Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

É preciso estar atento e forte

Desde 1992, foram assassinados no Brasil 31 jornalistas e radialistas no exercício da profissão, segundo o CPJ (Comitê para a Proteção dos Jornalistas, na sigla em inglês). A maioria desses assassinatos ocorreu fora dos grandes centros.

Alguns desses profissionais, por atuarem em veículos da grande imprensa, acabaram destacados no noticiário nacional, como foram os casos de Tim Lopes, da Rede Globo de Televisão, Santiago Andrade, da Band, e Décio Sá, do jornal “O Estado do Maranhão”, que mantinha o seu blog do Décio.

A repercussão desses casos foi de amplitude nacional e internacional, acionando organizações patronais, sindicais e políticas, chegando à sociedade civil sob uníssono repúdio. Por outro lado, esse repúdio também se repetiu todas as vezes em que a imprensa deixou de tomar cuidado com a transparência, criando as chamadas vítimas da mídia.

Governantes e legisladores –a classe política, em geral– são os referenciais eternos, salvo raras exceções, acusando o jornalismo brasileiro de praticar um denuncismo irresponsável, principalmente em períodos eleitorais ou durante as crises políticas agudas.

Quando medidos por institutos de pesquisa, os bastidores, com os mais variados tons de marrom, nem sempre são percebidos pela opinião pública. Esse fenômeno é cíclico.

A revista “Imprensa” publicou sua primeira edição em 1987 ilustrando o descrédito da imprensa como instituição com um Pinóquio pós-moderno exposto na capa. Uma pesquisa do grupo Gallup mostrava o descrédito que o jornalismo brasileiro havia adquirido depois de 21 anos de ditadura militar.

Se fosse criada hoje, a capa mostraria a mesma instituição, provavelmente, bem creditada frente às demais da sociedade brasileira, segundo o Datafolha e o Ibope.

Talvez o fenômeno possa ser interpretado pela frase do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Carlos Ayres Britto: “A liberdade de imprensa é irmã siamesa da democracia”, quando da revogação da Lei da Imprensa, em 2009.

Explicava o ex-ministro do Supremo: “Uma não existe sem a outra. As duas caminham juntas, mantendo uma relação de mútua causalidade ou de retroalimentação. Quer salvar a democracia? Mantenha a liberdade de imprensa em sua plenitude. Quer salvar a liberdade de imprensa? Mantenha a democracia em sua plenitude”.

Nem as leis de imprensa desejadas por legalistas profissionais, que parem normas legais a torto e a direito, são capazes de melhorar a tautologia existente entre a imprensa e a democracia. A prontidão é a única atitude proativa.

Quanto mais a academia se debruçar sobre os conceitos estruturantes da filosofia política, quanto mais a sociedade assimilar a metalinguagem desenvolvida pelos ambientes profissionais, acadêmicos, jurídicos e políticos, mais a pauta da liberdade de imprensa será um valor e patrimônio defendido por toda a sociedade.

O Dia Mundial da Imprensa, comemorado no último domingo (3), os protestos ao estilo “Je Suis Charlie” e os a favor da liberdade de expressão na Venezuela estimulam um diálogo de múltiplas vozes que hoje compõem a polifônica realidade da comunicação contemporânea.

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Sinval de Itacarambi Leão, 72, jornalista, é fundador e diretor da revista “Imprensa”