Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Jornais debatem prós e contras da interatividade

Diante da queda na circulação, muitos jornais americanos tentam atrair leitores através da interatividade em suas páginas de internet. Mas a possibilidade de fazer comentários sem se identificar também permite que seja divulgado conteúdo racista e obsceno na rede, o que no meio impresso nunca foi permitido, noticia Travis Loller [Associated Press, 26/4/07]. Em 2005, por exemplo, o Los Angeles Times teve de retirar do seu sítio um wikitorial – editorial escrito coletivamente pelos internautas – sobre a guerra no Iraque três dias após a ferramenta ser disponibilizada, porque foram inseridos fotos pornográficas e conteúdo obsceno.

Este tipo de discurso ofensivo e inapropriado era comum de ser encontrado apenas em chats ou em grupos de discussão sem moderadores. Porém, na medida em que os jornais tentam ser mais competitivos e abrem espaço para comentários dos leitores, os editores buscam encontrar um equilíbrio entre a participação livre do público e os padrões de integridade e decência.

Para Sree Sreenivasan, diretor do programa de Novas Mídias da Universidade de Columbia, os benefícios da participação dos internautas superam os pontos negativos. ‘Muitas pessoas querem interagir quando lêem uma matéria. Antigamente, se você não gostasse de algo, poderia desabafar com algum amigo. Agora, você pode encaminhar a matéria para 100 conhecidos e fazer algo a respeito’, opina.

Os jornais podem monitorar os comentários através de filtros automáticos ou de membros da equipe – o que custa dinheiro, em um período de corte de custos em diversas redações. Por isso, a grande questão atual entre os editores de jornais americanos é como fazer este controle na rede, diz Randy Bennett, vice-presidente de desenvolvimento de novos negócios para a Associação de Jornais dos EUA. Hoje, de 5% a 7% dos lucros dos jornais vêm dos seus sítios – e se espera que esta porcentagem cresça. Alguns editores alegam que o monitoramento pode afastar internautas e, conseqüentemente, anunciantes.

Experiências diferentes

O USA Today começou a permitir comentários em todas as suas matérias desde março e já recebeu mais de 140 mil mensagens até o momento. ‘Estamos andando em uma corda bamba, ao criarmos o tipo ideal de ambiente que reflete bem a nossa marca, ao mesmo tempo em que tentamos não ser excessivos em nossa moderação’, afirma Kinsey Wilson, editora-executiva do jornal.

O The Tennessean também permite que os leitores postem diretamente em seu sítio. Funcionários do jornal monitoram os comentários de hora em hora e os retiram ‘se algo for falso, obsceno ou imoral’, explica Mark Silverman, editor e vice-presidente de conteúdo e de desenvolvimento de audiência do sítio do diário. No entanto, uma vez que o comentário aparece na rede, mesmo sendo retirado, ele não necessariamente desaparece de vez. Se os internautas salvarem uma cópia da página, os mecanismos de busca ainda podem encontrá-la.

Um dos poucos diários que monitora tudo o que os leitores postam antes de ir ao ar é o New York Times. Depois do massacre na universidade da Virgínia, cinco editores trabalharam ao mesmo tempo para controlar todos os comentários dos leitores, conta Vivian Schiller, vice-presidente do sitio do NYTimes. ‘O esforço é válido para assegurar a qualidade do impresso também na rede’, avalia.