Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Correa usa eleição como batalha contra a imprensa

No Equador se conhece o WikiLeaks, e recentemente, o BananaLeaks. A coincidência de nomes não é casual: ambos são portais na internet que têm como missão publicar denúncias que, em geral, envolvem personagens políticos. O primeiro tornou famosa sua relação com o país depois que o presidente Rafael Correa deu abrigo a seu fundador, Julian Assange, argumentando que ele e o site representam liberdade de expressão.

O segundo ganhou fama com revelações que envolvem funcionários do governo e, há poucos dias, o próprio Correa. Aí está a diferença-chave. O site, de autoria desconhecida, já não está disponível depois de denunciar que o presidente teria duas contas não declaradas na Suíça.

– É um portal novo, apareceu em janeiro, mas as denúncias que fez até o momento têm fundamento, o que daria a ideia de que o tema das contas poderia ser (verdade). É suspeito o fato de ter sido retirado da internet – disse o analista político da Flacso, Simón Pachano.

Correa chamou a denúncia de “calúnia” e assegurou que assinava em cartório sua renúncia antecipada se tivesse “meia conta bancária na Suíça”. E disse que todo jornal que publicar essa “mentira” também deve assinar em cartório que, se for comprovado que ele não tem as contas, deve ser fechado.

Segundo dados do colunista Andrés Oppenheimer, especialista em América Latina, Correa recentemente fechou 19 rádios, um canal de TV e vários meios impressos, enquanto constrói um império midiático.

Cláusula polêmica

Carlos Lauría, do Comitê de Proteção a Jornalistas, em Nova York, destacou que quando o presidente assumiu, em 2007, só havia um meio estatal, a Rádio Nacional. Hoje, existem 17 meios governamentais: cinco canais, quatro rádios, três jornais, quatro revistas e uma agência de notícias. Em cinco anos, Correa fez 1.025 transmissões em rede nacional. Algo similar ao que ocorre na Venezuela com o presidente Hugo Chávez e na Argentina com Cristina Kirchner.

– A imprensa medíocre entende que ser livre e independente é estar contra o governo no poder, independentemente de acertos e erros, o contradizendo -disse Correa, ao “La Nación”.

Ele chamou os jornalistas de “pistoleiros da tinta” porque considera que a comunicação é uma faca de dois gumes e que o grande perigo é que inescrupulosos manejem os meios.

Em maio de 2011, os equatorianos votaram um referendo que, entre outras coisas, buscava controlar o conteúdo dos meios com a criação de um comitê. Apesar do resultado, a Assembleia Nacional ainda não aprovou a lei de comunicação que inclui o órgão regulador.

Uma das cláusulas mais polêmicas da reforma é a proibição aos meios de “fazer promoção direta ou indireta que tenda a favorecer ou prejudicar um determinado candidato”. A uma semana das eleições presidenciais, analistas temem que a lei abra uma brecha para a censura.

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[María Teresa Nielsen H., do El Mercurio]