Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Crítica diária

27/9/07

Memória curta

A Folha informa hoje, na reportagem ‘Senadores acabam com sessão secreta em caso de cassação’ (pág. A8): ‘Foi a primeira derrota de Renan [Calheiros] desde que foi absolvido no processo de quebra de decoro no caso Mônica Veloso, há duas semanas’.

Há oito dias, o jornal titulou em alto de página: ‘Renan volta e tem a 1ª derrota no plenário’ (pág. A5 de 19 de setembro).

No dia seguinte, outro título: ‘Renan vai ao Planalto e perde outra no Senado’ (pág. A4 de 20 de setembro).

Ou o leitor acredita nos relatos anteriores ou no de hoje. São incompatíveis.

Serra sem gafe

Em discurso na posse do presidente da Fapesp, o governador José Serra trocou ontem a sigla da fundação e pronunciou ‘Sabesp’.

Para a Folha (‘Serra pede ênfase na pesquisa básica’, pág. A32), foi um ‘lapso’.

Tudo bem, pode ser. Mas por que outros políticos, com enganos semelhantes, cometem ‘gafes’, nas descrições do jornal?

Ou se padroniza ou vão imperar dois pesos e duas medidas.

Complexidade pós-moderna

O texto de alto de página ‘Serra pede ênfase na pesquisa básica’ se concentra no debate sobre prioridade à ciência básica ou à ciência aplicada.

O jornal esqueceu, contudo, de explicar os conceitos, condição elementar para entender as opiniões. O leitor não é obrigado a conhecê-los.

Há uma declaração (‘A pesquisa aplicada é a aplicação da pesquisa básica…’) cujo autor pode ser tanto Serra como o novo presidente da Fapesp, Celso Lafer.

Nada contra falar em ‘enfrentar a complexidade pós-moderna’, mas, antes, é preciso dizer o que são ciência básica e ciência aplicada e quais as conseqüências da ênfase que o governador dá à primeira.

Mudança para pior

A manchete da edição Nacional e da edição São Paulo é a mesma: ‘Provas do valerioduto são muito boas, diz procurador’.

A linha-fina, não.

A da edição Nacional: ‘PSDB enquadra Azeredo por afirmar que verba de campanha beneficiou FHC’.

A da edição São Paulo: ‘Antonio Fernando não antecipa se vai denunciar ministro Walfrido’.

A segunda linha-fina é a antinotícia.

A primeira, não, embora talvez o verbo indicado não fosse ‘enquadrar’.

Manchete do ‘Jornal do Brasil’: ‘Mensalão na campanha de FH abre crise no PSDB’.

Outra

Com menos espaço editorial, a primeira página da edição São Paulo retirou a chamada da edição Nacional ‘Cubanos foram abandonados, afirma Itamaraty’.

Uma pena.

Era mais importante, pelo menos, do que ‘Menina de Marrocos não é Madeleine’.

Painel do Leitor?

O Painel do Leitor abre hoje com carta de José Serra que deveria estar na editoria que publicou a notícia comentada pelo governador, e não em um dos poucos espaços do jornal à disposição dos leitores que não são celebridades, autoridades, assessores.

Principal concorrente local da Folha, o ‘Estado’ está publicando cartas (pelo menos algumas) de órgãos públicos nas editorias apropriadas. Como se pode conferir na pág. C3 do caderno Metrópole de ontem, com mensagem da Prefeitura de São Paulo.

A receita publicitária é um dos elementos fundamentais para assegurar a independência jornalística de uma publicação.

No entanto, o anúncio de hoje da pág. A5, com formato esdrúxulo, prejudica os leitores, invadindo espaço que não está claramente caracterizado como de publicidade.

O anúncio foi publicado em vários jornais.

Secretaria de Curto Prazo

O nome acima foi citado pelo Painel como brincadeira sobre a decisão do Senado que derrubou a criação da Secretaria de Planejamento de Longo Prazo.

A reportagem da Folha sobre o tema (‘Senado rejeita secretaria de Mangabeira’, pág. A8) tem lacunas.

Que partidos votaram contra o governo? Para impor o placar de 46 votos a 22, não bastariam 14 senadores do PMDB.

Qual o partido de Mangabeira Unger?

O que o (ex) ministro tem a dizer sobre o resultado? Ele foi procurado pela Folha?

Boquinha

A Folha informa que ‘peemedebistas desejam a diretoria internacional da estatal [Petrobras]’ (‘Emendas da CPMF começam a ser votadas’, pág. A9).

O ‘Globo’ banca que o PMDB ‘vai nomear novos diretores para as áreas Internacional e de Abastecimento’.

O ‘Estado’ dá em manchete: ‘Pela CPMF, PMDB leva diretoria da Petrobras’. Na chamada, diz que ‘o mais provável é que o partido fique com a Diretoria Internacional’.

Boxeurs

É boa a reportagem ‘Boxeadores cubanos estão abandonados, diz Itamaraty’ (pág. A17).

Mas há um erro que deveria ser corrigido, referência ao ‘fato’ de Rigondeaux e Lara estarem ‘sem perspectivas de retomar as lutas profissionais’.

Só pode retomar os combates profissionais quem já passou pelo profissionalismo. Cem por cento da carreira dos dois pugilistas se desenvolveu no boxe amador. Na Alemanha é que eles iriam lutar como profissionais.

Notícia pela metade

A Folha dedicou uma retranca inteira a um atraso de ontem do governador (‘Serra atrasa 2 h e deixa crianças esperando’, pág. C4).

O jornal conta o que ocorreu, dá detalhes. Fez bem.

Por que não perguntou ou apurou o motivo do atraso? Não era um direito de Serra responder e do leitor de saber?

26/9/07

‘Lewandowski corintiano’

A Folha traz hoje um belo furo que não mereceu alto de página em Esporte nem chamada na primeira página da edição São Paulo/DF (na edição Nacional, destinada a um público menos interessado no Corinthians, ganhou discretíssima chamada na capa do jornal). O título interno: ‘Nelsinho assume por ‘grana’ e ‘publicidade’’ (pág. D1).

O caso lembra o episódio recente em que a repórter Vera Magalhães ouviu uma conversa do ministro Ricardo Lewandowski sobre o julgamento do STF que instaurou o processo do Mensalão.

Anteontem, o repórter Eduardo Arruda telefonou quase às 23h para o técnico Nelsinho Baptista, que acabara de ser contratado pelo clube mais popular do Estado onde a Folha é editada e o segundo com maior torcida no país.

Nelsinho atrapalhou-se com o celular, acionou-o, não respondeu ao jornalista, mas deixou, sem querer, o aparelho ligado. ‘Saio de casa, ganho uma grana [R$ 120 mil mensais] e faço minha publicidade’, disse o treinador a uma pessoa com quem conversava.

A comparação da edição da Folha de hoje com os outros jornais impressiona: quem só teve acesso aos eventos oficiais, publica as declarações de Nelsinho de que vai fazer e acontecer. E seus nobres propósitos.

Na Folha, surge o futebol profissional como ele é, contando o que houve, sem emitir juízo.

É absolutamente legítima a decisão de publicar o diálogo ouvido pelo telefone. O jornal não interceptou ligação nem cometeu ilegalidade. Jogou luz sobre a contratação do técnico.

É um fato que descortina a alma do esporte contemporâneo. Ressalta o contraste com encenações públicas. Por mais que seja direito de Nelsinho buscar ‘grana’ e ‘publicidade’.

É incrível que uma notícia assim tenha sido menosprezada pela Folha.

Para registro: foi alto de página o texto ‘Zé Roberto ‘ignora’ o 1º passo rumo à Olimpíada’ (D3).

Na primeira página, foi chamada: ‘Protagonista de ‘24 Horas’ é preso por dirigir embriagado’.

Senão: Nelsinho deveria ter sido ouvido ontem sobre suas frases escutadas por telefone na véspera.

Notícia fria

A manchete do jornal é previsível: ‘Walfrido afirma inocência e diz que fica no ministério’. Notícia quente seria se ele afirmasse o contrário.

Reconheço a importância de dar destaque ao outro lado e de ter obtido declarações exclusivas de Mares Guia. Mas identifico maior relevância jornalística nas afirmações de Eduardo Azeredo, seja sobre a presença de Walfrido ‘na campanha [de 1998] como um todo’ ou sobre recursos para comitês da campanha de FHC à reeleição.

Antijornalístico

Sei que nem sempre é possível operar milagres nos títulos que têm de caber em espaços pequenos, mas seria possível uma formulação melhor do que, na primeira página, ‘Relatório da CPI do Apagão não pede punição a diretoria da Anac’.

‘Não pede’ é expressão jornalística muito fraca, sem força nem apelo.

Lula na ONU

A análise ‘Números selecionados ajudam discurso’ (pág. A4) foi um diferencial bem-sucedido da Folha na cobertura do discurso do presidente da República sobre questões ambientais.

Pergunta e pergunta

Faltou uma pergunta na entrevista com Eduardo Azeredo (‘Azeredo afirma que ajudou na campanha de FHC em 98’, pág. A8), como observou um leitor: O sr. admite a hipótese de renunciar para escapar de eventual cassação?

Por outro lado, há uma levantada de bola incomum com os acusados (agora processados) pelo Mensalão: ‘Por que o senhor acha que esse assunto voltou à tona agora?’.

O direito de responder

O jornal deveria ter procurado o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para comentar as declarações do correligionário tucano Eduardo Azeredo sobre a campanha de 1998.

Ainda é tempo.

Bon$ amigos

Seria interessante um painel histórico sobre ‘bons amigos’ que pagaram (ou ‘pagaram’) contas para políticos: Walfrido a Azeredo, Okamoto a Lula…

Notícia duplicada

A prisão do ator Kiefer Sutherland foi publicada em Mundo (‘Ator de ‘24 Horas’, que promoveu carro no Brasil, é preso por dirigir bêbado’) e na Ilustrada (‘Ator que interpreta Jack Bauer é preso nos EUA’).

Lá…

Chamada da primeira página da edição internacional de ontem do El País: ‘As cidades periféricas de Brasília entre as mais perigosas do país’.

Título de alto de página: ‘A violência atormenta o cinturão de Brasília’.

O jornal cita a tentativa de assassinato do jornalista Amaury Ribeiro Jr.

… cá…

Alto de página hoje no ‘Estado’: ‘Força Nacional vai reforçar policiamento no Entorno do DF’.

Primeira página do ‘Globo’: ‘Força Nacional ocupa entorno de Brasília’.

Alto de página no ‘Globo’: ‘Força Nacional de Segurança chega ao entorno de Brasília’.

… e cá

Não vi notícia na Folha sobre o assunto.

A vida como ela é

É positivo que o jornal não dê destaque somente para atos de barbárie contra meninos de classe média para cima.

Considero, no entanto, exagero editorial conceder três altos de página para a morte de dois meninos cujos corpos foram encontrados na serra da Cantareira.

Para matar

Um homem em surto assassinou com um martelo a mulher e dois filhos, quebrou pelo menos 17 carros e não atendeu à ordem da Polícia Militar para se render. Estava sem arma de fogo. Um PM o matou a bala.

Qualquer cursinho básico de tiro ensina a diferença entre atirar para ferir e atirar para matar.

Um policial atirou para matar, e não para ferir –aparentemente, já que a Folha não informa onde o homem foi atingido.

A reportagem ‘Comerciante mata a mulher, os filhos e destrói 17 carros’ (pág. C5) não questiona a ação policial.

Sugestão de pauta: a que consta da carta ‘Polícia que mata’, no Painel do Leitor.

CPI do Apagão Aéreo

Depois de tanto papel e tinta gastos com a cobertura da CPI do Apagão Aéreo na Câmara, o relatório do deputado Marco Maia foi noticiado com discrição, em um quarto de página.

Entre as informações obrigatórias que faltaram está a comparação das declarações do relator durante os trabalhos da comissão com suas conclusões.

Por exemplo, ele afirmou que indiciaria (ou proporia o indiciamento) de uma ex-diretora da Anac cujo indiciamento não foi pedido.

O teor do relatório contradiz muito do que Maia e outros deputados anunciaram antes, diante de câmeras e microfones.

Assinatura e transparência

O texto ‘Jogador segue em tratamento e recebe apoio’ (pág. D3, sobre Ronaldinho) é assinado por repórter, apesar da distância entre São Paulo e a Catalunha. Não consta ter sido escrito com informações de agências internacionais. Mas tem declarações entre aspas.

Como o texto não traz informação exclusiva nem abordagem autoral, não deveria ser assinado. Essa prática, com assinatura até de relato de jogo assistido por TV, vulgariza o expediente jornalístico da assinatura.

O jornal tem obrigação de dizer como obteve as frases entre aspas, já que não estava no treino do Barcelona. Se usou apuração alheia, a informação é obrigatória. Se foi no site do clube, também. Idem se fez entrevista por telefone ou e-mail com o técnico do Barcelona.

25/9/07

Sem (muitas) notícias

Como andam as investigações policiais, jornalísticas e do Ministério Público sobre o valerioduto mineiro, falcatrua que deve gerar denúncia da Procuradoria da República nos próximos dias?

A Folha publica declarações do governador José Serra sobre seus companheiros de PSDB Aécio Neves e Eduardo Azeredo. E uma nota sobre pedido de documentos do MP de MG ao STF.

O valerioduto original aparece em ‘Caso Walfrido ameaça ação pela CPMF’ (pág. A6), mas não é o centro da reportagem.

A propósito, chamar o valerioduto mineiro (ou valerioduto tucano) de ‘Caso Walfrido’ configura desequilíbrio editorial.

Notícia no lugar certo

A reportagem ‘Dutra, na BR, defende aliados na ‘máquina’’ (pág. A6) está no espaço correto: o noticiário político de Brasil. (Há chamada na primeira página, ‘Ex-presidente da Petrobras defende cargos para aliados’.)

No sábado, o texto ‘Petrobras inicia trocas e reacomoda petista’ saiu em Dinheiro. Como tratava mais de política do que de negócios, deveria estar em Brasil.

Notícia histórica; não para a Folha

O ex-presidente do Corinthians foi flagrado em uma conversa telefônica dizendo que o título de 2005 foi ‘roubado’.

É uma afirmação de relevo histórico.

Mas não rendeu na primeira página mais destaque do que a contratação de Nelsinho como técnico da equipe ou o estudo do seriado ‘24 Horas’ em uma universidade americana.

Em Esporte, o acerto com Nelsinho também foi considerado mais importante.

O grampo de Alberto Dualib não mereceu alto de página. Mas mereceram ‘Ex-sorveteiro brasileiro ofusca Beckham nos EUA’ e ‘Desfalque da Davis é pego no doping’.

Notícia errada

Ao revisitar a edição de sábado, deparei-me com a escalação do Corinthians campeão mundial de 2000 (quadro ‘Dois clubes’, pág. D2): há dois ‘Ricardinho’ escalados. Não seria, um deles, Marcelinho?

Notícia quente

É boa a reportagem ‘Governo libera mais para quem apóia CPMF’ (pág. A5). Há transparência sobre a fonte, cruzamento feito pela Folha a partir de dados coletados por assessoria do DEM.

Talvez não fosse o caso de dar o título (talvez fosse), mas deveria haver destaque (na linha-fina ou na ‘lupa’) para a classificação de dois irmãos de Renan Calheiros entre os três deputados mais agraciados com verbas para suas emendas. O título alternativo poderia ser ‘Governo libera mais para irmãos de Renan’.

Notícias de Nova York

Ficou boa a edição da visita do iraniano Mahmoud Ahmadinejad a Nova York, apesar da ausência de repórter da Folha na Universidade Columbia.

Notícia bem explicada

A capa de Dinheiro (‘Bolsa volta a bater recorde e zera as perdas com a crise’) tem um mérito que muitas vezes falta ao noticiário financeiro: é didática, traduz informações que não têm mistério para os iniciados, mas que, para muitos leitores, não estão claras. Exemplo: o que representam os pontos da Bovespa.

Notícia…

A capa da Ilustrada (meia, na verdade) e uma página interna são dedicadas ao estudo da série de TV americana ‘24 Horas’ em curso de direito na Universidade Georgetown (‘‘24 Horas’ vira disciplina universitária’, pág. E4).

… e notícia

Já o Globo dedica a capa do Segundo Caderno a um artigo do ator (e jornalista) Wagner Moura, protagonista do filme mais falado do ano e que ainda dará muito o que falar: ‘‘Tropa de Elite’ não é fascista’. É uma resposta ao artigo de sábado do colunista Arnaldo Bloch, ‘‘Tropa de Elite’ é fascista?’. No caderno do Globo dedicado ao público juvenil, o Megazine, o articulista João Paulo Cuenca afirma que o filme ‘é de um reacionarismo que talvez não tenha paralelos na história do cinema nacional’.

A Folha, que fez uma cobertura independente e corajosa da recente ação policial no complexo do Alemão, em contraste com boa parte do jornalismo brasileiro, deveria apostar nos debates estético e político (que não necessariamente se misturam) sobre ‘Tropa de Elite’.

24/9/07

Domingo, dia de Datafolha

Talvez ainda não seja o caso de uma ‘teoria da dependência’, mas as oito últimas edições dominicais estiveram marcadas pela publicação de pesquisas do Datafolha. Em quatro delas os levantamentos renderam manchete. Em duas, chamada no alto da primeira página, acima da manchete.

É inegável o fascínio da Folha por porcentagens. Mas o destaque às pesquisas talvez indique a ausência de reportagens que possam rivalizar pelo espaço mais nobre do jornal.

Ontem, por exemplo, se não fossem os números do Datafolha sobre fumantes, qual seria a opção? Talvez ‘Lançamento de ações impulsiona a formalização’ –manchete sem encanto para uma edição de domingo.

Registro: ancorado no trabalho do Datafolha, Cotidiano fez uma boa edição sobre o esforço para parar de fumar.

Os oito domingos passados e a onipresença do Datafolha:

1) Ontem: ‘69% dos fumantes tentaram parar e não conseguiram’ (manchete).

2) 16 de setembro: ‘Kaká, Ronaldinho ou Robinho? Datafolha revela jogador mais admirado e time preferido dos brasileiros’ (chamada no alto da primeira página, em três colunas).

3) 9 de setembro: ‘Metade do país não faz exercício, revela pesquisa’ (manchete).

4) 26 de agosto: ‘Pesquisa Datafolha mostra os melhores hospitais de SP segundo os médicos’ (chamada no alto da primeira página, em seis colunas).

5) 19 de agosto: ‘Bola pra frente – Ao contrário de juiz, 79% dos paulistanos acham que homossexuais podem seguir carreira no futebol’ (Revista da Folha, sem chamada na primeira página).

6) 12 de agosto: ‘Alckmin lidera disputa pela prefeitura’ (manchete).

7) 5 de agosto: ‘Crise aérea e acidente não afetam aprovação a Lula’ (manchete).

Fumantes demais

Linha-fina da manchete de ontem: ‘Pesquisa Datafolha mostra que 83% dos brasileiros querem interromper o vício; 200 mil morrem ao ano’.

Está errada: os 83% se referem ao universo dos fumantes, que representam 23% da população com 18 anos ou mais.

Na torcida

Espécie de linha-fina para o artigo intitulado ‘Mesquinharia moral’ (pág. 6 do Mais!): ‘Editor do ‘Financial Times’ desmascara Hitchens ao denunciar artimanhas metodológicas de ‘Deus Não É Grande’’.

Como observou um leitor, é impróprio o emprego do verbo ‘desmascarar’. Se o jornal quer tomar partido, que o faça em espaços opinativos, não na edição.

Articulista convidado

Leitores divergem sobre a presença de Renan Calheiros como autor de artigo na seção Tendências/Debates do domingo.

Penso que o jornal fez bem em publicar seu texto. O pluralismo recomenda a exposição de opiniões distintas e conflitantes. É o princípio editorial que explica a manutenção no elenco de colunistas da Folha tanto de José Sarney, um dos artífices da absolvição de Renan no plenário do Senado, como de Fernando Gabeira, um dos principais críticos do presidente do Congresso.

Valeriodutos

Com o noticiário sobre o valerioduto desenvolvido em torno de campanha do PSDB em Minas, seria muito útil aos leitores o jornal montar um quadro comparando os dois esquemas: o mineiro de 1998 e o federal no primeiro mandato de Lula.

Hino Nacional

A Redação é testemunha de que esta crítica diária não é focada em erros de digitação e português.

O registro a seguir se justifica pela insistência que o jornalismo demonstrou nos últimos anos em ‘denunciar’ que os atletas brasileiros não sabem cantar o Hino Nacional.

Pois ontem a Folha errou a letra do hino, como anotou um leitor, no (bom) texto ‘Eles não levaram na esportiva’ (pág. A11). Escreveu: ‘Ouviram do Ipiranga às margens plácidas…’.

Não há crase, como já ensinou o professor Pasquale.

É assim estranho mesmo: foram as margens plácidas que ouviram.

Sobre uma legenda de foto em que aparece a então reitora da PUC, há comentário jornalístico e afetivo na coluna de hoje de Juca Kfouri.

Universal

Merecia, penso, chamada de primeira página a reportagem ‘Empreiteiras de obras da Universal financiam PRB’ (pág. A4 do domingo).

Ibéricos

Como um leitor apontou, o mapa do quadro ‘Ao redor do mundo, em % de fumantes’ (pág. C18 do domingo) localiza como Portugal o que é território espanhol.

Reza o mito

Abertura da reportagem ‘Pós-feministas fazem de cabelos grisalhos seu libelo’ (pág. A23 do domingo): ‘Desde 1968, quando, reza o mito, queimaram sutiãs em praça pública, as mulheres americanas…’.

Uma leitora contestou, com razão: como assim, ‘reza o mito’?

Até fato histórico vai entrar na categoria do ‘suposto’?

Não é preciso ter vivido aqueles dias. Basta procurar no Google as fotos dos protestos em que sutiãs foram queimados.

Mestres da música

No caderno especial de domingo sobre a coleção com ‘20 grandes nomes do jazz’, afirma-se no ‘ABC do Jazz’ (pág. 4) que a autoria de ‘Someone To Watch Over Me’ é de Cole Porter.

Um leitor informa que é de George Gershwin.

No set

Ficou muito boa a cobertura da filmagem de ‘Blindness’ em Montevidéu (pág. A2 do domingo).

Pular corda

É oportuna e de bom gosto a reportagem-serviço de capa da Folhinha no sábado, ‘Eu pulo, tu pulas, ele pula… nós pulamos corda!’.

‘Um primor’, nas palavras da professora Doralice Araújo, de Curitiba, uma das leitoras mais atentas do jornal.

A hierarquia da PF

Não é função do ombudsman discutir as posições editoriais da Folha. Mas é a de zelar pela informação correta, inclusive nos espaços opinativos.

O editorial ‘Cacciola, a missão’ (sábado) se refere à substituição ‘do’ ‘superintendente’ da Polícia Federal.

A PF tem 27 superintendentes regionais, mas só um diretor-geral.

Imagino que o texto se referia ao diretor-geral Paulo Lacerda, recém-substituído, e não a algum dos superintendentes.

Falou ou não?

A reportagem ‘Congresso brasileiro reage a fala de Chávez’ (pág. A10 do sábado) afirma que o presidente da Venezuela ‘disse’ e se refere a ‘declarações’ suas, citadas entre aspas.

Já o título na primeira página é o seguinte: ‘Fala atribuída a Chávez irrita parlamentares’. A chamada se refere a uma ‘suposta fala’.

Afinal, falou ou não? Por que a diferença nos relatos?

‘Grupo de risco’

Leitores protestam contra trecho da reportagem ‘Nova vacina contra a Aids fracassa em teste clínico’ (pág. A31 do sábado).

O trecho: ‘Os voluntários foram escolhidos entre pessoas com alta vulnerabilidade, como homossexuais e prostitutas’.

Os leitores que me procuraram associam a expressão ‘pessoas com alta vulnerabilidade’ aos ‘grupos de risco’ tão citados no início da síndrome.

De fato, nos últimos anos li e ouvi que era anacrônico pensar em ‘grupos de risco’, quando a Aids são se limita mais a segmentos comportamentais específicos. Houve mudança mais recente?

Vitrine

Estreou no sábado o caderno semanal ‘Vitrine’, dedicado ao consumo.

A escolha do dia é boa. Jornalisticamente, os sábados costumam ser esvaziados. Além de serem ‘o dia’ para compras. A impressão é de que o formato revista seria mais indicado ao suplemento.

Gostei do que li/vi na edição inaugural. Os comentários sobre jornalismo de consumo/serviços costumam ser muito influenciados pelos interesses mais imediatos do comentarista.

Feito o registro, destaco o mais interessante: a ótima seção ‘Cobaia’, analisando seis modelos de tênis para corrida e caminhada. Não é desafio pequeno manter o nível.

Agradaram-me as seções ‘Crítica de loja’ e ‘Batendo perna’.

É saborosa a reportagem da colunista Danuza Leão sobre o comércio popular em Copacabana e no centro do Rio. Espera-se agora alguém ‘batendo perna’ na 25 de Março.

A capa, destacando a fotografia de uma cadeira ‘com encosto e assento recobertos de tapete de grama sintética’ pareceu pouco atrativa. Mas vai ver que é a minha antipatia por grama sintética e por móveis que, mesmo bem desenhados, aparentam ser pouco ou nada confortáveis…

Maioridade

Há exatos 18 anos, no dia 24 de setembro de 1989, Caio Túlio Costa publicava na Folha a primeira coluna dominical do ombudsman. Intitulava-se ‘Quando alguém é pago para defender o leitor’.

Tintim.

Resposta ao ombudsman

Recebi via Secretaria de Redação a seguinte mensagem do editor da Ilustrada, Marcos Augusto Gonçalves, com pedido de veiculação na crítica diária:

Gostaria de oferecer ao ombudsman, com essa mensagem, a oportunidade de se desculpar pela nota ‘Sem transparência’, da crítica interna de quinta-feira, dia 20 de setembro. De fato, chega a ser ofensivo supor que o caderno faria uma crítica do filme ‘Tropa de Elite’, por ocasião de sua primeira exibição pública, com base num DVD fraudulento, e, ainda por cima, preferisse esconder o fato dos leitores.

Grato,

Marcos Augusto Gonçalves

Comentário do ombudsman

Agradeço a mensagem e aproveito a oportunidade para comentar não apenas a cobertura sobre o filme ‘Tropa de Elite’, mas a relação Redação-ombudsman:

1) Em benefício da clareza, eis a nota ‘Sem transparência’: ‘Faltou uma informação na crítica ‘Tropa segue princípios do filme policial’ (pág. E4), em virtude de tudo o que ocorreu [a pirataria em DVD]: o crítico da Folha assistiu à obra em exibição patrocinada pelos produtores em sala de cinema ou no DVD pirata?’.

2) A nota anterior, ‘Vale a pena ver de novo’, criticava o fato de a reportagem de capa da Ilustrada da quinta-feira não ter informado quais são as diferenças entre o DVD pirata e o filme que seria exibido à noite em primeira sessão oficial para o público. Não era informação dispensável, pelo contrário. As revistas ‘Veja’ e ‘Época ‘abordaram as diferenças. Como a Folha anteontem.

3) Segundo a Folha no sábado, dois dias após a publicação da cobertura em questão e das observações do ombudsman, o filme ‘tem uma versão preliminar, com pequenas diferenças em relação à final, sendo vendida em cópias ilegais em DVD desde o mês passado’. Logo, esteticamente, o DVD não é ‘fraudulento’. Sua distribuição é ato criminoso, mas quem viu a pirataria assistiu praticamente ao que verá em tela de cinema.

4) Na nota, não supus nada. Minha suposição não escrita era, na verdade, a de que o crítico da Folha assistira ao filme em sessão para a imprensa, as chamadas ‘cabines’. Por quê? Por que li no ‘Jornal do Brasil’ que houve tal exibição, legítima e necessária para os jornalistas escreverem reportagens e os críticos analisarem os filmes antes da estréia. O que lamentei foi a ausência de informação aos leitores. Os leitores não são obrigados a saber como os críticos têm acesso aos filmes. O caso, com a obra pirateada antes do lançamento, exigia esclarecimento. Em muitos jornais e revistas, a comparação entre o DVD pirata e a versão final para os cinemas deixava claro que os repórteres/críticos haviam assistido à versão oficial e à pirata. Na Folha, sem comparação, era impossível saber.

5) Não escrevi que o jornal teria preferido esconder fato algum dos leitores. Critiquei a falta de informação. Para mim, não houve transparência (não afirmei que foi intencional, que houve dolo). Os leitores não são obrigados a adivinhar informações que não são publicadas.

6) Surpreende-me o tom da mensagem, que dá a ‘oportunidade’ para o ombudsman ‘se desculpar’. A abordagem é de ultimato e sugere intolerância e intimidação. Imagine se cada autor de livro, filme, peça de teatro, escultura, obras de arte em geral fosse reagir assim às opiniões dos críticos da Folha. O trabalho do ombudsman na crítica diária é o de… criticar o jornal. Reconheço que às vezes é muito, muitíssimo desagradável o jornalista suar para oferecer um bom produto e, no dia seguinte, o ombudsman apontar defeitos no trabalho (como repórter, vivi essa situação muitas vezes). Mas é parte do jogo. O que não é: esperar que haja identidade entre a opinião da Redação e a do ombudsman. Na nota, eu emiti opinião. Dar chance para ‘pedir desculpas’ (ou ver ofensa na opinião divergente, respeitosa e sóbria) não é tratamento que contribua para o saudável e necessário debate sobre o jornalismo.

7) É claro que o espaço está aberto a eventual nova manifestação de Marcos Augusto Gonçalves, jornalista que respeito e admiro e a quem quero bem.’