Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Eleitores da Califórnia não confirmam pesquisas

Muito se comemora e proclama o crescimento econômico-social brasileiro dos últimos anos. As instituições governamentais, religiosas, educacionais e financeiras se expandiram e fortaleceram, contribuindo na formação cidadã e cultural nas cinco regiões do país de maneiras variadas. O esclarecimento intelectual no Brasil, por outro lado, não acompanhou esse progresso; nas mais distintas classes sociais, o falso moralismo e a ignorância a respeito de assuntos polêmicos ainda são significantes.

A votação sobre a Proposta 19, em favor da legalização da maconha, realizada no estado da Califórnia na semana passada, terminou em fracasso para os defensores da proposta e em tom de festa na Casa Branca: aproximadamente 54% dos eleitores votaram ‘não’ confirmando pesquisas prévias realizadas pela CNN e pelo Los Angeles Times. Apesar disso, para o Drugs Policy Alliance – organização sem fins lucrativos que tem como objetivo acabar com a guerra contra as drogas nos Estados Unidos – isso não representa um resultado negativo. Segundo o diretor Steve Gutwillig, a Proposta 19 decididamente levou a questão da legalização ao centro da política americana, quebrando uma incômoda e ultrapassada espiral de silêncio a respeito do assunto.

Tabaco e álcool matam mais

Antes de questões jurídicas a respeito da droga, portanto, é no mínimo interessante que se tenha conhecimento válido a respeito do consumo da maconha. Droga não é demônio e, tragicamente, o pesquisador do entorpecente é rotulado, mesmo no ambiente acadêmico, como ‘drogado’ e ‘promotor do vício’. De qualquer forma, vamos a algumas verdades incômodas.

Primeiramente, os benefícios médicos da cannabis sativa são provados e as oportunidades econômicas são reais. Pouca gente sabe que a maconha também é fonte de matéria-prima. Há possibilidades de uso do cânhamo – a fibra extraída no cultivo – como remédio, combustível e até mesmo na alimentação. Assim sendo, proibir a planta da maconha é como proibir o álcool e o etanol por causa da pinga.

Pinga essa, aliás, que mata mais do que a droga ilegal. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, em um estudo realizado em 11 países, incluindo nosso Brasil orgulhosamente emergente, quase 9% das mortes contabilizadas têm relação com a indústria do tabaco; 3,2%, com o consumo de bebidas alcoólicas; e somente 0,4% com drogas proibidas, sendo a parcela relacionada à maconha insignificante – uma overdose de THC é cientificamente impossível. É uma enorme hipocrisia o cigarro no fim do expediente e a cerveja obrigatória aos domingos não serem tão restringidos socialmente.

Preconceito desmedido e infundado

Por fim, é bastante conhecido – mas ainda assim, nem de perto divulgado de maneira justa – que a política de repressão não tem funcionado. ‘É ineficaz, só gera mais morte e tiroteio. Tem muito mais gente morrendo na guerra do tráfico do que propriamente usando a droga. Eu vejo a questão das drogas como uma questão de saúde pública’, afirmou recentemente o ator Wagner Moura, de Tropa de Elite 2, que apoia a legalização. Por que, então, não pensar em uma alternativa legal e mais humana a respeito da maconha, a exemplo da Holanda e, mais recentemente, Argentina?

Todos esses são apenas fatos concretos que não podem ser ignorados pelo cidadão brasileiro. Minha luta pessoal é contra o preconceito desmedido e infundado em relação à erva. A legalização e descriminalização da droga certamente têm também suas falhas e defeitos, exigem cidadania e uma enorme responsabilidade. Mas se as expectativas políticas e financeiras a respeito do Brasil no cenário internacional estiverem corretas, não nos deveria faltar habilidade para repensarmos a opinião pública do país frente às drogas.

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Estudante de Jornalismo da UFU – Universidade Federal de Uberlândia