Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Unasul pede diálogo e decide apoiar Equador

A União de Nações Sul-Americanas (Unasul) decidiu neste domingo apoiar o Equador diante da ameaça do Reino Unido de invasão de sua embaixada em Londres para prender o fundador da Wikileaks, Julian Assange. A decisão foi tomada em uma cúpula de chanceleres na cidade equatoriana de Guayaquil, onde os participantes pediram que o impasse seja solucionado por meio de diálogo. O bloco, no entanto, não endossou a decisão do Equador de conceder asilo a Assange. A reunião acontece no mesmo dia em que Assange usou o balcão da embaixada do Equador em Londres para repreender os EUApor ameaçar a liberdade de expressão.

Representantes de 12 países reuniram-se após o conflito gerado com o Reino Unido depois que o país concedeu asilo diplomático ao fundador do WikiLeaks. A declaração final do conselho de chanceleres informa que os países devem manifestar sua solidariedade e respaldo ao país andino “diante da ameaça de violação do local de sua missão diplomática”. O chanceler do Equador, Ricardo Patiño, denunciou na quarta-feira (15/8) ter recebido um informe do governo do Reino Unido com ameaças de açõespara prender Assange.

No sábado (18/8), os governo de Brasil e Argentina adiantaram que sua posição será em defesa da inviolabilidade da embaixada equatoriana, segundo declarações feitas pelas chancelarias. O presidente venezuelano Hugo Chávez também assegurou que “o asilo é um direito internacional, mas a Inglaterra se nega a reconhecê-lo”. Em discurso à TV estatal, o líder disse que a invasão seria uma flagrante violação à soberania dos países.

Assange está disposto a responder pelas acusações

Um dia antes, o Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) convocou seus chanceleres para analisar o impasse entre Equador e Reino Unido pelo caso de Assange. A próxima reunião acontecerá no dia 24 de agosto, às 11h (horário local), na sede da OEA, nos Estados Unidos. A decisão foi aprovada com 23 votos a favor, dentre eles o do Brasil, cinco abstenções e três vetos.

O advogado de Assange, Baltasar Garzón, disse neste domingo que o fundador do WikiLeaks está disposto a responder pelas acusações mas quer garantias de que não será extraditado. Assange está na embaixada do Equador em Londres desde junho, tentando fugir de um pedido de extradição para a Suécia, onde enfrenta duas acusações de abuso sexual em 2010.

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Peço ao presidente Obama que renuncie à caça às bruxas contra o WikiLeaks”

O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, usou o balcão da embaixada do Equador em Londres neste domingo (19/8) para repreender os EUA por ameaçar a liberdade de expressão e apelou ao presidente dos EUA, Barack Obama, para acabar com o que ele chamou de caça às bruxas contra o WikiLeaks.

Da varanda da embaixada, onde Assange está abrigado para evitar a prisão pela polícia britânica, que quer extraditá-lo para a Suécia, ele disse que os EUA arriscaram manobras do mundo em uma era de opressão jornalística. “Sou grato ao povo e aos governos de Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, El Salvador, Honduras, México, Nicarágua, Peru, Venezuela e todos os outros países latino-americanos que defenderam o direito ao asilo”, afirmou. “Enquanto o WikiLeaks está sob ameaça, também o está a liberdade de expressão e a saúde de nossas sociedades. Peço ao presidente Obama que faça o correto: os EUA devem renunciar à sua caça às bruxas contra o WikiLeaks.”

A defesa da liberdade de expressão por Assange contrasta com o histórico de perseguição à imprensa independente por Correa, responsável pelo asilo. Mas o fundador do WikiLeaks pareceu não se importar com contradições em seu discurso, ao lembrar também a condenação de integrantes da banda punk russa Pussy Riotpor ofensas contra o presidente Vladimir Putin – antes de buscar o asilo na embaixada, Assange vinha mantendo um programa de entrevistas na TV estatal da Rússia. “Na sexta-feira, uma banda russa foi condenada a dois anos de prisão. Foi uma performance política”, lembrou. “Há uma unidade na opressão. Deve haver uma unidade absoluta e determinação como resposta.”

20 policiais vigiam embaixada 24 horas por dia

Para Assange, não deve mais haver “conversa fiada” sobre como levar aos tribunais organizações como WikiLeaks e o jornal New York Times – um dos primeiros veículos a publicar os documentos vazados pelo site.

O anúncio da realização do discurso na sacada do edifício preocupou seus apoiadores. Havia o temor de que agentes da polícia britânica o prenderiam se pusesse os pés fora do prédio. Um helicóptero sobrevoou o local por boa parte da manhã e do início da tarde – o discurso de Assange foi às 14 horas, no horário londrino. Para evitar investidas contra o ativista, diversos de seus partidários montaram acampamento ainda durante a semana em frente à embaixada e decoraram suas grades com faixas de apoio ao asilo diplomático concedido na semana passada pelo presidente equatoriano, Rafael Correa.

A segurança da embaixada foi reforçada desde a madrugada de quinta-feira, quando o chanceler Ricardo Patiño denunciou ter recebido um informe do governo do Reino Unido com ameaçasde ações para prender Julian Assange. Desde então, 20 policiais tomam conta da embaixada, 24 horas por dia.

ONU diz que Assange não é refugiado

Neste sábado, o governo da Austrália garantiu que manteve contato com Assangeem oito ocasiões desde que o ativista australiano se refugiou em Londres. As autoridades também confirmaram que se preparam para o caso de o fundador do site WikiLeaks ser extraditado para os Estados Unidos. O último contato com Assange teria acontecido dois dias antes de o Equador lhe conceder asilo diplomático e ele teria recusado a oferta de assistência consular, segundo nota do ministro das Relações Exteriores australiano, Bob Carr.

A ONU, por sua vez, afirmou que o fundador do WikiLeaks não é um refugiado, decisão que abriu uma crise diplomática com o Reino Unido. A agência da ONU para os refugiados (ACNUR) distingue o asilo político, que compete à organização humanitária, do diplomático, concedido por um país.

Na sexta-feira, o Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) convocou seus chanceleres para analisar o impasse entre Equador e Reino Unido pelo caso de Assange. A próxima reunião acontecerá no dia 24 de agosto, às 11h (horário local), na sede da OEA, nos Estados Unidos. A decisão foi aprovada com 23 votos a favor, dentre eles o do Brasil, cinco abstenções e três vetos.