Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Crise nos jornais elimina cargo de crítico

As razões para a atual crise que atinge jornais em todo o mundo já se tornaram quase mecânicas, de tantas vezes repetidas em matérias jornalísticas explicando cortes de custos e reestruturação de redações: a oferta de informações na era da internet aumentou consideravelmente, os leitores migraram para o mundo online, e os anunciantes foram atrás. Para sobreviver, as publicações passaram a considerar novos meios de funcionamento: sucursais foram fechadas e editorias consideradas menos essenciais sumiram.

Nos EUA, os alvos da crise nos últimos meses foram as páginas de crítica de arte e literatura. Agora, os críticos de música clássica começam a sentir na pele as mudanças no setor jornalístico. Cargos foram eliminados, rebaixados ou redefinidos em jornais em Atlanta, Minneapolis e em outros locais do país. Na revista New York, Peter G. Davis, uma das mais respeitadas vozes no tema, diz ter sido obrigado a sair depois de 26 anos na publicação.

Se profissionais e apreciadores da área, que vêem nas análises e comentários parte vital desta arte, desaprovaram as novidades, diretores de orquestras e teatros de ópera protestaram com os editores. Os temores na música clássica, curiosamente, são parecidos com os do jornalismo impresso: taxada de ‘coisa antiga’, ela luta contra a queda de audiência e contra a decadência de sua importância na sociedade.

Tchau, tchau

No Atlanta Journal-Constitution, uma reorganização dos cargos levou à eliminação do cargo do crítico de música clássica Pierre Ruhe. O jornal recebeu reclamações do diretor de música da Sinfônica de Atlanta, Robert Spano, e do diretor-feral da Opera Atlanta, Dennis Hanthorn. Diante das críticas, a editora Julia Wallace declarou que o cargo de Ruhe havia sido ‘apenas renomeado’. Ele agora será chamado de ‘repórter-crítico de arte’ e poderá continuar a publicar resenhas sobre música clássica.

Em Minneapolis, o crítico do Star-Tribune, Michael Anthony, aceitou um pacote de demissão voluntária quando seu cargo foi eliminado, durante uma onda de cortes na redação. ‘Eles não me demitiram’, afirmou. ‘Demitiram meu trabalho’. A saída de Anthony também rendeu protestos em uma cidade conhecidamente musical – cercada pela Minnesota Orchestra e a St. Paul Chamber Orchestra. Lani Willis, diretora de comunicação da Minnesota Opera, escreveu em um artigo no Tribune que o fim do cargo foi ‘um grande golpe para as organizações de música, artistas e para o público’.

Já Davis, da New York, diz ter sido forçado a sair por uma diretoria que não valoriza a música clássica. ‘Ficou claro que música clássica é cada vez menos um interesse para eles’, afirmou, depois de ouvir dos patrões que a revista não mais precisava de um crítico em tempo integral e que a cobertura do assunto seria ‘tratada de maneira diferente’.

Luz no fim do túnel

Críticos no Chicago Sun-Times e no Columbus Dispatch também já haviam aceitado participar de programas de demissão voluntária, e hoje as resenhas são feitas por freelancers. Mas nem tudo está perdido. Com a diminuição de espaço nos jornais impressos, a crítica de música clássica migrou para a blogosfera.

Além disso, alguns diários americanos, como Washington Post, Los Angeles Times e Boston Globe, ainda mantêm seus críticos. No New York Times, há uma equipe com três críticos fixos e três freelancers, além de um repórter e um editor para música clássica e dança. ‘O Times tem um compromisso com a música clássica não apenas em Nova York como em todo o país e no exterior’, diz Sam Sifton, editor de Cultura do jornalão. ‘Rumores sobre a morte da música clássica são exagerados. Há muito o que se cobrir, e precisamos de muitas pessoas para esta cobertura’, defende. Informações de Daniel Wakin [The New York Times, 9/6/07].