Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Jornalista seqüestrado e assassinado

Bladimir Antuna García, repórter da editoria de polícia do jornal El Tiempo de Durango, foi encontrado assassinado na noite de segunda-feira [2/11] depois de ter sido sequestrado na manhã do mesmo dia em uma rua da cidade mexicana de Durango, segundo informações da imprensa. O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) instou hoje as autoridades mexicanas a demonstrar seu compromisso com a liberdade de imprensa e com a proteção dos jornalistas mexicanos levando a julgamento todos os responsáveis pelo crime.

Antuna, de 39 anos, estava a caminho do trabalho quando, segundo testemunhas citadas pela imprensa local, seu carro foi fechado por dois outros veículos em Durango, situada a 899 quilômetros nordeste da Cidade do México. Desconhecidos armados desceram de um jipe Cherokee e empurraram Antuna para dentro do veículo, fugindo em seguida. O jornalista foi imediatamente dado como desaparecido.

As autoridades encontraram o corpo do repórter na mesma noite, não muito distante do local onde foi sequestrado. Junto ao corpo, um bilhete dizia: ‘Isto aconteceu comigo por dar informações aos militares e escrever o que não devia’, segundo o jornal La Jornada. Investigadores afirmaram à imprensa que, aparentemente, Antuna havia sido estrangulado e que não havia indícios de ferimentos à bala.

‘O assassinato de Bladimir Antuna García é outro brutal alerta sobre a precária e perigosa situação em que se encontram os jornalistas mexicanos, especialmente aqueles que cobrem temas como crime e corrupção’, afirmou Carlos Lauría, coordenador sênior do programa das Américas do CPJ. ‘As autoridades mexicanas devem investigar imediatamente a morte de Antuna e levar à justiça todos os responsáveis, num esforço para provar seu verdadeiro compromisso com a liberdade de imprensa e a proteção dos jornalistas.’

Corrupção policial e crime organizado

Victor Garza, editor de El Tiempo de Durango, disse ao CPJ que Antuna havia feito uma reportagem sobre a corrupção na polícia de Durango uma semana antes de sua morte. Antuna também havia investigado o assassinato de seu colega Carlos Ortega Samper, de El Tiempo de Durango, que foi sequestrado de modo semelhante em 3 de abril e assassinado a tiros. Antuna ainda não havia publicado a matéria, informaram seus colegas em Durango. Ortega noticiava sobre a corrupção local. Seu assassinato não foi solucionado e o CPJ continua investigando possíveis vínculos entre a morte de Ortega e seu trabalho jornalístico.

Os colegas de Antuna revelaram que ele havia recebido ao menos três ameaças de morte nos últimos meses. A mais recente, relataram ao CPJ, foi uma ameaça telefônica por parte de um indivíduo não identificado, advertindo o repórter que ele não receberia outros avisos. Antuna não mencionou o motivo da ameaça. Em abril, homens armados se aproximaram de sua residência durante a noite, mas não efetuaram disparos, revelou um colega. Antuna registrou uma queixa às autoridades locais por problemas não especificados, informou a agência de notícias espanhola EFE.

O grupo mexicano Centro de Jornalismo e Ética Pública (Cepet, sigla em espanhol) declarou hoje [3/11] que em junho Antuna comunicou à organização que havia estado em contato com o jornalista Eliseo Barrón Hernandez, assassinado em Durango em maio. Segundo o Cepet, Antuna explicou que ele e Barrón haviam trocado informações sobre a corrupção policial e o crime organizado em Durango.

‘Para ensinar jornalistas a não se meterem’

No final de outubro, a nova Câmara de Deputados do México decidiu não renovar o mandato da comissão especial do Congresso para acompanhamento das agressões contra a imprensa, estabelecida em 2006: o CPJ instou o Congresso mexicano a demonstrar seu firme compromisso com a liberdade de imprensa outorgando às autoridades federais a jurisdição para investigar os crimes contra a liberdade de expressão, uma reforma ainda pendente.

Segundo pesquisas do CPJ, 39 jornalistas – incluindo Antuna – foram mortos no México desde 1992. Ao menos 17 foram assassinados em represália direta por seu trabalho. Sete jornalistas desapareceram desde 2005. A maioria noticiava sobre crime organizado ou corrupção governamental.

Em 25 de maio, Barrón Hernandez, repórter dos jornais La Opinión e Milenio, foi sequestrado em sua casa e assassinado a tiros. Em junho, as autoridades federais acusaram cinco homens pelo homicídio de Barrón. A cúpula do cartel Los Zetas supostamente deu a ordem de assassinar o repórter para ‘ensinar outros jornalistas locais a não se meterem no trabalho do grupo criminoso’, explicou a Procuradoria Geral da República, segundo a imprensa local. Quatro outros repórteres foram mortos este ano no México. O CPJ continua investigando se seus assassinatos estão vinculados ao seu trabalho.

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O CPJ é uma organização independente, sem fins lucrativos, sediada em Nova York, que se dedica a defender a liberdade de imprensa em todo o mundo