Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Estudantes feridos em novos protestos em Caracas

Leia abaixo a seleção de sexta-feira para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 9 de novembro de 2007


VENEZUELA
O Estado de S. Paulo


Novo protesto em Caracas: 14 feridos


‘Estudantes da Universidade Central da Venezuela (UCV), da Universidade Metropolitana (Unimet) e da Universidade Monteávila realizaram ontem diversos protestos em Caracas para condenar os atos de violência cometidos na quarta-feira contra alunos da UCV, que exigiam o adiamento do referendo sobre a reforma constitucional proposta pelo governo do presidente Hugo Chávez. De acordo com o jornal El Universal, 14 estudantes da Unimet ficaram feridos em confronto com a polícia de Caracas. Segundo a assessoria de imprensa da Unimet, os feridos passam bem. A maioria sofreu ferimentos leves após a polícia tentar dispersar a multidão utilizando gás lacrimogêneo.


As manifestações ocorreram nos arredores das instituições acadêmicas porque uma grande marcha que havia sido convocada para ontem foi cancelada por dirigentes estudantis. A decisão foi tomada para evitar novos confrontos entre partidários e opositores de Chávez. Outro motivo foi que os estudantes não conseguiram permissão da prefeitura para realizar o protesto.


A manifestação tinha como ponto de partida a UCV, e seu destino final era a sede da Procuradoria-Geral, onde os manifestantes tinham previsto entregar vídeos e outras supostas provas de que os conflitos da quarta-feira – nos quais oito pessoas ficaram feridas – haviam sido causados por chavistas.


Os estudantes também pedem a renúncia do ministro do Interior, Pedro Carreño, pelas declarações que deu após o incidente de anteontem. Carreño acusou manifestantes que voltavam da marcha na quarta-feira de atacar estudantes pró-governo ‘reunidos pacificamente’.


Ontem à noite, antes de embarcar para a cúpula ibero-americana no Chile (ler abaixo), Chávez liderou em Charallave, perto de Caracas, uma caravana de milhares de pessoas a favor da reforma constitucional.


O protesto de quarta-feira tinha como objetivo pedir ao Supremo Tribunal o adiamento do referendo de 2 de dezembro, alegando que a maioria da população não conhece o alcance da reforma e, portanto, não está capacitada a tomar uma decisão consciente no referendo popular.


O projeto, apresentado por Chávez em agosto e aprovado pela Assembléia Nacional na semana passada, prevê mudanças em 69 dos 350 artigos da Constituição de 1999. Entre as mudanças mais polêmicas estão a extensão do mandato presidencial de 6 para 7 anos, o fim da autonomia do Banco Central e as reeleições indefinidas – que permitiriam a Chávez perpetuar-se no poder.


Ainda ontem, a presidente da Assembléia, Cilia Flores, disse que pedirá ao Poder Eleitoral que investigue a propaganda da oposição pelo ‘não’ à reforma no referendo do dia 2. Para Cilia, a oposição estaria pregando um golpe de Estado.’


 


Professores culpam Chávez por choque armado


‘Estudantes e professores universitários venezuelanos acusaram ontem o governo de Hugo Chávez de ter armado o grupo que, na véspera, invadiu a Universidade Central da Venezuela (UCV) e atirou contra ativistas que voltavam de uma marcha de protesto contra a reforma constitucional proposta pelo presidente.


O presidente da Associação de Professores da UCV, Víctor Márquez, rejeitou as acusações do ministro do Interior, Pedro Carreño, que atribuiu ao estudantes anti-Chávez e à imprensa a tensão que causou o confronto. Pelo menos oito estudantes ficaram feridos nos choques – dois deles, baleados.


‘Carreño mente. Eles sabem exatamente de onde provém a violência’, disse Márquez, afirmando que o governo fez vista grossa à ação de três milícias chavistas – os grupos Colectivo Alex Vive, Los Carapaicas e Los Tupamaros. ‘Esses são os responsáveis, os grupos paramilitares pró-governo.’


Os líderes estudantis da UCV que convocaram o protesto reuniram 14 fitas de vídeo e 126 fotos para que fossem entregues à procuradoria, entidade que investiga os confrontos.


Em Washington, o governo dos EUA, por meio do porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack, também responsabilizou indiretamente Chávez pelos atos de violência. ‘É espantoso’, disse o porta-voz McCormack.


‘Essas pessoas estavam apenas protestando de forma pacífica. Não podemos dizer exatamente quem foi o responsável por isso, mas é uma boa indicação de como anda o atual clima político na Venezuela’, prosseguiu.


Em razão da turbulência política, autoridades do governo colombiano chegaram a informar ontem que o presidente venezuelano não viajaria para Santiago, onde se realiza a 17ª Cúpula Ibero-Americana. Mas, à tarde, Caracas confirmou a presença de Chávez na reunião, apesar dos protestos da direita chilena.


PERSONA NON GRATA


Em Santiago, grupos simpatizantes e opositores de Chávez enfrentaram-se na frente da Embaixada da Venezuela em Santiago. Em meio à confusão, o deputado direitista chileno Ivan Moreira tentou entregar na embaixada uma carta declarando Chávez persona non grata no país.


Cerca de 50 pessoas participaram da manifestação – atenuada pelo governo da presidente Michelle Bachelet que disse considerar atos de protesto ‘próprios de uma democracia’.


CHÁVEZ ‘SEXY’


Uma pesquisa encomendada pela maior central patronal do país, a Fedecámaras – sobre hábitos de consumo dos venezuelanos -, indicou ontem que Chávez é considerado ‘um dos homens mais sexies’ da Venezuela. O presidente aparece em quinto lugar, ao lado de astros da TV local. Em termos políticos, porém, a situação de Chávez não é tão favorável. Segundo uma sondagem do instituto Datanálisis, o presidente tem um índice de aprovação de 63%, mas apenas 34% disseram que votariam ‘sim’ na consulta popular sobre a reforma constitucional do dia 2.’


 


INTERNET
Gilberto Amendola


Morador registra barulho de ensaios no YouTube e Vai-Vai denuncia racismo


‘O publicitário Marcelo Vitorino, morador do Bexiga, é o autor de um dos vídeos mais polêmicos do YouTube acessados na internet ultimamente: trata-se do Vai-Vai me Deixar Dormir? Nele, Vitorino denuncia a tradicional escola de samba por desrespeitar a lei do silêncio, vender comida na rua e estacionar carros em locais proibidos. Nenhuma novidade para quem acompanha a velha pendenga, que tem como principais ingredientes o barulho da escola, os problemas de sono da vizinhança e, no fogo cruzado, a fiscalização da Prefeitura.


Mas o problema não pára por aí. O que está ‘pegando’ é o uso de um sucesso dos Originais do Samba como trilha sonora. No vídeo de Vitorino, o refrão da música Festa de Bacana ( ‘Se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão…’) acompanha imagens de um ensaio da Vai-Vai.


Tobias da Vai-Vai, o presidente da escola, considerou a edição preconceituosa e ofensiva. ‘O vídeo se refere a ícones afro-brasileiros (samba e carnaval) como sendo coisa de ladrão. Vamos processar Marcelo Vitorino por racismo’, disse. ‘Imagina se ele fizesse a mesma coisa com a comunidade judaica? Tenho certeza de que já estaria preso.’


O advogado da Vai-Vai, Hédio Silva Junior, conta que já formalizou a denúncia na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi). ‘O vídeo trata todos os freqüentadores da quadra como marginais. O autor do vídeo vai ter de responder por tudo isso.’


Vitorino nega qualquer intenção discriminatória. ‘A música é só ilustrativa. Eu poderia ter usado um funk, qualquer outra música’, disse. ‘Já fui chamado de nazista e neofascista por um jornal do bairro. Não é nada disso. A única coisa que fiz foi mostrar o sofrimento dos moradores com os ensaios da Vai-Vai.’


O vídeo foi gravado em dezembro passado. Vitorino diz que muitos moradores participaram da sua realização.’


 


DOCUMENTÁRIO
Luiz Carlos Merten


Na tela, as artimanhas da verdade


‘Desde que Jogo de Cena foi exibido fora de concurso no Festival de Gramado, em agosto – como parte da homenagem a Eduardo Coutinho, que recebeu um novo troféu criado pelo evento, o Kikito de Cristal -, muita gente se pergunta por que o grande diretor escolheu somente mulheres para seu novo trabalho. A resposta chega a ser singela – ‘Escolho o outro de mim. Se sou supostamente homem, nada melhor do que filmar supostamente mulheres, partindo de nossas diferenças anatômicas.’


Ele conseguiu, mais uma vez. Coutinho se iniciou na ficção, nos anos 60, e só nos 80 descobriu sua veia de documentarista, quando retomou o projeto de Cabra Marcado para Morrer, interrompido quase 20 anos, para fazer um filme que se tornou clássico. Mais tarde, após um período crítico que o silenciou durante vários anos, Coutinho voltou com outro documentário notável, Santo Forte, perfeccionando, nos anos seguintes, um método que culminou com Edifício Master, tão bom que foi considerado pela crítica – a Fipresci, Federação Internacional da Imprensa Cinematográfica – um dos cinco melhores filmes da Retomada, período do cinema brasileiro que começa com Carlota Joaquina, de Carla Camurati, em 1995. Como tal, Edifício Master integra o livro Cinco mais Cinco, lançado no Festival do Rio, a cuja editora está ligado, e ainda à espera de lançamento em São Paulo.


Coutinho chegou a um ponto em que parecia impossível obter mais verdade em seu cinema. Ele possui, como poucos diretores no mundo, essa habilidade rara de colocar as pessoas de tal forma à vontade diante de sua câmera que todo mundo faz revelações muito íntimas com a maior naturalidade, muitas vezes como quem se liberta de um peso. Tendo chegado tão longe na verdade, Coutinho incorpora agora seu reverso, a mentira. Para Jogo de Cena, que estréia hoje, ele colocou um anúncio no jornal, convocando mulheres para um teste de filmagem. Elas foram chegando e contando suas histórias. Coutinho selecionou algumas dessas histórias e pediu a atrizes que recriassem os depoimentos. Algumas delas são estrelas do teatro, do cinema e da TV. O público reconhece Marília Pêra, Fernanda Torres e Andréa Beltrão. Mas existem aquelas atrizes que não são tão conhecidas e criam uma nebulosa terra de ninguém.


Em vários casos, torna-se difícil, senão impossível, determinar quem é a atriz e quem é a personagem. Em um caso, não existe a personagem, só a atriz. Coutinho não esclarece (mas fornece pistas). Tal é o jogo de cena que ele propõe em seu novo filme, que não é um documentário tradicional e – como Santiago, de João Moreira Salles – trafega nas bordas da realidade e da ficção (lá, com um maravilhoso personagem masculino). O próprio Coutinho define Jogo de Cena como um filme sobre mulheres e uma homenagem à arte da representação de atrizes. Mas, se ele mistura as duas coisas, é convencido de que, no cinema, todos representam. A diferença é que os não profissionais são, como diz o diretor, ‘atores deles mesmos’. A genialidade, ou a provocação de Jogo de Cena, consiste em demonstrar que a verdade, como dogma do documentário, fica superada, quando – ou se – ‘a pessoa performa bem sua vida e sua memória.’


A única verdade em todo o processo, assegura Coutinho, é que existe uma filmagem. Todos são midiatizados pela câmera. Ele rompe com uma de suas regras, até aqui, e deu às atrizes a chance do take dois. Um momento magnífico é quando Fernanda Torres revela que não está podendo fazer sua personagem e embarca numa viagem em que fala de si. Uma das mulheres volta no final, ‘mas foi ela que pediu’, diz o diretor. Foi bom, porque justamente esta mulher canta. E o filme nunca é de Coutinho se não tem alguém cantando, em cena.’


 


TELEVISÃO
Julia Contier


Duas Caras na SIC


‘Duas Caras estreou com boa audiência na TV portuguesa. A trama de Aguinaldo Silva, que foi ao ar pelo primeira vez na lusitana SIC na segunda-feira (dia 5), registrou 10 pontos de audiência e 24,1% de participação, ficando entre os 10 programas mais vistos do país.


A expectativa do canal é grande, já que um dos maiores sucessos dos últimos anos por lá foi Senhora do Destino, outra produção de Aguinaldo.


Como é de praxe em Portugal, a nova trama das 9 no Brasil entrou no ar mesmo antes da antecessora acabar. Paraíso Tropical está em sua reta final na SIC e ganhou fôlego em audiência. A novela de Gilberto Braga está também entre os programas mais assistidos da TV portuguesa, registrando média de 10,6 pontos e 31,7% de participação, liderando em ibope a faixa do horário das 23 h.


Vale lembrar que Gilberto Braga prometeu mudar a resolução do grande mistério da novela em Portugal. O assassino de Thaís (Alessandra Negrini) na SIC não deve ser Olavo (Wagner Moura), culpado pela morte da vilã no Brasil. Por lá, um dos maiores suspeitos do assassinato é Antenor Cavalcante, personagem de Tony Ramos.’


 


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 9 de novembro de 2007


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Enorme, gigantesco


‘Abriu pela Reuters Brasil, na manchete ‘Petrobras descobre reserva gigante’, depois ‘enorme’, Tupi. Daí às manchetes do Globo Online, ‘gigante’; do site de ‘O Estado de S. Paulo’, ‘aumenta reservas em 50%’; do iG, ‘terceira do mundo em reservas’, todas com o despacho da Reuters. E às manchetes de Veja On-line, ‘a maior’; G1, ‘top 10 do petróleo’; mais UOL, Terra, Folha Online, ‘exportador de petróleo’.


Esta última veio de declaração de Dilma Rousseff, trombeteando pelos canais de notícias, ao vivo, ‘um dos momentos mais importantes no país’, em anos. Depois, no ‘Jornal da Record’, ‘tesouro no fundo do mar’, e Band, ‘Brasil entre as oito maiores reservas’. Mas no ‘Jornal Nacional’, ontem, não foi a manchete.


No exterior, não foi diferente. No terceiro destaque do site do ‘Financial Times’, ‘massive’. No segundo do ‘La Nación’, ‘gigantesca’. E em sites às dezenas, por AP, Thomson, Dow Jones, ‘giant’; Efe, ‘enorme’.


TUPI E OS EUA


A Bloomberg destacou que o Brasil pode virar ‘líder na produção’ e fez comparações com campo do Cazaquistão, ‘maior descoberta nos últimos 30 anos’. Sublinhou que pode ‘ajudar EUA a reduzir a dependência da Venezuela’.


E por coincidência o governador da Flórida espalhou via ‘Washington Post’ e outros que ‘cancelou’ encontro com os diretores da Petrobras, por suas ‘relações com o Irã’.


FERRAMENTA


O ‘New York Times’ deu relato de 11 correspondentes sobre como o petróleo perto de ‘três dígitos’ leva os países produtores a ‘oportunidades históricas’. Da Venezuela à Rússia, virou ‘ferramenta de transformação nacional’, da educação até o ‘socialismo’.


Mas com ‘pronunciadas preocupações de corrupção’.


QUEM GANHA


Já o ‘Wall Street Journal’ deu a reportagem ‘Governos ganham grande com alta’. Diz em suma que, ‘maior o preço, menos produção e reservas para as companhias’ de EUA e Europa. Vai para as estatais.


SEM RODAS


E preço do petróleo subiu de novo, ‘com o alvo de US$ 100 em vista’, no título do ‘FT’. E o relatório da Agência Internacional de Energia que apontou demanda crescente ‘soou alarme’, num título da ‘Forbes’. Da AIE, ecoou o alerta de que ‘as rodas podem cair’, do suprimento global.


‘NÃO IMPORTA’


Mas a mesma ‘Forbes’ e o ‘WP’ relativizam o impacto -com textos dizendo que ‘não importa muito para a economia mundial’ se o barril custa US$ 100 e não mais US$ 80 ou que, se atualizar o valor do dólar, o recorde ainda está com 1980 e seus US$ 101,70.


DOHA OU JEAN CHARLES


A Veja On-line registrou que Lula e o primeiro-ministro Gordon Brown conversaram ontem pelo telefone. Mas foi sobre a Rodada Doha, que teve ameaça de veto da China.


Nada de Jean Charles de Menezes. Sir Ian Blair, que é sustentado no cargo por Brown, e sua Scotland Yard eram a manchete ontem nos sites de ‘Telegraph’ e ‘Guardian’, com mais um questionamento público, agora por relatório apontando ‘obstrução das investigações’ da operação que matou o brasileiro. Blair segue ‘desafiador’, diz o ‘FT’.


CIA. DO EXTERMÍNIO


A Globo cobriu, foi manchete na Agência Brasil e ecoou por sites dos EUA e Europa a operação Companhia do Extermínio, da Polícial Federal. Foi ‘para desarticular quadrilha envolvida com crimes de pistolagem’ ou, ainda, ‘grupos de extermínio’. Nestes dias em que o enviado da ONU está por aqui, ‘foram presos seguranças e policiais’.’


 


POLÍTICA
Matheus Pichonelli


Procuradoria acusa Requião de uso político de TV


‘O Ministério Público Federal do Paraná solicitará gravações do programa ‘Escola do Governo’, apresentado pelo governador Roberto Requião (PMDB) na Rádio e TV Educativa, para investigar se houve uso político indevido da emissora.


De acordo com a Associação Nacional dos Membros do Ministério Público, há indícios de ‘conduta criminosa’ e de ‘atos de improbidade administrativa’. A entidade diz que o governador ameaçou procuradores e promotores.


Segundo a assessoria do governo, Requião não comentará o assunto enquanto não receber notificação da Procuradoria.’


 


VENEZUELA
Andrea Murta


Reitor acusa Chávez de incitar violência


‘Um dia depois dos confrontos entre estudantes oposicionistas e um grupo armado supostamente chavista, Caracas viveu ontem um dia de tensão, em meio à troca de acusações pela violência no campus da Universidade Central da Venezuela (UCV), a mais importante do país. Líderes universitários acusaram o governo de provocar a violência para justificar uma ocupação dos campi.


O reitor interino da UCV, Eleazar Narváez, exigiu que ‘o presidente e os grupos governamentais ponham fim à incitação do ódio’. Os choques ocorreram depois de uma marcha pacífica de cerca de 80 mil pessoas até a sede do Supremo Tribunal de Justiça, onde os estudantes pediram o adiamento do referendo marcado para 2 de dezembro sobre a reforma constitucional proposta por Chávez. De volta ao campus, os manifestantes se confrontaram com o grupo armado e ao menos oito ficaram feridos, dois a bala.


Dominado pela troca de acusações, o dia de ontem lançou pouca luz sobre os eventos de quarta-feira. Narváez sugeriu que autoridades foram complacentes com os grupos que atacaram os estudantes, pois ‘apesar da presença de policiais nas entradas da UCV, entre 50 e 60 motociclistas armados conseguiram entrar no campus e durante várias horas seqüestraram professores, estudantes e empregados’. ‘Basta dessa linguagem de promoção da violência entre grupos, [colocando] pobres contra ricos’, disse.


Victor Márquez, presidente da Associação de Professores da UCV, afirmou que grupos chavistas radicais, como o Coletivo Alexis Vive, Los Carapaicas e Los Tupamaros, estão sendo encorajados pela Presidência a atacar oposicionistas. Robert Sierra, membro da Comissão Presidencial para o Poder Estudantil, disse, segundo o jornal ‘El Universal’, que setores da população esperam apenas o chamado dos chavistas para ‘tomar’ a UCV. Ele acusou os opositores pela violência na universidade: ‘Estudantes de oposição, controlem seus companheiros’.


Versões díspares


Ricardo Sánchez, vice-secretário do centro acadêmico da UCV, disse que entregará à Procuradoria da República 24 vídeos e 123 fotografias dos atiradores -nenhum foi oficialmente identificado até agora. O grêmio está na liderança dos protestos contra a reforma. O presidente do Instituto de Segurança e Transporte da Prefeitura de Caracas, Antonio Pujols, disse que o governo crê que os estudantes contrários à reforma chavista cercaram a Escola de Trabalho Social da UCV ao regressarem da marcha, o que gerou os confrontos.


Já Gregorio Marrero, fotógrafo da agência Associated Press que presenciou o episódio, afirmou à Folha que é muito difícil saber quem iniciou a violência. ‘Grupos pró e anti-Chávez começaram a discutir e nesse momento a manifestação já não era nada pacífica. Vi jovens armados de um lado e estudantes com garrafas e pedaços de pau do outro.’ Ele rejeitou, porém, a versão governista, e disse que os chavistas se refugiaram na Escola de Trabalho Social após o início dos confrontos.


O sociólogo e professor da UCV Trino Márquez, que participou da marcha, confirmou à Folha que o clima já era tenso quando os estudantes voltaram ao campus. ‘Os chavistas iniciaram os confrontos quando queimaram um ônibus de um grupo de oposição. Eles estavam esperando na entrada da universidade e ameaçaram os estudantes com armas.’


Segundo Márquez, os estudantes se defenderam com pedras e os chavistas fugiram para a Escola de Trabalho Social e foram mais tarde resgatados por motociclistas armados. Ontem, estudantes que bloquearam uma avenida de Caracas se chocaram com a polícia.’


 


ESPIONAGEM
Folha de S. Paulo


Telecom Italia espionou teles brasileiras, diz revista


‘A Embratel, a Telefônica, a Vivo e a Telemar (Oi), além da Brasil Telecom (BrT), foram algumas das empresas no Brasil que foram investigadas entre 2003 e 2005 por então funcionários da Telecom Italia, segundo a revista italiana ‘L’Espresso’, citando documentos obtidos por ela.


Inicialmente, acreditava-se que a suposta espionagem no país estava concentrada na Brasil Telecom, companhia na qual a Telecom Italia era acionista e em que disputava o controle com seus sócios.


De acordo com a ‘L’Espresso’, a espionagem da operadora se estendia da Europa até a América do Sul. Entre as empresas que estariam sendo investigadas estão a britânica Vodafone e a Vivo -ambas da espanhola Telefónica, a segunda em parceria com a Portugal Telecom- e a Telmex e a Embratel (do mexicano Carlos Slim).


Slim e a Telefónica disputavam, desde 2005, a aquisição de participação na companhia italiana, que é dona da TIM no Brasil. O negócio, anunciado em abril deste ano, foi vencido pela espanhola.


Pedido de prisão


As informações obtidas pela publicação fazem parte do pedido de prisão de três ex-funcionários da operadora italiana que foram detidos na segunda-feira, em Milão. Eles seriam integrantes do ‘Tiger Team’ (Equipe Tigre), um grupo de hackers que supostamente espionava as rivais da empresa.


Um dos detidos foi Angelo Iannone, ex-chefe de segurança da operadora italiana na América Latina. Iannone teria ordenado a espionagem de banqueiros, jornalistas, funcionários públicos e concorrentes da Telecom Italia no Brasil, segundo disse à Folha, no final de 2006, o ex-detetive Mario Bernardini, ex-colaborador da Telecom Italia e uma das principais testemunhas do caso.


Além de Iannone, foram presos o técnico em informática Alfredo Melloni e Roberto Rangoni Preatoni, filho do empresário Ernesto Preatoni. Os três são acusados de vários delitos, como associação para o crime, violação de sistemas de informática e interceptação ilegal de dados.


Disputa acionária


Segundo os investigadores, eles espionaram dirigentes da Brasil Telecom, entre 2003 e 2005, durante a disputa entre acionistas pelo controle da empresa.


De acordo com autoridades italianas, eles espionaram a ex-presidente da Brasil Telecom Carla Cico e outros dirigentes da companhia. Ainda segundo elas, também foram investigados membros da empresa de gerenciamento de riscos Kroll, do escritório de advocacia Giorgianni, que cuidava dos interesses da Brasil Telecom, e jornalistas italianos.


O controle da BrT era dividido entre fundos de pensão (maiores investidores nacionais), Citigroup (banco americano), Opportunity (do banqueiro Daniel Dantas) e a própria Telecom Italia. Os quatro sócios lutavam, desde 2001, pelo direito de administrar a Brasil Telecom, hoje controlada pelos fundos de pensão e pelo Citigroup após Dantas perder processo judicial.


A tele italiana vendeu em julho aos fundos de pensão suas ações na BrT por US$ 515 milhões.’


 


TV DIGITAL
Folha de S. Paulo


Governo diz que conversor poderá custar até R$ 500


‘A menos de um mês da estréia das transmissões da TV digital no país, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, admitiu que a caixa conversora pode custar mais de R$ 250, preço que vinha sendo repetido pelo governo como um mantra.


Segundo Costa, um modelo ‘mais sofisticado’ sairá por até R$ 500. A afirmação foi feita na quarta-feira durante audiência pública na Comissão de Defesa do Consumidor na Câmara dos Deputados. De acordo com ele, no entanto, haverá ainda um modelo ‘básico’, de R$ 200.


O conversor é um decodificador que receberá o sinal tanto para TVs analógicas quanto digitais. Segundo o Ministério das Comunicações, o sinal analógico será cortado até 2016-depois só haverá transmissão digital. O início oficial dessa transmissão acontece no próximo mês, em São Paulo.


A Eletros (associação da indústria de eletroeletrônicos) vem afirmando que não há possibilidade de fabricar um conversor por menos de R$ 700. Hélio Costa voltou a criticar os empresários.


O ministro classificou a posição como ‘um caso de polícia e até de CPI’.’


 


INTERNET
Folha de S. Paulo


Lucro do UOL sobe 36% no 3º trimestre


‘O portal e provedor de acesso à internet UOL, no qual os grupos Folha e Portugal Telecom têm participação, anunciou um aumento de 36% no lucro do terceiro trimestre ante o mesmo período de 2006. O resultado de R$ 31,9 milhões reflete o crescimento de receitas com publicidade e assinaturas.’


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Cultura terá novo ‘Castelo’ e seriado teen


‘A TV Cultura vai retomar a produção de seriados de entretenimento educativo para crianças e adolescentes.


Anteontem, em encontro em Belo Horizonte, o presidente da emissora, Paulo Markun, iniciou as negociações com o diretor de cinema e TV Cao Hamburger (‘O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias’, pré-candidato ao Oscar) para a produção de uma nova série infantil, que promete ser maior do que ‘Castelo Rá-Tim-Bum’.


Hamburger, que dirigiu ‘Castelo’, marco da TV Cultura, apresentou o projeto há dez dias. Markun se entusiasmou pela idéia. ‘Seria um programa do nível do ‘Castelo’, limita-se a dizer Hamburger.


Mais avançados estão os trabalhos para a série adolescente ‘Tudo o que É Sólido Pode Derreter’. O programa foi desenvolvido por Esmir Filho e Rafael Gomes, ambos com 25 anos, diretores do curta ‘Tapa na Pantera’, hit da internet.


‘A idéia é combinar clássicos da literatura luso-brasileira com o universo do adolescente de hoje em dia’, conta Esmir.


Segundo o diretor, que cresceu ‘vendo ‘No Mundo da Lua’ e ‘Castelo Rá-Tim-Bum’, uma adolescente interage com grandes livros: ‘Um dia, ela lê ‘Os Lusíadas’ [de Camões]. Ao pegar o ônibus, imagina como foi a viagem de Vasco da Gama’.


Nos próximos dias, a Cultura lança no mercado publicitário o projeto comercial da série, para viabilizar patrocínios.


CAUBÓI A Band vai transformar em reality show o quadro ‘Countrystar’, exibido recentemente com relativo sucesso (cinco pontos) no ‘Terra Nativa’. A segunda edição, logo após o Carnaval, será um programa independente. O objetivo agora será revelar um cantor country. Nathália Siqueira, vencedora do primeiro, já é uma das mais tocadas nas FMs, segundo a emissora.


CROSS-SHOW Agora responsável pelo ‘Mais Você’, o diretor de núcleo da Globo J.B. de Oliveira, o Boninho, de ‘Big Brother Brasil’, vai tentar transferir parte do sucesso do reality show para o programa de Ana Maria Braga, que disputa audiência acirradamente com SBT e Record. O ‘Mais Você’ fará seleção de candidatos ao ‘BBB 8’.


BORRACHA A Globo fechou nesta semana as duas primeiras vendas internacionais (sem contar Portugal) de ‘Amazônia’. A minissérie foi adquirida pela Televen, da Venezuela, e pela Acasa TV, da Romênia.


FILME QUEIMADO Diretores da Record e da Globo andam bicudos com os produtores de ‘Tropa de Elite’. Não gostaram de fazer parte de um leilão pelos direitos de uma minissérie derivada do filme, negociada até com a Rede TV!.


ROJÃO ‘Caminhos do Coração’ conseguiu anteontem, pela primeira vez, passar a Globo. A novela da Record ficou três minutos na liderança no Ibope, no intervalo de São Paulo x Juventude. Na média geral, a novela deu 16 pontos e o futebol, 22.’


 


ZÉ DO CAIXÃO
Ivan Finotti


Mojica anuncia aposentadoria


‘Champanhe em copos de plástico? Minicoxinhas em bandejas de papelão prateado? Bolo floresta negra com 50 velinhas? Nada disso. Para comemorar seus 50 anos de carreira profissional, anteontem, José Mojica Marins preferiu uma festa com os sem-teto que vivem debaixo do Minhocão, no centro de São Paulo.


Festa sem uísque nem guaraná, com um único marmitex de arroz, feijão e frango, disputado literalmente a tapa por duas atrizes fantasiadas de indigentes. Num canto, um trio deitado na calçada se bolinava; num outro, duas mulheres cobertas de sujeira se beijavam na boca.


Tudo parte do curta-metragem de um minuto, gravado numa única seqüência, que vai servir de vinheta para a mostra ‘José Mojica Marins – Retrospectiva da Obra’, que começa para convidados hoje, às 20h30, na Cinemateca, e amanhã no CCBB, às 18h30, para o público, com presença do cineasta. ‘O recado é: somos todos iguais, estando lá em cima [aponta para o elevado, onde os carros passam] ou aqui embaixo [aponta para os sem-teto]’, diz José Mojica Marins, 71, entre um gole de caipiroska coada e uma tragada de cigarro long size com filtro.


A mostra, capitaneada pela Heco Produções, é abrangente. São 40 filmes, sendo apenas seis longas com o personagem Zé do Caixão. Há documentários, fitas de outros diretores (Reichenbach, Sganzerla, Capovilla etc.) com atuação de Mojica, curtas, médias e, a cereja do floresta negra, um inédito. Trata-se de ‘A Praga’, filmado em Super-8 em 1980 e finalizado agora pelo cineasta Eugênio Puppo, da Heco.


Com patrocínio do Banco do Brasil e da Cinemateca Brasileira e apoio da Labocine e da Kodak, Puppo conseguiu fazer nada menos que 25 cópias novas em folha para a retrospectiva. Não por preciosismo. ‘Tivemos que recuperar dezenas de filmes. O negativo de ‘O Despertar da Besta’, por exemplo, está esfarelando e agora será restaurado. Mas, para além do Zé do Caixão, sempre tive a vontade de exibir os faroestes, as comédias eróticas e até os filmes de sexo explícito de Mojica. É importante que ele não seja visto apenas como o personagem de cartola.’


Mojica, cujo primeiro filme profissional (o faroeste ‘A Sina do Aventureiro’) foi realizado em 1957, dará palestras e ganhou uma exposição de fotos com mais de 70 imagens.


Também estarão nos corredores da Cinemateca ampliações de suas 16 expressões faciais, como ‘alegria’, ‘dor’ e ‘tristeza’, que usava para ensinar seus alunos de interpretação. O estudante via a expressão e tentava copiar. Assim, ganhava vaga em filmes como o movimentado ‘Sexo e Sangue na Trilha do Tesouro’ ou a comédia erótica ‘Como Consolar Viúvas’, presentes na mostra.


A sério mesmo


E há o livro. Como em todas as mostras da Heco Produções (Candeias, Leila Diniz, Walter Hugo Khouri etc.), Eugênio Puppo produziu um livro que não apenas serve ao evento como se torna referência obrigatória. Com 178 páginas e dezenas de fotos inéditas, ‘José Mojica Marins – 50 Anos de Carreira’ foge das histórias da vida peculiar do mestre do terror e se concentra em sua obra. Textos de críticos, jornalistas, pesquisadores e cineastas repensam a trajetória de Mojica filme após filme.


O volume será vendido no CCBB por R$ 30, mas tem todo o seu conteúdo livre no site www.heco.com.br. Traz ainda uma longa entrevista, fruto de sete encontros de Mojica com Puppo e com Arthur Autran, professor de cinema da UFSCar. Ali, o cineasta resume sua trajetória, desde a infância até as filmagens, no ano passado, do longa ‘A Encarnação do Demônio’ -que terá lançamento em 2008, fechando a saga do personagem Zé do Caixão, iniciada em 1964.


O lançamento desse filme, seguido pelo lançamento comercial de ‘A Praga’, podem ser os dois últimos movimentos profissionais de Mojica Marins. ‘Vou me aposentar no ano que vem’, afirma ele. Mas será possível? Mojica cresceu dentro de um cinema na Lapa, rodou seus primeiros curtas com 13 anos, fazia longas com o dinheiro da bilheteria do anterior, nunca fez nada além disso. ‘Mas é verdade! Cinema, a partir de agora, não faço mais por obrigação. Só por hobby.’’


 


Cineasta terá talk-show na TV paga


‘Apesar de anunciar sua aposentadoria no cinema para 2008, José Mojica Marins tem planos em outras mídias. Já começaram as gravações do programa ‘O Estranho Mundo de Zé do Caixão’, produzido por André Barcinski, que deve estrear no Canal Brasil em abril próximo. Terá reportagens e entrevistas bizarras, com convidados como o estilista Alexandre Herchcovitch e a ‘profeta’ Mãe Dinah.’


 


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Mônica Bergamo


Letra miúda


‘O Conar pediu a alteração de um comercial da Vivo, que tinha como slogan a frase ‘Tá Todo Mundo Vindo pra Vivo’. A campanha foi alvo de ações das concorrentes Tim e Claro. A Vivo diz que já havia entrado em acordo com a Tim, para aumentar o tamanho do ‘lettering’, as letrinhas miúdas que apresentavam as condições da operadora para o cliente. A campanha saiu do ar no dia 10 de outubro.’


 


FOTOGRAFIA
Folha de S. Paulo


Fotografias de Leni Riefenstahl são furtadas


‘Desapareceram na Alemanha 250 fotografias de autoria de Leni Riefenstahl (1902-2003), conhecida por seu envolvimento com o nazismo, e 300 obras de Elliott Erwitt, avaliadas, no total, em 4 milhões de euros (cerca de R$ 10 milhões).


O furto foi descoberto na última segunda-feira e, segundo agências internacionais, aconteceu em um depósito nos escritórios da Photo Estate GmbH, subsidiária da galeria Camera Work AG, em Berlim.


Erwitt, francês radicado nos EUA, já trabalhou para revistas como a ‘Life’ e é membro da agência Magnum desde 1953.’


 


MÚSICA
Carlos Heitor Cony


Verdi: como vencer a censura


‘PRIMEIRA QUESTÃO: Verdi foi um gênio? Até hoje, alguns musicólogos negam-lhe não apenas a genialidade mas o valor. São os mesmos que não aceitam Chopin e Tchaikovsky. Não perdoam a facilidade dos noturnos, dos caprichos e das árias que fazem parte dos realejos que se tocam no mundo. Mas Chopin escreveu o ‘Prelúdio nº 28’, Tchaikovsky deixou sua ‘Quinta sinfonia’ e Verdi, afinal, escreveu ‘Othelo’ e ‘Falstaff’.


Verdi tinha 19 anos, era alto, cabeludo. Fez uma prova no Conservatório de Milão e foi reprovado: tocava piano muito mal e seu físico não ajudou. Um dos examinadores cismou: Verdi nem sabia colocar as mãos em cima do teclado.


Anos mais tarde, depois da dominação austríaca, o conservatório desejou ter o nome de um italiano ilustre e solicitou ao maestro que autorizasse a existência legal do ‘Conservatório Verdi’, de Milão. O compositor respondeu: ‘Não me quiseram quando jovem, não me terão velho’. Nesse meio tempo, entre outras coisas, ele havia escrito aquela terrível ária do ‘Rigoleto’: ‘Si vendetta, tremenda vendetta’.


Bem, a solução para os refugados era essa mesmo: Verdi se transformou no rapaz amargo e, como continuava a gostar de música, o remédio era aceitar a direção da ‘furiosa’ de Busseto, uma banda como outra qualquer, cujo forte eram os dobrados militares de praxe e circunstância. Uma tarde, regeu Haydn diante de entendidos e recebeu a incumbência: fazer uma ópera. Verdi meteu os peitos e produziu ‘Orbeto’, ‘Conte di San Bonifacio’.


A municipalidade de Busseto impôs o trabalho ao Scala de Milão. A título de incentivo, a ópera foi representada numa festa beneficente. Era uma caridade do mundo oficial da música ao jovem compositor. Mesmo assim, o rapaz ficou gratificado. E, exagerando um pouco na alegria, decidiu se casar com a filha do mesmo fabricante de licores que o incentivara. Aos 23 anos, fez aquilo que no Nordeste brasileiro ainda chamam de ‘convolar núpcias’ com Margarida Barezzi, moça de 22 anos, que lhe deu um casal de filhos -e muito azar na vida. Pouco depois, Verdi perdia tudo: os filhos e a mulher (levados pela morte) e a inspiração. Caiu na fossa e prometeu nunca mais ler uma linha de música.


Perdeu até mesmo o emprego, pois o editor Ricordi havia lhe encomendado três óperas a título de experiência. Verdi largou tudo e foi morar numa pensão, onde passava o tempo lendo a Bíblia.


Volta e meia, algum empresário desvairado sugeria que ele lesse um libreto, mas Verdi se recusava: não escreveria uma nota sequer, para todo o sempre.


Até que surgiu um desvairado mais teimoso que os outros e deixou em suas mãos um libreto de Solera, cuja primeira página trazia um nome em letras góticas: ‘Nabuco’.


Verdi cometeu um erro: abriu o libreto ao acaso e deu com um verso perdido no texto: ‘Va pensiero, sull’ali dorate…’. Para quem andava lendo a Bíblia, a história do cativeiro da Babilônia era interessante.


Além do mais, a Itália vivia o seu próprio cativeiro, dominada pela Áustria. Verdi compreendeu a intenção de Solera: transpor o drama dos hebreus dominados junto aos rios da Babilônia para a sua própria pátria espezinhada pelo grande império dos Habsburgos. Não conseguiu dormir naquela noite. Os versos estavam em sua cabeça: ‘Va pensiero’. Até hoje, esse coro de escravos serve de hino para todos os oprimidos em qualquer parte do mundo.


Dias depois, a ópera estava pronta e encenada. O povo não apenas gostou da ópera mas da mensagem que ela trazia. O nome Verdi virou anagrama: ‘Vittorio Emanuelle, Re d’Italia’. Verdi passou a ser uma senha de liberdade. Mais uma vez, um artista demonstrou que a censura não atrapalha a inteligência -quando há inteligência.


Minimamente, o que se pede aos artistas é que eles sejam mais criativos do que os censores. As autoridades austríacas chegaram a comparecer à estréia de ‘Nabuco’ e só entenderam que haviam comido mosca quando ouviram a platéia se levantar, durante o coro dos hebreus, cantando junto com os artistas. Houve mortos e feridos depois, mas o grão da liberdade estava plantado. A Itália, unificada, libertava-se do jogo estrangeiro.’


 


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