Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Editor-chefe da Playboy é absolvido

O editor-chefe da Playboy indonésia, acusado de indecência pela publicação de fotos de mulheres quase nuas, foi inocentado na semana passada por um tribunal de Jacarta. O veredicto recebido por Erwin Arnada enfureceu muçulmanos conservadores que lutam para fechar a revista no país desde seu lançamento, no ano passado.

Centenas de conservadores, muitos deles membros da Frente de Defesa Islâmica, organização linha-dura que lidera os protestos contra a Playboy, fizeram uma manifestação em frente ao tribunal durante a leitura do veredicto. Eles bloquearam a passagem e gritaram frases de protesto. Policiais foram chamados para tentar manter a ordem.

Os promotores pediam dois anos de prisão – sentença considerada muito branda pelos conservadores. O juiz que cuidou do caso, no entanto, afirmou que os argumentos da acusação perdiam sua validade com leis aprovadas em 1998 que garantem a liberdade de imprensa na Indonésia. ‘Esta não é apenas uma vitória para a Playboy, é uma vitória para toda a imprensa do país’, afirmou Arnada em entrevista após o veredicto. ‘Esta decisão se tornará um precedente legal’.

Símbolo de indecência

Ao contrário da Playboy conhecida pelos brasileiros, a versão indonésia não publica fotografias de mulheres completamente nuas – elas vestem pouca roupa nas imagens. Grande parte da revista é preenchida por artigos sobre política e cultura e entrevistas com importantes artistas locais.

Ainda assim, no país que tem 85% de população muçulmana, conservadores islâmicos viram na Playboy um símbolo do que consideram a causa do declínio moral na sociedade. Logo após o lançamento da primeira edição, a revista teve seus escritórios em Jacarta atacados – foram atiradas pedras – e acabou mudando a redação para Bali.

As investidas contra a publicação intimidaram, por conseqüência, os anunciantes. ‘Infelizmente, há pouco apoio para nós aqui’, diz Arnada sobre o empresariado local. ‘Eles temem os conservadores muçulmanos. Perdemos todos os nossos anunciantes’. Hoje, a Playboy consegue se manter com a receita que vem de assinaturas.

Luta frustrada

Depois da publicação da primeira edição, o Partido da Justiça e Prosperidade, grupo político islâmico, introduziu no parlamento um projeto de lei para proibir publicação de pornografia e determinar como as mulheres devem se vestir e se comportar em público.

O fato de a lei ainda não ter sido aprovada após quase um ano é visto como um golpe aos ideais conservadores. A sentença favorável à Playboy representa outro balde de água fria neles. Arnada, que se disse aliviado com o veredicto, elogiou o juiz. ‘Ele se manteve objetivo durante todo o julgamento, apesar da grande pressão de organizações muçulmanas linha-dura’, afirmou. Informações de Peter Gelling [The New York Times, 5/4/07].