Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Confusão na Dinamarca, sucesso na França, demissão nos EUA

A polêmica das charges continua – e parece não ter mais fim. Após o anúncio de que o jornal iraniano Hamshari iria fazer um concurso para publicar charges sobre o Holocausto, o editor de Cultura do dinamarquês Jyllands-Posten, primeiro a publicar os desenhos do profeta Maomé, afirmou, em entrevista à CNN, que o diário pretendia republicar as imagens satirizando a perseguição dos nazistas aos judeus e minorias. Flemming Rose chegou até a dizer que estaria tentando entrar em contato com o jornal do Irã. Um dia e muitos artigos publicados na imprensa depois, o Jyllands-Posten afirmou que, em nenhuma circunstância, aceitaria publicar os desenhos do Holocausto. Em seu sítio, o jornal alegou que a informação da possível publicação teria sido baseada em uma interpretação exagerada da afirmação de Rose.


Em meio a esta nova confusão, o diário dinamarquês distribuiu cartas à imprensa argelina pedindo desculpas pelas charges. ‘As caricaturas claramente ofenderam milhões de muçulmanos em todo o mundo e por estas razões pedimos desculpas e oferecemos nossos profundos ressentimentos pelo que aconteceu, o que não foi nossa intenção’, afirmava o texto.


Em relação a arrependimento, Rose também tem opinião contrária ao jornal no qual trabalha. Cinco meses após a publicação das charges do profeta e a polêmica causada por elas, o editor não se arrepende de tê-las publicado. ‘Acredito que seja como perguntar a uma vítima de estupro se ela se arrepende de ter vestido uma saia curta para ir a uma discoteca na sexta-feira à noite. Se você está usando uma saia curta, isto não significa necessariamente que você esteja convidando alguém a transar com você. Se você faz uma caricatura satirizando religiões ou figuras religiosas, isto não significa que você esteja humilhando, denegrindo ou marginalizando uma religião’, justificou.


Esta semana, os protestos continuam na Dinamarca. Cerca de mil sítios dinamarqueses foram invadidos por hackers islâmicos. As mensagens eram pró-Islã e contra as caricaturas do profeta, pedindo o boicote aos produtos locais e avisando aos dinamarqueses para se prepararem para uma resposta violenta. ‘Nunca vimos tantas invasões de hackers em um período tão curto de tempo. O que é extraordinário neste caso é a velocidade com a qual a comunidade se uniu’, informou Roberto Preatoni, fundador e administrador da Zone-H, serviço de monitoramento a hackers.


Edição esgotada


As cópias da revista semanal satírica Charlie Hebdo com charges de Maomé não foram expostas nas bancas francesas, mas escondidas no balcão – por precaução dos jornaleiros, que temiam que os cartuns na primeira página pudessem ofender os muçulmanos. Mesmo assim, as 160 mil cópias foram vendidas pela manhã e a revista disse que iria imprimir mais exemplares.


A revista publicou as charges do jornal dinamarquês, uma outra com o profeta encobrindo o rosto e dizendo ‘É difícil ser amado por idiotas’, e caricaturas referentes a outras religiões, como o cristianismo e o judaísmo, juntamente com a pergunta ‘Como é possível viver normalmente se você tem de se preocupar se está ofendendo alguém – desde sikhs (membros de seita religiosa hindu) a cientólogos, judeus ou testemunhas de Jeová?’. A Charlie Hebdo reúne cartuns satíricos com comentários críticos.


Veto e demissão


Editores do New York Press, jornal alternativo de Nova York que gerou críticas no ano passado por fazer pouco caso do fraco estado de saúde do Papa João Paulo II ao publicar uma lista dos ’52 fatos engraçados sobre a vindoura morte do Papa’, renunciaram ao cargo na quarta-feira (8/2), depois de terem sido proibidos de publicar as charges polêmicas de Maomé.


O editor Harry Siegel explicou no sítio do jornal New York Observer que ele e mais três colegas de trabalho do conselho editorial pediram demissão depois de receberem uma ordem para não publicarem as caricaturas. Poucos jornais americanos divulgaram os desenhos. Informações de John Plunkett [The Guardian, 8/2/06], da Reuters [8/2/06], de David Rennie [The Daily Telegraph, 9/2/06], de Alasdair Sandford [BBC News, 9/2/06] e de Gwladys Fouché [The Guardian, 9/2/06].