Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Emissora vai distribuir imagens para celulares

O canal de televisão al-Jazira surgiu por vontade pessoal de Hamad bin Khalifa al Thani, emir do Catar, com o objetivo de transformar seu país em centro cultural da região (Golfo Pérsico). Ali, no Oriente Médio, onde os meios de comunicação são controlados pelos Estados e sob forte censura, a al-Jazira trouxe algo de novo: uma forte conotação de independência e, desde o início, os jornalistas que lá trabalham têm toda a liberdade para procurar seus furos e suas hot news, motivo que muitas vezes os levou a serem acusados de sensacionalismo. Mas foi esse fator que lhe deu imediato sucesso junto aos espectadores de língua árabe, os quais, pela primeira vez podiam ter acesso e informações sem censura e sem serem ‘adoçadas’.

A al-Jazira impôs sua importância na cobertura da operação militar estadunidense ‘Desert Fox’ (1998) contra o Iraque. Depois, confirmou sua liderança (sempre regional) em 2000, com a cobertura completa da segunda intifada. Depois do 11 de Setembro de 2001, a al-Jazira tornou-se famosa também junto à opinião pública ocidental por ter transmitido mensagens em vídeo de Osama bin Laden.

Desde sua criação, esse canal televisivo não pára de surpreender; em novembro de ano passado, começou seu programa internacional em língua inglesa. Agora abre videonews para telefones celulares e pensa distribuir aparelhos nos ‘pontos quentes do mundo’.

Vídeo celular

Essa novidade foi inventada e está sendo dirigida por um pequeno mago da computação, Riyaad Minty, de 23 anos. Ele explica:

‘Lembram do vídeo do enforcamento de Saddam? Pois é, se acontecesse hoje, a pessoa que o filmou com o celular poderia nos ligar e nós teríamos condições de colocá-lo no ar diretamente pela internet ou pela televisão. Quantas pessoas estão em lugares onde acontecem tragédias, como o genocídio de Darfur [região da África entre o Sudão, o Chade e a República Centro Africana] ou os combates na Somália, onde certamente não existem jornalistas ou, se existem, não podem dar seu testemunho?’

O citizen journalism e a new media do tipo YouTube (na qual os usuários postam seus próprios vídeos), com as respectivas polêmicas, poderiam irromper no Oriente Médio, onde produziriam situações revolucionárias.

Não só a mídia européia e norte-americana está pensando no futuro. Minty veio da África do Sul, onde ganhou dinheiro criando um software house. Resolveu fazer essa nova ‘plataforma’, como se diz no jargão da new media, que gira em torno ao slogan ‘Al Jaze(New)Era’ e a uma idéia simples: a de partir dos meios que a tecnologia wireless, mms e iProdcasting possam permitir. Isso é extraordinário numa realidade muçulmana e o resto virá em seguida. Em poucas palavras, os sites e as televisões al-Jazira serão integradas em um único sistema de informação, o que representará um salto de qualidade.

É citado o exemplo do que poderia ser feito no Afeganistão, sempre mais off-limits para a imprensa, ocidental ou não – aquela controlada pelos talebans e a que não divulga os bombardeios da Otan contra civis. Se existisse um vídeo celular em cada lugarejo, muitas notícias chegariam enviadas pelas próprias vítimas.

Jornal impresso

Russel Merryman, chefe de redação da Aljazeera.net acrescenta algo importante: ‘Existem alguns princípios, um código ético, que fixa os limites do que vai ao ar, como o respeito à dignidade humana, pois se faz necessário conquistar a confiança do leitor. Portanto, creio que o momento da execução de Saddam não teria nunca ido ao ar. As questões sensíveis sempre serão discutidas. Mesmo que isso não impeça que a new media desafie abertamente o atual modelo de informações.’

Tudo bem, tudo certo, muito rápido e muito sucesso. Todavia, a al-Jazira não abre mão de coisas conservadoras e vai lançar um jornal tradicional, impresso em papel, com o mesmo nome que tornou famosa televisão e que será distribuído do Cairo ao Golfo – e, obviamente, nas importantes capitais do Ocidente.

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Jornalista