Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Jornalistas teriam telefones grampeados

O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) fez um apelo às autoridades colombianas, hoje, para que investiguem em profundidade a interceptação ilegal das linhas de telefone de jornalistas. O governo reconheceu na segunda-feira (14/5) que a polícia nacional havia escutado, ilicitamente, as conversas telefônicas de funcionários públicos, integrantes da oposição e de jornalistas.

‘Estamos muito preocupados pela suposta interceptação ilegal dos telefones de jornalistas em um momento tão crucial para a política colombiana’, declarou Joel Simon, diretor-executivo do CPJ. ‘O medo da vigilância pode ter um efeito negativo na imprensa colombiana, que já trabalha em um ambiente de autocensura generalizada.’

O assunto surgiu gradualmente, depois que a revista Semana informou na semana passada sobre conversas interceptadas que mostravam como líderes de grupos paramilitares, em presídios de segurança máxima, continuavam participando de atividades ilegais. O governo informou na segunda-feira que pessoal da Direção de Inteligência da Polícia Nacional (Dipol) havia gravado ilegalmente as conversas e vazado o conteúdo para a Semana. Neste comunicado, o governo também revelou que, durante mais de dois anos, integrantes da Dipol haviam gravado as conversas de pessoas que não estavam sendo investigadas, ‘entre as quais se encontram membros do governo, da oposição e jornalistas’.

O governo do presidente Alvaro Uribe condenou este procedimento como ‘totalmente inaceitável, ilegal e contrário à política do governo’ e ordenou uma investigação interna, enquanto o diretor da polícia nacional, general Jorge Daniel Castro, e o diretor da central de inteligência da polícia nacional, general Guillermo Chaves, decidiram renunciar.

Crime contra a democracia

Hollman Morris, jornalista independente e produtor do programa de notícias semanal Contravía, que é apresentado na estação de televisão Canal Uno, disse ao CPJ que acredita que suas linhas telefônicas figurem entre as que foram interceptadas. Em uma carta de setembro de 2006, analisada pelo CPJ, o diretor da Empresa de Telecomunicações de Bogotá advertiu Morris que sua linha de telefone havia sido manipulada. A carta indicava que não era possível determinar se a intenção era interceptar as conversas. Morris apresentou uma denúncia junto à polícia nacional pedindo que investigassem o incidente. Em outubro recebeu uma resposta da polícia, também examinada pelo CPJ, afirmando que suas linhas telefônicas não eram objeto de qualquer intervenção. Morris, conhecido por seus informes negativos sobre o conflito armado na Colômbia, tem sido ameaçado e perseguido desde 2006.

As acusações de intervenções em telefones chegam num momento crítico para o governo de Uribe. Na segunda-feira, 20 políticos e empresários foram detidos sob a acusação de conspiração, depois da descoberta de laços entre eles e líderes paramilitares, informou a Associated Press. As detenções aumentam para 14 o número de funcionários implicados no que se tem chamado de escândalo da ‘para-política’.

Em 15 de março de 2006, o presidente Uribe se reuniu com uma delegação do CPJ e expressou seu apoio aos jornalistas que informam sobre corrupção, enfatizando que qualquer funcionário que interfira com o trabalho da imprensa ‘está cometendo um crime contra a democracia, e isso é gravíssimo’. [Nova York, 15 de maio de 2007]

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O CPJ é uma organização independente, sem fins lucrativos, sediada em Nova York, que se dedica a defender a liberdade de imprensa em todo o mundo