Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Ensaio sobre um semanário de informação

A revista impressa é o meio de comunicação que procura notícias contextualizadas sobre os principais fatos ocorridos durante a semana. É necessário, então, que o material disponibilizado aos leitores seja abordado com clareza e, principalmente, objetividade jornalística.

O objeto de estudo deste ensaio consiste na análise da revista Época, publicada semanalmente pela Editora Globo, no período de 25 de fevereiro de 2008 a 7 de março de 2008. Foram analisadas quatro edições do veículo impresso, da 510 à 513.

A revista é composta de seis seções de reportagens denominadas Primeiro Plano, Brasil, Negócios & Carreira, Ciência e Tecnologia, Mundo, Sociedade, Saúde & Bem-estar, Vida Útil e Mente Aberta, distribuídas por aproximadamente 120 páginas.

A capa nem sempre traz a principal reportagem da revista e geralmente apresenta pseudo-eventos em que remete a um assunto, mas a reportagem correspondente aborda o tema com outro enfoque. Nas edições observadas, somente uma capa apresentava uma notícia factual, enquanto as demais abordavam assuntos relativos a sentimentos, jogos eletrônicos e problemas no trânsito. Poderíamos até considerar esta última matéria como factual, porém o conteúdo da reportagem não fazia referência a nenhum acontecimento específico que tenha originado a notícia. Portanto, conclui-se que ela poderia vir em qualquer edição da revista devido ao seu grau de importância.

Nova contextualização

O editorial do veículo localiza-se sempre na página 10 e apresenta as principais reportagens da revista, que não são necessariamente as presentes na capa e do seu site. O editor faz uma análise descritiva destas reportagens em que cita a rotina dos repórteres na construção das mesmas, além de elogiar incansavelmente a revista. Nestas quatro edições, o posicionamento da revista em relação aos temas apresentados no editorial não foi abordado demasiadamente.

As reportagens de capa não ocupam lugar específico na revista. Encontram-se nas seções que mais se enquadram ao tema. Por exemplo, na edição 510, que tratava da renúncia de Fidel Castro ao governo cubano, a reportagem situa-se na seção Mundo. Na edição 512, que tratava da exposição das melhoras do uso dos jogos eletrônicos, a matéria enquadrou-se na seção Ciência & Tecnologia. Observa-se que nestas reportagens a presença de fontes foi escassa, mas que, em sua maioria, houve posicionamentos contra e a favor dos temas. Também se nota que a revista costuma usar fontes pouco explícitas – por exemplo, em vez de especificar o nome e o cargo da pessoa que está testemunhando, a revista apenas diz que a informação foi da empresa no geral.

As principais pautas da Época são: política brasileira, meio ambiente (em especial a Amazônia), tecnologia e saúde. No tocante às matérias sobre a política no Brasil, a revista mescla matérias de denúncias de fraudes com as de elogios à economia nacional. Nota-se nestas reportagens uma certa falta de objetividade, já que geralmente não são expostas as opiniões das duas partes envolvidas, diferentemente das reportagens de capa, onde este trabalho é mais desenvolvido. Por outro lado, observa-se um desdobramento futuro destas reportagens, com nova contextualização e, geralmente, com fatos novos.

Importante é a conseqüência

Em relação às matérias sobre o meio ambiente, a maioria tem caráter de denúncia. Nas edições analisadas, duas trouxeram denúncias sobre o desmatamento e a falta de investimentos na floresta amazônica. Mas vale salientar que na edição 512 existe uma reportagem sobre um projeto de recuperação da Mata Atlântica. Seria o papel da revista, além da denúncia, também ressaltar estes projetos que simbolizam progresso na área ambiental ou produzir enquadramento temático.

Na pauta referente à tecnologia, predominam as informações da ordem do interessante. Lorenzo Gomis (1993), em seu ensaio sobre critérios de noticiabilidade no jornalismo, afirma que as notícias interessantes são facilmente notícia do dia, começam e terminam em uma mesma data e o único rastro que permanece são os comentários, que podem durar algum tempo mais.

As informações correspondentes às tecnologias dizem respeito ao lançamento de produtos, o sucesso que eles já fazem em outra parte do mundo ou os benefícios e malefícios que podem causar aos usuários. Na maior parte das vezes, não têm teor jornalístico importante para sair na capa da revista, por exemplo. Segundo Gomis (1993, p.5), o importante é o que terá conseqüências, pois o que permanecerá registrado na história é escasso; e o que é interessante é o que fará o povo falar, o que provocará comentários que formarão a realidade e é abundante.

Relevância do acontecimento

Nas pautas referentes à tecnologia e à saúde, o teor das reportagens corresponde ao público que a revista atinge, a classe média alta. Por isso, explica-se a presença de tantas matérias relativas a estes assuntos, principalmente na capa, embora não sejam as reportagens mais importantes do veículo; o que atende aos critérios relativos ao público. Esse evento ocorre devido à manutenção da empresa capitalista, em que é preciso vender o produto. De acordo com Gomis (1991), as notícias importantes não são obtidas com facilidade. Deste modo, costuma-se alimentar a espera ou ampliar o atrativo dos indícios com injeções de interesse. Há que oferecer programas atrativos, entretenimentos que fomentem a conversação para aumentar inserção da publicidade no periódico.

Essa postura capitalista remete à teoria da ação política, na qual as notícias respondem sempre às condicionantes parciais e são instrumentos para atender interesses particulares. Nelson Traquina (2004) declara que, na versão de esquerda, os media noticiosos são vistos como instrumentos que ajudam a manter o sistema capitalista, e na versão direita servem como instrumentos que põem em causa o capitalismo.

Quanto aos valores/notícia presentes na revista Época, observa-se a presença de vários critérios substantivos, entre eles o grau e nível hierárquico dos indivíduos envolvidos no acontecimento noticiável (principalmente no que diz respeito às notícias sobre política), o impacto sobre a nação e sobre o interesse nacional (presente nas notícias sobre política e também sobre o meio ambiente), a quantidade de pessoas que o acontecimento envolve (o público maior é atingido nas notícias referentes à tecnologia e saúde) e a relevância e significatividade do acontecimento quanto à evolução futura de uma determinada situação (presente somente nas matérias sobre política).

Processos de interação social

Os critérios relativos ao produto também estão presentes na revista, visto que há notícias que se referem a acontecimentos que surgem em cima do horário do fechamento da edição. É de se considerar que a revista não é um modelo comunicacional instantâneo, como a TV e o rádio, mas que ela não deixa de noticiar o factual; e mais, esse seu modelo permite aprofundar a discussão sobre os temas. Mauro Wolf (1987) sugere que o quadro temporal estabelecido pela freqüência da informação e pelo seu formato determina igualmente o frame em que é avaliada a atualidade ou não de um acontecimento.

Por fim, a revista Época enquadra-se na Teoria Construcionista Interacionista, pois ela reconhece a notícia como narrativa, marcada pela cultura dos membros que a consomem e pela cultura da sociedade em que está inserida, sendo necessário adequar a linguagem àquela que será mais facilmente absorvida pelo público-alvo. Segundo Nelson Traquina (2004), as notícias são o resultado de processos complexos de interação social entre agentes sociais: os jornalistas, as fontes, a sociedade e os membros da comunidade profissional.

Referências

GOMIS, Lorenzo. Do importante ao interessante: ensaio sobre critérios para a noticiabilidade no jornalismo. Salvador/BA. Calandra, 1993.

TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo. Florianópolis/SC. Insular, 2004.

WOLF, Mario. Teorias da Comunicação. Lisboa. Presença, 1987.

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Estudante de Jornalismo Universidade do Estado da Bahia, Juazeiro, BA