Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Jornal perde a conta de liminares da Justiça

‘Pense num absurdo, ele já aconteceu na Bahia.’ Esta frase do político baiano Octávio Mangabeira ficou famosa e ultimamente vem sendo muito usada. Ela se encaixa com uma luva nos últimos episódios envolvendo o jornal Folha do Amapá e a Justiça Eleitoral do estado. Já perdi a conta do número de vezes em que a liberdade de imprensa e de expressão do jornal Folha do Amapá foi cerceada pela Justiça Eleitoral, a pedido da coligação dos candidatos a governador, Waldez Góes, e ao Senado, José Sarney, que alegam prejuízos morais e materiais a suas campanhas eleitorais.

O mais inquietante é que nenhum dos recursos impetrados pelos advogados da Folha do Amapá contra as decisões liminares de juízes daquela Corte foi apreciado. Isso inviabiliza recursos à instância superior, no caso o TSE. A situação é tão esdrúxula que me dignei a enviar mensagem ao eminente presidente do TSE, ministro Marco Aurélio Mello, alertando-o para as ocorrências no Amapá.

Brasil esquecido

A última liminar contra o jornal Folha do Amapá, prolatada por uma juíza substituta do TRE, a pedido novamente da coligação PDT/PMDB, é espantosa. Ela retira do site do jornal reportagem sobre pesquisa eleitoral do Instituto Ipson, contratada pelo Sistema Z, registrada no Tribunal Regional Eleitoral sob o nº 108/2006. Este é com certeza um fato inédito no país. Em mais de 20 anos de redemocratização, não tomei conhecimento de algo similar.

As atitudes que vêm sendo tomadas pela coligação dos senhores Waldez e Sarney remontam ao arbítrio praticado nos regimes totalitários, com o objetivo de cercear o direito à informação dos cidadãos. Com certeza estes senhores não tomariam tais atitudes contra os grandes veículos de comunicação do país. Eles as tomam contra a Folha do Amapá, porque estão conscientes de que existem dois Brasis.

Um é policiado pela grande mídia; o outro é esquecido, só lembrado em tempos de tragédia ou de operações como a Pororoca, no Amapá, a Saúva, no Amazonas, e a Dominó, em Rondônia. Aliás, um dos senhores, ex-presidente da República e influente interlocutor do presidente Lula, não ousaria cometer tal heresia no outro Brasil, pois para este país veste a pele de cordeiro, enquanto em seus domínios – Amapá e Maranhão – age como verdadeiro lobo. O mais grave é a Justiça Eleitoral se deixar levar por pedidos esdrúxulos de cerceamento da liberdade de imprensa e de expressão.

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Jornalista