não seria ‘fluído’ com acento agudo no ‘i’ (adjetivo) no lugar de ‘fluido’ sem acento agudo (substantivo)?

Janistraquis garante que a dúvida de Gilson Ferreira é a certeza de muita gente boa por aí afora e responde, com aquele jeitão detestável de falso professor:

‘O texto do portal está correto; fluido é que é adjetivo; fluído é o particípio do verbo fluir. Não existe fluído longe do verbo, assim como não existem gratuíto, circuíto e outras pronúncias tão ao gosto de repórteres/apresentadores de má formação. É o que ensinam os mestres do idioma, entre os quais nosso querido amigo recentemente falecido, Eduardo Martins, autor do Manual de Redação do Estadão e do livro Com Todas As Letras (O Português Simplificado).

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Nota dez

Sob o título A amazônia está sem pai nem mãe, o considerado Augusto Nunes escreveu em sua coluna do Jornal do Brasil:

(…) O governo nunca definiu nitidamente uma política para a Amazônia. Tampouco Marina Silva, mais eficaz como ícone que como administradora, conseguiu fixar diretrizes inteligíveis. E o PAS é apenas uma sigla — agora sem mãe. Quem será o pai? Carlos Minc, que confessou desconhecer a Amazônia? Ou Mangabeira Unger, que finge conhecer o que ignora? Talvez seja melhor deixar o PAS na orfandade. Serão maiores as chances de não acabar perdido na floresta.

Leia no Blogstraquis a íntegra do artigo que incinera um presidente sempre capaz de mudar – para pior.

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Errei, sim!

‘AURÉLIO NELES!!! — Escorria uma lágrima do olho esquerdo de Janistraquis quando ele chegou com o Estadão nas mãos. ‘Considerado, que saudade do doutor Julinho!’, soluçou. Eu quis saber o motivo de tanto

sentimento e ele, num ingente esforço para controlar a emoção, apresentou-me o editorial das Notas e Informações. Lia-se: ‘(…) pareceu que o chefe do Executivo, perdido em remígios de audácia e euforia, envergava desta feita…’. Janistraquis esclareceu: ‘Considerado, isso foi escrito pelo próprio doutor Julinho, cujo espírito, de tempos em tempos, visita a redação do jornal’.

Meu secretário jurou que, no passado, ao escrever seus editoriais, Júlio de Mesquita Filho sempre inseria no texto uma palavra ‘difícil’. E explicava:

‘É para os meninos aprenderem a língua, pelo hábito da consulta ao dicionário’. Foi por essa razão que remígio arrancou lamúrias (ou caramunhas?) do choroso Janistraquis. (abril de 1989)

(N. da R.: se o considerado leitor ignora o que seja remígio, faça o favor de consultar o bom e velho Aurelião.)’

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.

(*) Paraibano, 65 anos de idade e 46 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou, entre outros, no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu nove livros (dos quais três romances) e o mais recente é a seleção de crônicas intitulada ‘Carta a Uma Paixão Definitiva’.’

COMUNICAÇÃO CORPORATIVA
Eduardo Ribeiro

Comunicação Corporativa mostra maturidade e avanços, 21/5

‘Encerrou-se na última sexta-feira (16/5) o 11º congresso Brasileiro de Comunicação Corporativa com um saldo positivo não só pela bela audiência mas sobretudo pela qualidade técnica das apresentações e conferencistas convidados, como demonstraram os números da pesquisa produzida pela organização.

Mais de 700 profissionais de todo o País e também do exterior passaram pelo Centro de Convenções Rebouças nos três dias de congresso, num congraçamento importante para uma área que a cada dia ganha terreno e importância no âmbito das empresas e das organizações públicas e privadas.

O evento foi integralmente monitorado por uma equipe que tinha como coordenador Luiz Roberto Serrano, atual presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Comunicação Social – Sinco, e as participações de Carlos Carvalho, secretário-executivo da Associação Brasileira das Agências de Comunicação – Abracom, Cristina Vaz de Carvalho, editora regional deste Jornalistas&Cia no Rio de Janeiro, e a consultora independente Roseli Garcia.

O texto a seguir, também publicado na íntegra na versão impressa deste J&Cia, é de autoria de Serrano, feito com base nas próprias observações e nas da equipe por ele coordenada.

‘Vivemos em cena aberta’. Com essa expressão, inspirada na tradição teatral, Luiz Lara, presidente da Lew’Lara/TBWA Propaganda, definiu, com rara felicidade, o ambiente de comunicação em que navegam empresas e instituições nestes tempos de notável expansão da mídia digital. Esse desafio, o de ‘viver em cena aberta’, esteve no coração de todas as políticas de empresas, cases, ferramentas e estudos teóricos apresentados durante os três dias do 11º Congresso Brasileiro de Comunicação Corporativa, promovido na semana passada pela Mega Brasil, com o tema A Era Digital e a nova face da Comunicação. De tudo o se ouviu e discutiu, nas palestras apresentadas por agências de comunicação corporativa, profissionais, professores, jornalistas e relações públicas, uma conclusão foi inevitável: a comunicação deve fazer parte da estratégia de negócios das empresas e das políticas das instituições. As que ainda não perceberam essa inevitabilidade estão perdendo oportunidades ou ameaçadas de serem surpreendidas pela concorrência e pelo inesperado. ‘Viver em cena aberta’, sob o escrutínio permanente da platéia, é ter a alegria de ganhar aplausos, mas também correr o risco de ouvir desagradáveis vaias.

A Era Digital já está entre nós há tempos, mas avança a uma velocidade alucinante e impõe novas atitudes às empresas. Grandes corporações mundiais, especialmente aquelas cujos produtos e serviços têm sua imagem vinculada a comportamentos, navegam muito bem pelas novas mídias. Dominam o conceito de que comunicação na web não é uso de tecnologia, é relacionamento. Sabem que sites não devem ser passivos, funcionar como vitrines estáticas, mas têm que possibilitar que consumidores, clientes, fornecedores interajam com as empresas. Hoje, ferramentas de busca, como o Google e o Youtube, já viraram mídias propriamente ditas. Há técnicas para postar as mensagens de modo a facilitar o seu encontro rapidamente pelos navegadores. O relacionamento com a comunidade não é mais apenas com a vizinhança da empresa. Nos dias que correm, a comunidade ganhou a dimensão mundial da internet. Uma política desastrada com o bagre do rio vizinho pode ganhar severas críticas em uma conferência do Greenpeace em Paris – e de lá ganhar a mídia mundial.

E há o mundo dos blogs, o ilimitado mundo dos blogs, no qual qualquer mortal dá o seu palpite, elogia, critica, influencia outros, cria redes sociais, espaços de discussão e mobilização contra e a favor de empresas, instituições, governos. Nele, não funcionam as políticas de relacionamento com a mídia clássica, tradicional. Os interlocutores não são jornalistas que, teoricamente ao menos, trabalham dentro de certos parâmetros, operam com informações. São pessoas que dão opiniões, muitas opiniões, embasadas ou não.

Alguns dados a respeito, apresentados no Congresso:

20% dos internautas em todo o mundo visitaram mídias sociais nos últimos 30 dias

41% dos internautas brasileiros visitaram mídias sociais

70% dos internautas brasileiros acreditam nas mensagens da web

80% dos internautas esperam mudar atitudes das empresas ao postar críticas e comentários na web

22% dos blogueiros brasileiros querem colocar em discussão temas que a mídia não aborda

33% dos blogueiros recebem informações de assessorias

62% dos jornalistas dos EUA usam mídias sociais como fontes para matérias

Para navegar nesse novo, complexo e fluido universo de informações e opiniões sofisticam-se cada vez mais os instrumentos de medição e análise da repercussão das mensagens enviadas pelas empresas. Eles se tornam ferramentas estratégicas para a definição de políticas de comunicação corporativas. Não basta mais só acompanhar o que sai nas mídias tradicionais, o que já é um grande desafio. É preciso estar atento ao que circula entre blogs e mídias sociais, medir constantemente a reputação da empresa ou da instituição e agir ou reagir com rapidez. Importante, de todo modo, é ter a noção de que o mundo digital é mais um desafio, mais um espaço a ser trabalhado, que se soma ao relacionamento com a mídia tradicional, que está aí viva como nunca, ela mesma ocupando cada vez mais espaços na web, caminho obrigatório para a sobrevivência das empresas do setor – jornais, revistas, rádios e tevês.

Ficou claro no Congresso que sobre todo esse universo de ferramentas e atitudes deve sobrepor-se o maior dos instrumentos: a inteligência, a capacidade de propor estratégias, políticas e ações, a partir da análise das circunstâncias e da imagem da empresa em prol do fortalecimento de sua reputação e de seus negócios no mercado; ou em prol do fortalecimento e da reputação e da eficiência de instituições políticas e sociais. Inteligência – esse é o produto mais nobre que agências de comunicação, diretores de comunicação das empresas, jornalistas, relações públicas podem e devem oferecer aos seus clientes. É a inteligência que coloca a comunicação corporativa como parte da estratégia de negócios das empresas e das políticas das instituições.’

(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’

MURDOCH E A DOW JONES
Milton Coelho da Graça

Você compraria deles um carro usado?, 23/5

‘A família Bancroft, fundadora do Wall Street Journal, da mesma forma como as de outros grandes diários americanos, tinha um compromisso de integridade editorial, até porque consideravam que isso fundamental para o sucesso do jornal. Entre as condições para a venda ao ‘empreendedor’ Rupert Murdoch, os 53 Bancrofts vivos exigiram a continuidade daquele compromisso inicial. Mas a maioria, ansiosa para receber a bolada oferecida (mais de 50% acima do valor da empresa na Bolsa), aceitou a promessa de Murdoch sem respeitar aquela antiga e prudente regra dos nossos banqueiros do jogo-do-bicho: ‘só vale o que está escrito’.

Murdoch nem esperou completar o pagamento. Irritado com a demora na implementação de suas ‘sugestões’, demitiu o editor-chefe, Marcus Brauchli, aceito nas negociações com os Bancrofts e a redação como uma espécie de fiador.

Poucos dias antes, também era revelado que Murdoch é dono do mais caro apartamento em New York – na Park Avenue, com 20 suites e avaliado em cerca de 45 milhões de dólares.

Nada poderá agora impedir que o Wall Street Journal siga o caminho do veteraníssimo The Times, de Londres, que deixou de estar entre os jornais britânicos mais sérios depois de ser comprado por Murdoch. Mas, apesar disso, o Times passou a ser um dos mais lucrativos. E Murdoch promete também aumentar muito os lucros da Dow Jones, empresa proprietária do WSJ, com mudanças editoriais e o revolucionário plano de deixar de cobrar assinatura pela edição online e abri-la para publicidade.

Ou seja: quem sabe a melhor perspectiva financeira para a imprensa ganhar dinheiro seja mesmo deixar de lado a integridade editorial? Olhando hoje para nossas bancas chego a pensar que Murdoch já tem muitos discípulos por aqui. E faço a pergunta do titulo aos leitores da coluna.

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Qual é mesmo nossa taxa de desemprego?

A veterana e excelente repórter Denise Neumann, em sua coluna desta sexta-feira (23/05), no Valor, dá as pistas para entendermos melhor as informações que as redações recebem quase diariamente sobre emprego e desemprego, enviadas por IBGE, Ministério do Trabalho, Dieese, Ipea, CAGED, secretarias estaduais e outras instituições.Cada pesquisa dessas tem sua metodologia e acabo sem saber qual delas oferece um retrato mais significativo da realidade.

Um caso extremo – a cidade paulista de Braúna, com 5 mil habitantes, onde foram criados 2.516 empregos em abril passado, segundo o CAGED –conduz o fio da meada. Esses números aparentmente ilógicos se explicam pelo início da safra de cana, que atrai trabalhadores migrantes.

A partir do Boletim Regional do Banco Central, que revela haver ‘expressivo e contínuo aumento dos postos de ocupação para as categorias de trabalhadores mais qualificados e retração na oferta de empregos para os menos qualificados, tendência que se observa de maneira relativamente homogênea, em todas as regiões do país’.

Recentemente, diz Denise, o BC falou pela primeira vez em ‘desemprego natural’ – a taxa que indica o nível mínimo de desemprego que a economia suporta sem provocar a alta da inflação. Esse indicador ficaria entre 7,4% e 8,5% e Denise completa: ‘Ou seja, além da qualificação, também a quantidade pode estar dando mais argumento para que o BC reforce o aperto monetário. Parece conversa de maluco imaginar que o Brasil com tantos desempregados (a recente abertura de vagas para as obras do PAC, no Rio, recebeu 10 mil inscritos em apenas quatro dias e o último concurso da Petrobras para 2.611 vagas teve 451 mil inscritos) esteja perto de uma taxa de desemprego que traga riscos inflacionários’.

Paro por aqui na ‘cópia’ do artigo de Denise, que merece ser lido na íntegra por todos os interessados na questão do emprego – ponto crucial da política econômica – e dou o caminho das pedras (conteúdo só para assinantes: www.valor.com.br).

E sugiro também uma reflexão mais ampla a todos os companheiros das editorias de economia. Segundo a Pesquisa Mensal de Emprego, do IBGE, o número de trabalhadores com carteira assinada em abril (9,5 milhões) cresceu 9,5% em relação a abril de 2007. O desemprego teria chegado ‘a impensáveis 8%’, o menor valor da história, segundo uma consultoria privada. Mas a população ocupada, também segundo a PME – 21,4 milhões – representa apenas pouco mais de 20 por cento da população adulta do País, uma percentagem muito baixa se comparada aos critérios usados em outros países, tendo em vista os 190 milhões de brasileiros. A Rússia, com população mais ou menos igual à nossa, afirma ter 73,8 milhões em sua força de trabalho. O Paquistão, com cerca de 160 milhões, calcula 55 milhões. Os Estados Unidos, com 300 milhões de habitantes, calculam 73,8 milhões.

Se não são os mesmos critérios para o cálculo de ‘força de trabalho’ usado em outros países, sobre qual base o IBGE chega aos ‘impensáveis 8%’ de desemprego? O IBGE tem uma avaliação diferente do que seja ‘força de trabalho’ do país?

(*) Milton Coelho da Graça, 77, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se’

 

CURRENT
Antonio Brasil

Al Gore quer salvar o planeta e a TV

‘Ele não desiste. É o homem dos sonhos impossíveis. Tentou ser presidente dos EUA, salvar o planeta e ainda acredita no poder da TV. Não aquela TV tradicional dos grandes conglomerados. Mas a nova TV que surge na Internet. Ele aposta tudo na proposta de uma TV mais acessível e democrática, a Current TV (ver aqui).

Al Gore foi vice do presidente Clinton, recebeu o prêmio Nobel da Paz em 2007, mas é mais conhecido pelo público como o ‘quase’ presidente dos EUA. Apesar de obter a maioria dos votos populares, perdeu a eleição para o presidente Bush e para o bizantino sistema eleitoral americano. O que veio depois é história. O mundo nunca mais seria o mesmo.

Mas Al Gore não desiste. Continua sonhando e tentando o impossível. Nos últimos dias, concedeu entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera, ‘A era das palavras pode ser só um parênteses’, traduzida e publicada na FSP deste domingo (ver aqui, somente para assinantes). O subtítulo é uma frase de efeito e uma provocação: Para Al Gore, união entre internet e TV trará a adiada democratização da mídia

Procurei destacar alguns dos trechos mais polêmicos da entrevista:

Sobre o poder da TV:

‘Quem se importa com o que sai nos jornais? É a televisão que importa… Em duas gerações nós, nos EUA, passamos de zero tempo assistindo TV para uma média 4,5 horas por dia. Que outra atividade ocupa tantas horas por dia, exceto dormir?’

Sobre a TV tradicional e a sua nova proposta de TV na Internet:

‘Ela é feita sobretudo por um grupinho pequeno de pessoas. Ela não tem, hoje, o efeito democratizador que exerceu a revolução da imprensa. É por isso que acredito na Current TV. Ela permite às pessoas se comunicarem pelo meio mais poderoso, por meio de uma rede que é a mais aberta. Acho que ela poderá infundir vida nova ao processo democrático. Uma parte grande demais da televisão americana é movida pelo mínimo denominador comum: comandar uma audiência de massa, sem prestar atenção suficiente à natureza e à qualidade dos programas.’

Sobre as campanhas eleitorais na TV:

‘Quando a tipografia foi introduzida, ela lançou uma revolução no acesso à informação, até então controlado pelas elites. Com a transmissão de rádio e TV, isso ainda não aconteceu. Nos EUA, 80% dos gastos das campanhas são com anúncios de 30 segundos. Será que isso é coincidência?’

E sobre o poder das imagens e a democratização da TV:

‘As imagens atraem o cérebro humano desde que nossa espécie surgiu. É possível que algum dia a era das palavras seja vista como um parênteses… O vídeo, sob a forma da televisão, é de longe a mídia mais poderosa de nossa cultura, e a internet é a mídia mais acessível. Quando ambos se juntam, coloca-se mais poder nas mãos de cidadãos que têm acesso à criação e distribuição de TV via internet. Acho que isso tem um potencial enorme’.

Impossível visível

Você pode não concordar com Al Gore. Mas é impossível não admirar sua dedicação aos sonhos e propostas ‘impossíveis’. Quando ninguém sequer sabia o que era internet, ele já se dedicava a buscar fundos do governo e das grandes empresas americanas para desenvolver o seu sonho de ‘infovias de informação’.

Em outra oportunidade, no We Media 2005 (ver coluna A TV é uma ameaça à democracia) Al Gore também teve a coragem de prever o futuro. Em seu discurso de abertura ele fez um alerta: ‘Apesar das promessas e grandes avanços da internet em uma comunicação mais participativa, nos próximos 10 ou 15 anos, a TV ainda será o nosso principal meio de comunicação e fonte de informações’. E, diante de tantos executivos de TV, ele não hesitou: ‘A TV é uma ameaça à democracia. Segue um modelo de comunicação autoritário e está destruindo uma das bases fundamentais da nossa sociedade: o tradicional mercado aberto de idéias. Hoje, os políticos abandonaram o debate e só querem aparecer na TV’. Você pode ouvir o discurso do Al Gore aqui.

Hoje, o ex-vice-presidente americano aposta na convergência da TV com a internet. Parece mais um sonho. Mas talvez não seja. Afinal, para as novas gerações, jogar videogames em realidade virtual ou produzir vídeos, escrever com as imagens, pode ser tão fácil e atraente quanto escrever com palavras. Mera questão de aptidão, talento ou oportunidade. Tanto faz.

E como já dizia o grande Oscar Wilde, ‘Para escrever só existem duas regras: ter algo a dizer e dizê-lo’. Ou seja, o segredo sempre, foi, é e sempre será uma questão de conteúdo. A polêmica entre as palavras e as imagens é uma falsa polêmica. As palavras contêm imagens assim como as imagens nos despertam palavras. O importante é ter algo a dizer e dizê-lo.

Apesar das frustrações, decepções e críticas, Al Gore insiste, persiste e não desiste. Longe das discussões técnicas sobre o futuro da internet, ele insiste em acreditar no futuro. Insiste em querer tornar o impossível possível. Ou, pelo menos, mais visível.

(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Atualmente, faz nova pesquisa de pós-doutorado em Antropologia no PPGAS do Museu Nacional da UFRJ sobre a ‘Construção da Imagem do Brasil no Exterior pelas agências e correspondentes internacionais’. Trabalhou na Rede Globo no Rio de Janeiro e no escritório da TV Globo em Londres. Foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. É responsável pela implantação da TV UERJ online, a primeira TV universitária brasileira com programação regular e ao vivo na Internet. Este projeto recebeu a Prêmio Luiz Beltrão da INTERCOM em 2002 e menção honrosa no Prêmio Top Com Awards de 2007. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’, ‘O Poder das Imagens’ da Editora Livraria Ciência Moderna e o recém-lançado ‘Antimanual de Jornalismo e Comunicação’ pela Editora SENAC, São Paulo. É torcedor do Flamengo e ainda adora televisão.’

 

MEIO AMBIENTE
Carlos Chaparro

Aviso à Esplanada: cuidado com os asteróides!, 19/5

‘O XIS DA QUESTÃO – Nos últimos dias, o ambientalista Carlos Minc tomou conta do noticiário. Raramente a posse de um novo ministro provoca tamanho alarido. E nem haveria razões objetivas para que assim fosse. Mas Carlos Minc deu um show de auto-produção de notoriedade, na preparação da caminhada para os tapetes vermelhos do poder, em Brasília. E a notoriedade, como se sabe, é atalho dos mais eficazes para chegar às manchetes. Quanto aos asteróides, é preciso ler o texto.

1. O poder exercido da fala

É certo que a escolha de Carlos Minc para ocupar a cadeira vazia do ministério do Meio Ambiente se deu em cima da crise política provocada pela anunciada e nervosa demissão da notável Marina Silva. Reconheça-se, ainda, que Marina soube como se demitir também de forma notável, motivando uma discussão que ganhou espaço internacional e gerou incômodos de difícil digestão no Palácio do Planalto. Mas Carlos Minc não deve a nada disso o relevo alcançado pela sua chegada ao núcleo central do poder. Deve-o, sim, a ele próprio, e à enorme capacidade que tem e usa para definir lugar próprio nos cenários políticos em que atua. Daí, com agressividade que parece instintiva, mas que é quase sempre bem calculada, agita as águas em que se propõe singrar como herói.

Para agitar as águas, Carlos Minc usa a sua arma preferida, com a qual se mostra exímio lutador: a língua solta, sempre pronta e apta para frases acutiladoras, de efeito imediato. E quem ainda não havia descoberto tal atributo na biografia de Carlos Minc, soube-o agora, em poucos dias, depois que ele pousou em lugar de honra nos espaços da pauta jornalística. Com um truque simples e infalível: diz frases que os jornalistas adoram gravar e transcrever, para o sucesso das suas próprias ações.

Afinal, o que seria dos jornalistas e do jornalismo sem as falas e ações fortes dos protagonistas da atualidade? – e o novo ministro do Meio Ambiente sabe muito bem disso, desde os tempos da militância política estudantil, nas universidades do Rio de Janeiro.

2. Metralhadora verbal

Para os que duvidam do poder de ataque e defesa do arsenal retórico de Carlos Minc, eis uma pequena síntese do muito que em tão pouco tempo ele disse e fez com palavras, para as platéias políticas nacionais e internacionais – e uso aqui o que Dora Kramer resumiu em dois parágrafos, na sua coluna de domingo passado:

‘(…) De Paris, disse para Lula ao telefone que é pegar ou largar: só assume o ministério se tiver autonomia total; se o governo mobilizar sua base no Congresso para mudar a lei de licenciamentos ambientais; se puder montar a equipe à sua imagem e semelhança; se a equipe econômica não negar recursos à sua pasta; se não sofrer nenhum tipo de pressão política para aprovar projetos de impacto ambiental; se a questão da preservação estiver no centro das decisões econômicas.’

‘E avisou mais: considera ‘inaceitável’ ficar de fora das definições sobre política industrial; não vai permitir a derrubada de ‘um só hectare’ da Amazônia para produção de biocombustível; exige ingerência em assuntos de saneamento; pretende ‘aprofundar’ a defesa da Amazônia e quer logo começar mudando o Programa Amazônia Sustentável.’

Parece muito? Que nada!

Nos jornais de hoje (segunda-feira, 19/05), em novas conversas com jornalistas, Carlos Minc voltou a acionar a metralhadora verbal. Confirmou o propósito de propor a criação de destacamentos militares, para atuarem na proteção dos parques nacionais e das reservas extrativistas; garantiu que a floresta ‘não vai virar carvão’; e deu uma cotovelada política no quase colega Roberto Mangabeira Unger, propondo o nome de Jorge Viana, ex-governador do Acre, para a função de coordenador-executivo do Plano da Amazônia Sustentável.

E olhem que o homem ainda não tomou posse…

3. O perigo dos asteróides…

Aviso a quem possa pensar que este é um texto irônico: Carlos Minc sabe muito bem o que diz, por que diz e para que diz. É um protagonista que domina os conceitos e os truques da comunicação jornalística. E agora, para entrar no governo com luz própria, usa jornais e os jornalistas em ações discursivas que a mídia amplia. E vai sentar-se na cadeira de ministro fortalecido, com poder próprio, para defender e impor o espaço conquistado e a conquistar. Espaço que ele não quer pequeno nem apequenado.

*****

Além da formação intelectual (é professor licenciado do Departamento de Geografia da UFRJ, com mestrado em planejamento urbano e regional, e doutorado em economia), Carlos Minc tem história e carreira política respeitáveis. Nos anos mais recentes, em funções executivas no governo estadual do Rio de Janeiro, fez e disse algumas coisas importantes. Mas também se notabilizou como bem sucedido fabricante de factóides – e como curiosidade registre-se aqui que, embora tenha sido Cesar Maia o popularizador do termo, quem incorporou a palavra ‘factóide’ ao glossário jornalístico foi Alberto Dines, num artigo escrito alguns anos atrás, no qual nos presenteou com a seguinte definição: ‘O factóide está para o fato assim como o asteróide está para o astro’.

Lula que se cuide. Afinal, asteróide não é coisa com se brinque…

(*) Manuel Carlos Chaparro é doutor em Ciências da Comunicação e professor livre-docente (aposentado) do Departamento de Jornalismo e Editoração, na Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo, onde continua a orientar teses. É também jornalista, desde 1957. Com trabalhos individuais de reportagem, foi quatro vezes distinguido no Prêmio Esso de Jornalismo. No percurso acadêmico, dedicou-se ao estudo do discurso jornalístico, em projetos de pesquisa sobre gêneros jornalísticos, teoria do acontecimento e ação das fontes. Tem quatro livros publicados, sobre jornalismo. E um livro-reportagem, lançado em 2006 pela Hucitec. Foi presidente da Intercom, entre 1989-1991. É conselheiro da ABI em São Paulo e membro do Conselho de Ética da Abracom.’

 

JORNAIS POPULARES
Escola de Comunicação

Jornais populares lideram vendas no Brasil, 23/5

‘Os jornais populares cresceram nos últimos anos. No Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, os jornais populares estão entre os mais lidos: o Extra, do Rio de Janeiro, lido do Brasil, com mais de 3 milhões de leitores, de acordo com dados da Marplan. Na região sul, o Diário Gaúcho tem tiragem de 172 mil.

Atualmente há cerca de 10 jornais populares de grande circulação no Brasil. Os maiores são: Extra, Diário Gaúcho e Super Notícia. São Paulo, apesar de ser a maior cidade do País, não lidera as vendas de jornais populares e fica atrás do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Jornais populares de São Paulo, Agora São Paulo e Jornal da Tarde, custam acima de R$ 1,50. Já nos outros estados o preços variam de R$ 0,25 a R$ 1,00.

Para Bruno Thys, diretor de redação e editor responsável pelo Extra, a liderança do jornal no mercado brasileiro se deve a vários fatores. ‘O jornal é útil, didático e tem muitos suplementos especiais. O aumento de circulação dos jornais populares também é um reflexo do crescimento da classe C. Hoje o Brasil é formado por uma maioria da classe C’, avalia.

Sensacionalismo e entretenimento

Com um histórico sensacionalista de notícias sobre violência, fatos bizarros e fotos de mulheres seminuas, os jornais populares lutam para se livrar do estigma do sensacionalismo. Hoje, a maioria dos jornalistas acredita que o público não aceita mais este conteúdo, e que o fim do Notícias Populares é um exemplo disso.

Trecho do editorial da última edição do NP em 20 de janeiro de 2001 afirmava: ‘o projeto editorial do NP, baseado na denúncia da violência na periferia da Grande São Paulo, nas informações sobre sexo e nas fotos de mulheres em poses provocantes, é hoje ultrapassado para um jornal impresso’. Desta conclusão foi lançado o Agora São Paulo, também de orientação popular, mas com um conteúdo diferenciado.

Márcia Franz Amaral, autora do livro ‘Jornalismo Popular’, da editora Contexto, acredita que os jornais populares evoluíram, mas que a linha que separa o jornalismo do entretenimento é uma questão comum aos mais diversos jornais. ‘Compreendo que o grande problema do jornalismo atualmente é o apagamento da fronteira com o entretenimento. Quando uma matéria informa de maneira descontextualizada e singularizada, não está fazendo jornalismo e sim entretenimento’, avalia.

Mudança de linha editorial

Atualmente os jornais populares se voltam para pautas como serviço público, direito do consumidor, entretenimento, trabalho e saúde. Ainda existe espaço para casos policiais, mas este não é o foco do mercado popular. ‘Os jornais populares fazem boas reportagens, ganham prêmios, têm profissionais qualificados que buscam cotidianamente mudar o ponto de vista das matérias para atingir um público diferente do leitor tradicional de jornais’, afirma Márcia.

Para Alexandre Bach, editor-chefe do Diário Gaúcho, os jornais populares mudaram um pouco sua linha editorial.’Não vejo os jornais populares atuais apelarem para o sensacionalismo. Eles tratam de saúde, transporte e educação’, avalia. Para ele, o sucesso do Diário Gaúcho se deve ao preço e ao conteúdo. ‘O jornal é acessível e útil e as notícias têm impacto direto na vida dos leitores’.

Conquistando leitores

Os jornalistas admitem que o maior desafio de quem atua no jornalismo popular é conquistar o leitor diariamente, ser didático e se colocar no lugar dos leitores. ‘O jornalista dos jornais populares tem que abandonar o mundo em que vive e se colocar no mundo do leitor. É mais difícil escrever sobre uma realidade que não é a sua do que escrever sobre assuntos que fazem parte do seu dia-a-dia’, afirma Bach.

‘Os desafios dos jornalistas incluem: humildade para escrever sobre pessoas simples, para pessoas simples e de maneira simples; mudança de pontos de vista nas matérias; consciência das causas e conseqüências dos problemas sociais brasileiros e sobretudo conhecimento da realidade sobre a qual vão escrever’, conclui Márcia.

Outro desafio vivido no mercado de jornais populares é a conquista diária de leitores, já que a maioria não tem assinatura, apenas venda em bancas.’

 

 

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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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