Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Crime, corrupção e narcotráfico

Em todo o território mexicano, desde a fronteira até Serra Madre, grupos criminosos e narcotraficantes controlam a cobertura informativa. Utilizam assassinatos, sequestros e ameaças para censurar a imprensa. Também corrompem jornalistas para conseguir uma cobertura noticiosa favorável ou para atacar seus inimigos.

Neste novo informe, ‘Silêncio ou morte na imprensa mexicana’, o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) revela como o crime, a violência e a corrupção promovidos pelo narcotráfico devastaram a imprensa e minaram os direitos dos cidadãos à livre expressão e ao acesso à informação. ‘O governo está perdendo tanto a guerra da informação como a guerra nas ruas’, escreve o diretor do CPJ, Joel Simon, no prólogo do informe, que está disponível na internet e em formato impresso, tanto em sua versão em espanhol como em inglês.

Mais de 30 jornalistas foram assassinados ou desapareceram no México somente nos últimos quatro anos, segundo o registro do CPJ, um número que se iguala ao de países assolados por conflitos armados, como Iraque e Somália. A quase totalidade destes assassinatos não foi esclarecida, como consequência não apenas da negligência e incompetência das autoridades, mas, também, da corrupção generalizada entre as forças de segurança e funcionários do judiciário, especialmente em nível estadual e local, escreve Carlos Lauría, coordenador-sênior do Programa das Américas do CPJ e um dos autores do informe.

Um fracasso quase completo

Da cidade de Durango, no noroeste do país, Mike O´Connor, também autor do informe, relata o caso do repórter Bladimir Antuna García, que foi sequestrado em plena luz do dia em uma das principais avenidas e horas depois foi encontrado morto. As autoridades não fizeram praticamente nada para esclarecer este crime. ‘Como ninguém sabe quem assassinou o jornalista Antuna García’, relata O´Connor, ‘os jornalistas dizem que a investigação jornalística sobre crimes foi praticamente paralisada.’

Isto está ocorrendo em várias cidades por todo o país, segundo conseguiu determinar o CPJ. Repórteres honestos são forçados a censurar-se ou a ocultar informações básicas do público. Em Reynosa, ao longo da fronteira nordeste com os Estados Unidos, o cartel do Golfo controla quase todos os aspectos da vida cotidiana – incluindo o governo, os órgãos de segurança e a própria imprensa. ‘O controle do cartel é tão extenso que policiais, taxistas e vendedores ambulantes agem como espiões, vigiando as patrulhas do exército mexicano, observando os narcotraficantes rivais, monitorando os investigadores federais e espionando, inclusive, seus concidadãos’, escreve O´Connor.

No informe, o CPJ examina a inabilidade do presidente Felipe Calderón Hinojosa e do Congresso em abordar esta devastadora situação. ‘Os próprios governos estaduais e municipais, tão profundamente corrompidos pelos grupos criminosos, continuam, em grande parte, responsáveis pelo combate aos crimes contra a livre expressão, incluindo assassinatos, ameaças e ataques a jornalistas e meios de comunicação’, relata Lauría. ‘Este histórico – um fracasso quase completo para fazer cumprir a lei nos crimes contra a imprensa – exige que o Congresso da União e o Poder Executivo ajam de maneira urgente para assumir a responsabilidade por esta crise nacional.’

O informe do CPJ insta o Congresso e o presidente a adotar reformas eficazes para federalizar os crimes contra a liberdade de expressão, designar às autoridades federais a jurisdição para investigar e processar os responsáveis pelos ataques contra a imprensa, e a outorgar responsabilidade pela execução destas ações a membros do alto escalão do governo nacional.

** Acesse aqui o informe completo em espanhol.

** A versão em inglês está disponível aqui.

** Informe multimídia do CPJ.

** Para obter cópias da versão impressa, escreva para development@cpj.org

** Para entrevistar os autores do relatório, contate o CPJ através de Magnus Ag no seguinte endereço eletrônico: mag@cpj.org

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O CPJ é uma organização independente sem fins lucrativos sediada em Nova York e se dedica a defender a liberdade de imprensa em todo o mundo