Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Jornalistas na mira do terror

A decapitação dos dois jornalistas americanos sequestrados pelas mílicias do Estado Islâmico nos aproxima dramaticamente do 11 de Setembro de 2001, com o massacre de cerca de três mil pessoas nas Torres Gêmeas no coração de Nova York.

Quanto mais avançamos para entender a história, mais precisamos retornar ao passado. E quanto mais fugimos da barbárie, mais a barbárie se aproxima.

A desesperada tentativa de implantar o Estado Islâmico na região que compreende a Síria e o Iraque nos remete diretamente à morte do profeta Maomé, em 632 da era comum, e à disputa para escolher o seu herdeiro espiritual. A palavra “califa” significa literalmente “sucessor”, e o conceito de califado nada tem a ver com a noção contemporânea de Estado ou nação: é um território religioso, sem fronteiras fixas, em constante expansão.

Jihad não é uma guerra qualquer, é um empenho extremo, guerra santa para disseminar o Islã. A espada continua como símbolo de inúmeros Estados do Oriente Médio e não é por acaso que a execução dos dois jornalistas deu-se através da decapitação.

E por que escolheram jornalistas e não generais capturados em combate? Porque o terrorismo é uma ferramenta de comunicação; matar jornalistas é uma forma perversa, cruel, de subverter o jornalismo e colocá-lo a serviço do obscurantismo e do horror.

Esta edição do Observatório da Imprensa, como todas as anteriores, tem como bandeira a busca da tolerância, por isso não podemos nos sujeitar aos desígnios dos intolerantes. (Alberto Dines) 

 

A mídia na semana

>> O trepidante noticiário dos últimos dias envolvendo o depoimento sigiloso do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, à Polícia Federal tem uma fonte comum e única: a reportagem de capa da última edição da revista Veja. Nela são citados nominalmente governadores, inclusive falecidos, ministros de Estado, deputados e parlamentares de diversos partidos como beneficiários de gordas comissões e propinas. A delação premiada é um recurso legítimo para apressar o processo penal, mas só é válido quando cumprida uma das exigências fundamentais: o sigilo do depoimento é de capital importância, não apenas para evitar fugas, desfazer provas, também para proteger o depoente. Veja alega que o resumo das quarenta e duas horas de depoimento foi obtido de delegados da Polícia Federal e procuradores do Ministério Público. Nem revista nem o pool de veículos que publicou o vazamento podem ser constrangidos a revelar sua origem, mas podem ser responsabilizados caso as investigações sejam porventura prejudicadas. De qualquer forma, o pool desvenda um perigoso oligopólio informativo.

>> Houve mesmo o brado retumbante às margens do Ipiranga? O 7 de setembro é o marco verdadeiro da nossa independência ou montagem histórica? Dentro de oito anos, em 2022, vamos comemorar o bicentenário da emancipação política. Conviria que até lá as dúvidas sejam cabalmente respondidas e as suspeitas, esclarecidas. O nascimento da nação não pode ser questionado.

>> Não há dúvidas: na história do preconceito racial no Brasil a partida entre o Grêmio e o Santos transformou-se num marco. Tão grande foi a repercussão das agressões verbais dirigidas ao goleiro Aranha por torcedores gremistas (inclusive uma mulher), que as autoridades judiciais e policiais foram obrigadas a agir com uma rapidez jamais vista. A exaltada torcedora transformou-se em vilã nacional, o clube gaúcho recebeu severíssima e inaudita penalidade. O caso escapou das quatro linhas do gramado, driblou o habitual descaso e a costumeira descontinuidade porque a imprensa decidiu que chegou a hora de dar um “basta!” na impunidade. A mesma determinação agora deve ser dirigida para erradicar os demais preconceitos que assolam uma sociedade que se pretende tolerante: chega de xenofobia, chega de homofobia, chega de islamofobia, chega de antissemitismo, chega de exclusões. Quando a imprensa leva a sério seus deveres cívicos torna-se imbatível.