Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

O espetáculo nosso de cada dia

Mais uma vez, não é de se admirar a forma como os meios de comunicação brasileiros cobriram o julgamento do caso Eloá. O assunto foi de grande repercussão em todos os meios de comunicação, mas principalmente na televisão, que obviamente possui os maiores índices de audiência e é o veículo onde a maioria das pessoas pôde acompanhar o caso.

Foi possível observar, ao acompanhar a cobertura do caso na TV, certo mimetismo nas notícias apresentadas, sem diferenciação de enfoques e argumentos. O que mudava eram apenas os repórteres, apresentadores e emissoras, não os argumentos, os gestos, as temáticas. Cada uma das emissoras exibia a notícia da mesma maneira. Não havia nenhum enfoque diferente nas informações e os excessos eram claros. A exploração da violência, do crime e tragédias pela televisão não constitui uma novidade – ademais, elas estão nos discursos e narrativas jornalísticas. O “mundo dos espetáculos” torna qualquer contexto, seja ele econômico, político, social ou cultural, uma sucessão de espetáculos ou mega espetáculos.

A Band, através de seu programa Brasil Urgente, foi, sem sombra de dúvidas, a que mais espetacularizou o julgamento do caso. Nos dias do julgamento, e mesmo após o julgamento, a única pauta era essa. Um excesso de repetições e uma exploração do assunto até não haver mais nada para se falar. O espetáculo do horror estava ali, sendo explorado minuto a minuto até que se esgotassem todas as possibilidades de novos assuntos. O crime, a violência, a tragédia foram o prato cheio para a televisão nesta semana. As cenas em que Eloá fora mantida em cativeiro eram constantemente retransmitidas, entrevistas com especialistas judiciários e a sede de justiça da população eram a cada minuto um espetáculo midiático sem precedentes.

Através de mais um exemplo diário de como a mídia constrói e vive espetáculos, parafraseando Douglas Kellner, percebe-se, de fato, que a experiência e vida cotidianas estão sendo moldadas e mediadas pelos espetáculos da cultura da mídia e pela sociedade do consumo. Isto é uma realidade, está presente em nossas vidas e não há como escaparmos dela.

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[Paula Roberta Santana Rocha é jornalista e mestranda em Comunicação pela UFG]