Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Enem dominou a cobertura educacional

Mais do mesmo. Assim podem ser definidas a divulgação e a repercussão dos resultados do Enem, tema de maior destaque nos jornais e revistas no período de 24 de abril a 4 de maio.

Como nos anos anteriores, o MEC disponibilizou os dados de maneira a induzir a comparação entre escolas; e repórteres de todos os veículos assim o fizeram. Nada mudou. Constatou-se que as escolas públicas têm pior qualidade que as privadas. Decretou-se a falência das redes estaduais de ensino. Visitas foram feitas às piores e melhores, na tentativa de explicar seu êxito ou fracasso. Veículos de circulação estadual ou regional trataram de comparar as médias das escolas locais com a nacional. Editoriais indignados foram produzidos.

Mas… ninguém lembrou a finalidade do Enem. Afinal, por que foi criado o exame? Avaliar aprendizagem de estudantes ou qualidade de escolas ou redes de ensino? É possível usar seus resultados para todas estas dimensões? Quem faz o Enem? Qual o seu público? Quem fica de fora?

Fundamental de nove anos

Por fim, todos os veículos manifestaram indignação diante do melhor desempenho de estudantes de escolas privadas, quando analisadas no seu conjunto. Apesar das ressalvas de especialistas sobre a impossibilidade de avaliar escolas a partir dos resultados do Enem, algumas reportagens (Folha de S.Paulo – 29/4 e 4/1 e Jornal da Tarde – 29/4), acertadamente, destacaram a vinculação entre desempenho satisfatório de escolas públicas e o quadro estável de professores. A informação apareceu como sendo um mérito da escola, ou de sua administração. Esta abordagem é delicada, pois induz à dedução de que outros estabelecimentos não têm as mesmas condições por ineficiência de sua equipe dirigente, quando se sabe que a precarização do trabalho docente, principal fator da rotatividade, é de responsabilidade da gestão pública.

Na homogeneidade que imperou na cobertura, dois textos trouxeram abordagens diferenciadas. ‘O que o ranking do Enem não nos conta’, texto de Antonio Góis, publicado na Folha de S.Paulo (20/4), e ‘Para educadores, só Enem não define a escola’, de Simone Iwasso, na Folha da Tarde (30/4), chamaram a atenção para aspectos perversos e equivocados do ranqueamento entre escolas. A seleção socioeconômica e a exclusão de estudantes com necessidades especiais de aprendizagem foram alguns dos temas abordados.

Conheça em www.observatoriodaeducacao.org.br análise crítica de características do Enem feita por especialistas.

O Jornal do Brasil (23/4) publicou reportagem sobre a implantação do ensino fundamental de nove anos. A medida, que gerou intenso debate público em 2006, quando foi aprovada a Lei 11.247/2006, não vem sendo pautada. Acertadamente, o texto lembra que a partir de 2010 será obrigatória a matrícula de crianças de seis anos no ensino fundamental, divulga os municípios que ainda não adotaram a nova organização e aponta os desafios dessa reestruturação, que, para muitos, se resumiu a mudar o nome das séries, sem as devidas considerações sobre o processo pedagógico.

Ensino de adultos

É importante que o tema seja abordado, sobretudo por jornais regionais, detalhando como a nova configuração do ensino fundamental vem sendo implementada em diferentes municípios.

Na edição de 27 de abril, a revista Época publicou interessante e sensível reportagem de Ana Aranha sobre a homofobia na escola. O tema, praticamente invisível até o momento, tem um bom gancho para ser abordado no projeto de formação de educadores para a diversidade. A iniciativa é coordenada pela Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transsexuais e financiada pelo MEC. Fica a sugestão para a produção de reportagens locais que verifiquem se e como o trabalho vem sendo difundido nos diferentes estados e municípios.

Leia em www.observatoriodaeducacao.org.br entrevista com Cícera Leite Gomes Barbosa, pesquisadora do tema.

Na última semana de abril, mais de 100 países, inclusive o Brasil, realizaram mobilização em torno da Semana de Ação Mundial pela Educação, que este ano teve como tema o direito à educação de pessoas adultas. No Brasil, a atividade é coordenada pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação que, entre outras atividades, organizou uma aula pública no Congresso Nacional no dia 28. Infelizmente, a atividade, que envolveu diferentes setores da sociedade civil, além de parlamentares, não foi tema em nenhum veículo.

******

Coordenadora do Observatório da Educação/Ação Educativa