Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Argentina denuncia “cerco” à imprensa

A imprensa da Argentina tem enfrentado “um clima crescentemente hostil” no último semestre, pressionada por “resoluções governamentais, manobras judiciais, declarações amedrontadoras de funcionários públicos, medidas de fato contra as mídias e ataques físicos a jornalistas”.

Com essa denúncia, a mais dramática do dia, o delegado argentino na 68.ª Assembleia-Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Daniel Dessein, deu o tom do domingo, na sessão de leitura de relatórios da Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação da entidade. Desde sexta-feira, cerca de 450 jornalistas e donos de meios de comunicação participam do encontro, no Hotel Renaissance, em São Paulo.

Na sessão foram destaque, também, os relatórios do Brasil (leia ao lado), da Venezuela, do Equador e do México, entre outros. Mas foi o depoimento argentino, acompanhado de um forte vídeo de 10 minutos sobre o que o governo Cristina Kirchner vem fazendo, principalmente contra o jornal El Clarín, que mais preocupou.

Em sua maior parte, o relato de Dessein detalha os métodos que o governo Cristina Kirchner tem utilizado para calar a mídia – um deles é o uso cada vez maior das verbas públicas em campanhas contra a mídia. Outro recurso do governo, apontou Dessein, é o uso escancarado das cadeias nacionais para falar a todo o País contra jornalistas e outros adversários.

“A presidente põe em perigo o direito da cidadania a estar informada”, afirmou Dessein. Segundo seu relato, 15 mil emissoras e jornais argentinos estão no momento sob ameaça. “O governo não intimida só jornais, mas todo cidadão que se lhe anteponha”, advertiu. Seu balanço revela que houve, no semestre, 161 ataques a jornalistas.

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“O acesso do jornalismo a fontes oficiais enfrenta cada vez mais obstáculos”, prosseguiu ele. “A presidente usou umas 20 vezes a cadeia nacional para fazer os mais diversos tipos de anúncios.” O foco central do governo é o diário El Clarín, que por criticá-lo vem sofrendo uma campanha pública cada dia mais forte. O governo deu o prazo de 7 de dezembro para caducar uma medida legal que o impede de tomar medidas legais para calar o jornal.

De manhã e à tarde, 26 relatórios foram lidos e submetidos a perguntas dos delegados na plateia. Os textos apresentados serão submetidos formalmente à aprovação do Conselho, na terça-feira, para compor o Relatório Final da Assembleia-Geral. Dos demais balanços nacionais, um dos destaques foi o Equador, onde “três jornalistas foram assassinados” e muitos “receberam ameaças e agressões físicas”. A representante da Venezuela, depois de mencionar a reeleição de Hugo Chávez, com participação de mais de 80% dos eleitores, dedicou-se a detalhar os casos de “pressão, de intransigência e de ameaças” e mencionou 213 violações da liberdade de expressão.

Ameaçado

Durante o encontro, o presidente da comissão, Gustavo Mohme, propôs que a SIP se pronuncie oficialmente sobre o “caso André Caramante”. Caramente, jornalista da Folha de S.Paulo, teve de deixar o País para fugir de ameaças feitas pelo recém-eleito vereador Paulo Adriano Telhada (PSDB), ligado à Rota. Em nome do jornal, Judith Brito disse que ele vai pedir ao Ministério Público que investigue a denúncia.

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[Gabriel Manzano e Roldão Arruda, do Estado de S.Paulo]