Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

José Paulo Lanyi

‘A entrevista que publico agora me deixou triste. Eu achava que morava no Primeiro Mundo; os argentinos, que eu vegetava no Quinto Mundo. A média não deixa dúvida: o Brasil é mesmo Terceiro Mundo, pessoal!

Não se iluda com a pujança dos shopping centers. Pouco importa, também, que almoce em restaurantes finos das mais altas torres ou faça ares de bacana nas pré-estréias do Rio e de São Paulo. Sul civilizado? Qualidade de vida top, em Brasília, Vitória ou Curitiba? Sessões de jazz às quartas-feiras? Filmes iranianos às quintas? Terceiro Mundo, sim, não adianta disfarçar… ‘Talvez, se olhássemos para os vizinhos com menos complexo de superioridade, teríamos muito a aprender. Bogotá tem assistido a gestões municipais de matar de inveja qualquer cidade brasileira. Reduziu a violência, educou o trânsito, revolucionou o transporte público, etc., mas não se lê sobre isso nos jornais brasileiros’, diz Raul Juste Lores, o entrevistado, ex-correspondente da Veja em Buenos Aires.

Hoje ele é assessor especial da Secretaria de Relações Internacionais de São Paulo, integra uma equipe que acompanha correspondentes estrangeiros que entrevistam o prefeito e recebe autoridades de outros países.

Lores também escreve a biografia de Artacho Jurado, ‘o arquiteto autodidata que fez os famosos prédios de pastilhas coloridas de Higienópolis e no Centro’.

A sua carreira deflagrou-se no Curso Abril de Jornalismo, que lhe permitiu trabalhar na Vejinha e na Quatro Rodas. Chefiou, na seqüência, a sucursal curitibana da Veja e foi correspondente da revista em Buenos Aires por dois anos e meio, responsável pela cobertura de toda a América Latina. Depois, também na Veja, foi editor de Internacional por outros dois anos e meio.

Saiu e foi ser editor-chefe do Guia Brasil Unicard-Unibanco e da revista da Africa, a agência de Nizan Guanaes. Escreveu para várias publicações, como a Trip, o espanhol El País e o La Nación, de Buenos Aires.

De argentinos ele entende. De brasileiros, infelizmente para o meu humor- pangloss, também. Neste exato instante, escrevo em uma lan house da praia de Canasvieiras, em Florianópolis, onde visito a minha família. Reconheço em um dos presentes o portunhol, corriqueiro por aqui (ei, o cara radicalizou, agora fala espanhol ao celular!).

Inclino-me e cubro a tela do meu computador. O ‘hermanito’ aqui do lado não pode saber que falamos bem deles e mal de nós mesmos- os verdadeiros europeus mestiços deste subcontinente.

Leia a entrevista, preciso sair daqui:

Link SP – Como você enveredou pela correspondência internacional, mais precisamente na Argentina?

Raul Juste Lores – Era muito jovem, chefiava a sucursal da Veja em Curitiba. Aproveitei para esticar alguns finais de semana em Buenos Aires. Sempre trazia pautas de lá. Nessa época, final de 1998, a revista tinha um projeto de criar uma rede de jovens correspondentes pelo mundo, com uma estrutura mínima, viável. Eu fui o ‘cobaia’. Pena que a idéia não foi para frente, acabei sendo o único correspondente. Mas eu fui mantido porque a crise argentina se agravou, tinha matéria grande toda semana. De lá, comecei a cobrir toda a América Latina. Entrevistei muitos personagens interessantíssimos, do presidente Toledo, no Peru, ao Lagos, do Chile, do Fox, no México, ao Pastrana e o Uribe, na Colômbia. E escrever sobre guerrilha colombiana, Nafta, Alca, Patagônia e por aí vai.

Link SP – Como foi a sua adaptação?

Raul Juste Lores – O início foi mais duro porque a revista não teve correspondente lá por dez anos, então precisava conquistar fontes e apresentar a revista. Lá as revistas semanais não têm um décimo da força que a Veja tem no Brasil. Então eu precisava sempre explicar que a Veja equivalia ao Clarín deles… De resto, a cidade é muito fácil, é uma soma de Brasília, São Paulo e Rio em um lugar só. Todas as fontes, de economia à política ou cultura, dividem os mesmos bairros.

Link SP – Como os argentinos vêem o Brasil e os brasileiros?

Raul Juste Lores – Há sentimentos contraditórios. Para o argentino médio, o Brasil é sol, praia, férias, terra de música, onde todos vivem despreocupados e felizes. Todos lembram de inúmeros romances de verão por aqui. Essa imagem idílica é acompanhada com tudo que é rústico e que eles vêem nas mesmas praias: os camelôs, a pobreza, os pedintes, as favelas, o analfabetismo. A maioria não conhece as facetas mais desenvolvidas do Brasil. Por outro lado, na elite, há um certo ressentimento, algo como ‘o Brasil nos deixou para trás, não é justo’ ou algo como ‘deveríamos logo entrar para a Alca, o Mercosul é uma perda de tempo’. Essa visão também é forte no jornalismo argentino. De qualquer maneira, hoje a visão do Brasil é muito mais positiva do que há dez, quinze anos.

Link SP – Você tomava alguma atitude para desmistificar as conclusões distorcidas sobre o Brasil?

Raul Juste Lores – Sempre. Nos papos com amigos, com as fontes, com outros jornalistas, você acaba falando de Brasil sem parar, porque eles perguntam muito (o país vive em debate permanente), e para derrotar estereótipos. Também dava palestras por lá, em faculdades de jornalismo. O interesse deles é enorme.

‘O argentino é muito desconfiado, sempre se pergunta quem ganha com tal notícia’

Link SP – Como a mídia argentina cobria o Brasil na sua época? Algo mudou?

Raul Juste Lores – A mídia argentina tem ainda menos dinheiro que a brasileira, você pode imaginar o que é isso. Nenhuma emissora de rádio ou tevê tem correspondente fixo no Brasil. Só os dois maiores jornais, Clarín e La Nación, têm jornalistas aqui. A cobertura é muito pequena, pobre. Muitos jornalistas argentinos ainda carregam a pose da Argentina rica e poderosa que deixou de existir nos anos 50. E olham o Brasil com certo desdém. Ou resignação. ‘Como fomos nos associar com um país atrasado como o Brasil?’, muitos parecem dizer.

Apesar disso, a cobertura é maior agora porque a importância do Brasil cresceu muito lá. Apesar dos inúmeros tropeços do Mercosul e da política externa do Lula, as empresas brasileiras foram recordistas de investimentos nos últimos três anos. A Ambev comprou a Quilmes, a maior cerveja do país, patrocinadora da seleção argentina! A Camargo Correa comprou a Fortabat, a maior fábrica de cimento do país, a Votorantim deles. A Petrobrás comprou a Pérez Companc, a maior empresa petrolífera privada. Os dois argentinos mais ricos do país, Gregório Pérez Companc e Amalita Fortabat, venderam suas empresas para os brasileiros, você pode imaginar o que isso representa. Ou seja, o sucesso da Argentina provocaria ótimo impacto nos negócios do Brasil. Por incrível que pareça, isso não provocou um maior interesse na mídia brasileira.

Link SP – Como é a configuração midiática na Argentina? Temos os principais jornais, como Clarín, La Nación, Página 12, revista Noticias de la Semana… A Argentina tem também a sua Rede Globo, no âmbito eletrônico? Como se dá a correlação de forças? Há algum grupo dominante, na conquista da opinião pública, ou lá as coisas são mais equilibradas?

Raul Juste Lores – O Grupo Clarín é a maior força, tem o maior jornal, que tem quase o dobro da circulação do segundo, o La Nación. Eles são donos da maior rede de rádio, de TV a cabo, produtora de cinema e por aí vai. Tem uma concentração enorme de poder. O Página 12 tem uma circulação irrisória, não conta mais, virou quase um boletim oficial do Kirchner. Suas maiores estrelas saíram do jornal e trabalham para o governo. As revistas semanais têm tiragem muito pequena também. Só na TV a relação de forças é mais equilibrada porque o Canal 13, do Clarín, fica no segundo lugar, sempre um passo atrás da líder Telefé. Ainda assim, a TV aberta não tem o peso que tem no Brasil. Um campeão de audiência lá chega a 30 pontos do Ibope. Os canais abertos só oferecem programação do meio-dia à meia-noite. A penetração da TV a cabo é enorme. Há vários canais de notícias 24 horas. Além disso, o radiojornalismo é fortíssimo, eles ouvem rádio sem parar. Há diversas ‘CBNs’. Ou seja, o argentino tem diversas fontes de informação, ao contrário da maioria dos brasileiros, que dependem exclusivamente do ‘Jornal Nacional’.

Link SP – O argentino lê mais do que o brasileiro, tem também uma formação mais rica do que a do brasileiro. Isso se reflete na forma como os jornalistas argentinos tratam o seu público? Os jornalistas são mais cobrados?

Raul Juste Lores – O público de lá é muito mais crítico e bem informado. O argentino é muito desconfiado, sempre se pergunta quem ganha com tal notícia. O receptor é bem mais sofisticado que o brasileiro. Mas não o emissor. Os meios argentinos são bem menos profissionais que os nossos. Ainda há muito jornalista de redação que trabalha meio período para o governo, ou como assessor de imprensa de político, como no Brasil de antigamente. Até mesmo os grandes meios aceitam que seus jornalistas recebam viagens e presentinhos de grandes empresas. O jabá é absolutamente tolerado. Se compararmos estritamente a grande imprensa de lá e de cá, a nossa é bem mais sofisticada. O repórter médio lá ganha muito mal, então a reciclagem profissional é pequena. Muitos deles nunca viajaram para o exterior.

‘Os dois primeiros presidentes da Argentina unificada, Bartolomé Mitre e Domingo Sarmiento, foram jornalistas que priorizaram a educação’

Link SP – Você tem dado cursos sobre a Argentina. Somos bem informados ou não?

Raul Juste Lores – Já dei várias palestras sobre a Argentina (e também sobre outros países da América Latina, como México, Venezuela, Colômbia e Chile), mas meu primeiro curso sobre Argentina acontece no próximo semestre, na Casa do Saber. Falo de política, de cultura, de economia e comportamento. Como o país conseguiu educar seu povo e se sofisticar em níveis que ainda hoje nos matariam de inveja, mas ao mesmo tempo tomou decisões políticas e econômicas erradas e enterrou boa parte de sua prosperidade. Estudando sobre a Argentina, acabamos aprendendo muito sobre o Brasil.

O jornalista brasileiro sabe muito pouco sobre Argentina. Acompanha muito pouco o noticiário internacional. Veja o tamanho da cobertura internacional na nossa grande imprensa. Mais da metade se resume a traduções de artigos do New York Times, muito texto de agência de notícias, nenhuma contextualização. É muito pobre. A anedota ganha o lugar da análise porque é mais fácil. Sobre a América Latina, então, clichês e mais clichês. Temos a mesma visão dos nossos vizinhos que Hollywood tem sobre a América Latina. Nos sentimos muito superiores. E olha que, de 1990 para cá, o Brasil passou por um presidente que caiu por corrupção, denúncias de compra de votos na reeleição, presidentes da Câmara dos deputados que se vendem por mensalinho, coronelismo que paralisa o Congresso. Nossa desigualdade social ainda é africana, assim como nossa violência urbana. Infelizmente, ainda que com instituições mais sólidas, temos um sistema político de chorar, que nos faz muito parecidos aos ‘hermanos’. Talvez, se olhássemos para os vizinhos com menos complexo de superioridade, teríamos muito a aprender. Bogotá tem assistido a gestões municipais de matar de inveja qualquer cidade brasileira. Reduziu a violência, educou o trânsito, revolucionou o transporte público, etc., mas não se lê sobre isso nos jornais brasileiros.

Link SP – Por mais que os políticos e as suas políticas desastrosas comprometam o país, a Argentina tem-se mantido impávida no aspecto educacional? Os índices de leitura permanecem ou já se vislumbra uma queda de interesse?

Raul Juste Lores – Educação é coisa séria, foi a base da Argentina moderna. Os dois primeiros presidentes da Argentina unificada, Bartolomé Mitre e Domingo Sarmiento, foram jornalistas que priorizaram a educação. Sarmiento chegou a viajar por três anos pela Europa e pelos Estados Unidos estudando os melhores sistemas educativos do mundo em meados do século XIX. Qualquer corte de orçamento na educação provoca protestos de multidões. Em 2001, auge da crise, os argentinos não trocaram de carro, cancelaram as férias, não puderam comprar roupa nova. Mas não alteraram seus hábitos culturais. Talvez é o ‘savoir-vivre’ deles. Quarta-feira, dia de meia-entrada, havia filas em todas as sessões de cinema. Até uma da manhã tinha sessão! Com a desvalorização do peso, ficou caríssimo levar artistas estrangeiros para lá. E os argentinos dominaram a cena. Eles deixaram de comprar livros novos, mas os sebos da Corrientes vivem cheios. Mesmo sem Lei Rouanet, o cinema de lá é muito superior ao brasileiro. Barato, escora-se em bons roteiros, boa direção de atores, em direção enxuta. Não dá para fazer filmes de época caríssimos. Então, eles se especializaram em falar sobre o presente. Com crise e tudo, a cultura é levada a sério por lá. Nem sempre a falta ou excesso de dinheiro tem a ver com o consumo de cultura. Diversas cidades ricas do interior de São Paulo, a nossa Califórnia brasileira, vivem sem cinema, sem livrarias, sem teatros.

Link SP – Como está a cobertura brasileira do Mercosul?

Raul Juste Lores – Muito mal. Não só pela falta de correspondentes, mas pela falta de espaço. Tem muito mais a ver com os editores. Falta espaço para qualquer assunto sério na imprensa. A quantidade de gente sem ter nada a dizer que ganha capas de jornais e revistas no Brasil é mastodôntica. Decisão editorial. Vivemos em uma grande ilha de Caras. Então o Mercosul se resume aos lobbies do frango, da geladeira, do vinho e do celular, dos dois lados da fronteira.

A cobertura política, na maioria das vezes, é descritiva, repete o que o ministro disse, o que o deputado falou, nunca o que eles realmente fazem ou pensam. É ilustrativo que nunca ninguém tivesse ouvido falar de Marcos Valério até maio passado… Há diversas explicações, mas uma é muito forte: as redações encolhem sem parar. Um mesmo jornalista que escreve três, quatro materinhas por dia, é claro que não vai se aprofundar em nada. Editores e diretores viram mais homens de negócios que jornalistas. Quando amadurecem e são menos ingênuos, jornalistas mais experientes migram atrás de melhores salários. Abrem seus negócios, viram assessores de imprensa. O grosso de nossas redações é formado por semi-adolescentes. Na cobertura internacional, viaja-se cada vez menos. Confia-se demais na Internet, na CNN. Os jovens jornalistas têm parco domínio de Português, de história, recursos mínimos para você entrevistar alguém. Não me estranha que muitas personalidades do mundo acadêmico ou empresarial não retornem ligações ou falem cada vez menos com repórteres. Somos um país pobre, que cresce pouco, onde a maioria da população não tem condições de ler. Isso é claro que se reflete na imprensa.’



INTERNET
Saul Hansell

‘Google também quer dominar publicidade ‘, copyright Folha de S. Paulo / The New York Times, 6/11/05

‘Sob muitos aspectos, Larry Page e Sergey Brin parecem uma dupla improvável para liderar uma revolução na publicidade. Como estudantes de Stanford que esboçaram a idéia que se tornaria o Google, os dois engenheiros de software escreveram num trabalho acadêmico que ‘máquinas de busca patrocinadas por publicidade serão inerentemente inclinadas para o anunciante, afastando-se das necessidades dos consumidores’.

Eles atenuaram um pouco a frase quando chegaram ao ponto de oferecer seu negócio a capitalistas de risco, admitindo que a venda de anúncios seria uma rede de segurança útil caso suas outras idéias de bom gosto para gerar renda não dessem certo.

O Google cresceu em popularidade nos primeiros anos, mas só teve rendimento significativo quando seus fundadores relutantemente caíram na rede de segurança e começaram a vender anúncios. Mesmo assim, eles abordaram a publicidade com uma mentalidade de engenheiros: os anúncios seriam mais parecidos com biscoitos da sorte do que com qualquer coisa que a avenida Madison [centro da publicidade americana, em Nova York] pudesse imaginar.

Como se viu, a rede de segurança era um trampolim. Aqueles pequenos anúncios -textos de 12 palavras ligados a assuntos em que os usuários estavam interessados- transformaram o Google em um dos maiores veículos de publicidade que o mundo já viu.

Neste ano a companhia vai vender US$ 6,1 bilhões em anúncios, quase o dobro que no ano passado, segundo Anthony Noto, analista da Goldman Sachs. É mais publicidade do que a vendida por qualquer grupo de jornais, editora de revistas ou rede de televisão.

No próximo ano, calcula Noto, o Google terá renda de publicidade de US$ 9,5 bilhões. Isso o colocaria em quarto lugar entre as companhias americanas de mídia em vendas totais de anúncios, depois da Viacom, da News Corporation e da Walt Disney Company, mas à frente da NBC Universal e da Time Warner.

Sem fio

Não satisfeito em extrair dólares das buscas na web, o Google está usando seus retornos para financiar uma gama eclética de projetos que têm o potencial de perturbar outras indústrias.

Entre outros, está se oferecendo para construir uma rede de internet sem fio gratuita em San Francisco, tem planos para escanear quase todos os livros já publicados e está testando um sistema de anúncios classificados gratuito que chama de Google Base.

Mais silenciosamente, a empresa também está se preparando para perturbar o próprio ramo de publicidade, ao substituir as técnicas de vendas criativas por um frio cálculo matemático. Sua premissa até agora é que a publicidade é mais eficaz quando só é vista pelas pessoas que estão interessadas no produto à venda, com base no que elas estão buscando ou lendo na web. Como os anunciantes no Google só pagam quando os usuários clicam sobre os anúncios, eles podem medir precisamente sua eficácia e aceitam pagar mais por anúncios que realmente vendem seus produtos.

Inteligência artificial

O Google já criou o que ele considera um dos mais sofisticados sistemas de inteligência artificial já construídos. Em uma fração de segundo, ele pode avaliar milhões de variáveis sobre seus usuários e anunciantes, compará-las com sua potencial base de dados de bilhões de anúncios e apresentar a mensagem à qual o usuário tem maior probabilidade de reagir.

O Google já vende seus anúncios em texto para muitos outros sites na internet (incluindo o nytimes.com) e também está experimentando vender publicidade interativa baseada em imagens, a preferida pelos marqueteiros que querem promover marcas, e não vender produtos imediatamente.

Agora ele se prepara para estender sua tecnologia a quase todos os outros meios, mais significativamente a televisão. A empresa prevê um mundo de caixas de TV digital a cabo via internet, que permitirão mostrar comerciais sob medida para cada espectador.

Eric E. Schmidt, o principal executivo do Google, explica o surpreendente sucesso da empresa em publicidade e o reconcilia com a desconfiança que seus fundadores tinham da publicidade agressiva dizendo que a publicidade deve ser interessante, relevante e útil para os usuários.

‘Melhorar a qualidade dos anúncios melhora a receita do Google’, disse. ‘Se nós dirigirmos o anúncio certo para a pessoa certa no momento certo e ela clicar nele, ganhamos.’

Essa proposta, ele continuou, é aplicável a outras mídias. ‘Se conseguirmos encontrar uma maneira de melhorar a qualidade da publicidade na televisão com anúncios que tenham um valor real para os usuários, devemos fazê-lo’, disse Schmidt.

As indústrias de mídia e publicidade certamente vêem um futuro em que os anúncios de televisão serão dirigidos para espectadores individuais. Mas poucas pessoas além dos Ph.D. em engenharia do Google pensam que os anúncios de televisão devem ser simplesmente utilitários, em vez de divertidos, provocativos ou terrivelmente repetitivos -os modelos que funcionaram até agora.

De volta ao passado

O Google lançou seu atual sistema para determinar que anúncio mostrar em que página no final do ano passado. É uma maravilha tecnológica que se equipara em complexidade à sua máquina de buscas. Para cada página que o Google mostra, mais de cem computadores avaliam mais de 1 milhão de variáveis para escolher os anúncios em seu banco de dados e exibi-los em milissegundos.

O Google também coloca anúncios de texto em todo tipo de site publicado por companhias profissionais de mídia e por amadores. Brin criou seu programa no início de 2003, depois de ficar preocupado que a saturação da internet impedisse as pessoas de criar páginas interessantes para indexar no Google.

Essa tecnologia, chamada de AdSense for Content, tornou a publicidade no Google mais atraente e forneceu a base econômica para o surgimento de blogs.

Enquanto isso, os anunciantes tiveram de se esforçar para se adaptar a essa abordagem completamente diferente da compra de anúncios. Eles tiveram de encontrar maneiras de acompanhar as ofertas sobre milhares de palavras-chaves e medir quais anúncios, ligados a quais palavras-chaves, produziam quais vendas -e então descobrir se tinham oferecido a quantia certa pelo anúncio.

Amor e ódio

Muitos anunciantes e suas agências têm uma poderosa relação de amor e ódio com o Google. Eles o consideram uma fonte de vendas, mas às vezes, dizem, é difícil tratar com o Google.

Existe crescente sensação de que um número importante de cliques que os anunciantes pagam são fraudulentos, feitos por concorrentes que tentam esgotar os orçamentos de publicidade ou por sites que tentam aumentar a renda que recebem por exibir os anúncios. O Google diz que tem tecnologia para minimizar o que é chamado de fraude de cliques, mas muitas pessoas duvidam que a incidência de fraudes seja tão baixa quanto o Google afirma.

Na outra ponta do espectro, o Google também está tentando se concentrar no que o mercado da internet chama de publicidade ‘branding’ -o tipo que domina a televisão e as revistas e cria consciência de um produto, mas não apela aos espectadores para que comprem imediatamente.

O Google conseguiu convencer algumas companhias de que seus anúncios de texto podem ajudar a aumentar a consciência sobre seus produtos, mesmo que as pessoas não cliquem neles para comprar alguma coisa. Mas os altos executivos também estão se reunindo semanalmente para desenvolver uma estratégia mais ampla para publicidade de ‘branding’.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves’



Pedro Doria

‘Como tirar a internet dos EUA?’, copyright O Estado de S. Paulo, 7/11/05

‘Navegar Impreciso

Durante três décadas, o presidente da internet foi um engenheiro grisalho, de barba farta, cabelos longos e emaranhados, óculos de lentes grossas, professor da Universidade do Sul da Califórnia. Como os poucos que conheciam a rede em suas entranhas o respeitavam e o resto não tinha nível técnico para enfrentá-lo, ninguém nunca desafiou Jon Postel.

Foi ele quem decidiu que órgão em cada país distribuiria os endereços com a terminação local em duas letras. Toda mudança nos programas que geriam a rede teve seu aval e os 13 computadores que regulam o tráfego da internet obedeciam suas ordens. Mas um dia o coração falhou, Jon Postel morreu aos 55 anos, em 1998.

Em seu lugar, nos últimos dias de vida, deixou um conselho, uma empresa sem fins lucrativos chamada ICANN, que responde ao Departamento de Comércio dos Estados Unidos e só pode ser processada nas cortes da Califórnia.

Não é uma idéia natural que a internet tenha governo. Ela parece que funciona por si, que existe apenas. Isto é até incentivado pelo espírito de seus inventores, gente como Postel que viveu o Verão do Amor hippie da Califórnia em 1967 para botar a rede no ar em 69.

Mas a anarquia descentralizada é dirigida. Postel por certo recusaria o título de presidente da rede, mas era ele quem decidia. Assim como é o ICANN que decide hoje. Como a Casa Branca tem poder de veto ou de impor decisões ao ICANN, o controle da rede é dos EUA.

Agora em novembro, entre os dias 16 e 18, diplomatas e técnicos de aproximadamente 190 países vão se encontrar em Túnis, capital da Tunísia, para a reunião da Cúpula da Sociedade da Informação.

É um encontro da Organização das Nações Unidas (ONU), e encontros da ONU terminam com um documento que todos assinam por consenso. Em geral, as reuniões vão até alta madrugada e lá pelas tantas só há dois ou três países discutindo e alguém cansa e abre mão. É por isso, também, que é raro um documento destes ter qualquer coisa de revolucionária: é o mínimo denominador comum.

Desta vez, a pauta mais importante é o controle da internet. O Brasil já quer sua internacionalização há tempo. A diferença, agora, é que, puxada pela Inglaterra, a União Européia também quer. Parece razoável, afinal. Que tipo de internacionalização seria essa é outra discussão. Pode ser um órgão como o Comitê Olímpico Internacional, em que os países e ONGs são sócios. Pode ser algo ligado à ONU. Os EUA já disseram que nem cogitam discutir. Se resume a uma frase que uma pessoa da delegação brasileira ouviu de um diplomata norte-americano da última vez: ‘se vocês querem a internet, façam a sua; esta é nossa.’

Junto ao Brasil, alguns outros países estão entre os proponentes iniciais desta internacionalização: Irã, China e Arábia Saudita. Não é companhia agradável, e aí reside o argumento dos EUA. Embora seu governo tenha poder de veto ou decisão sobre o ICANN, nunca foi exercido. E dê algum poder a países como Irã e China, censores notórios da rede, e eles arranjarão um modo de inserir em algum protocolo uma maneira prática de descobrir, por exemplo, quem enviou um e-mail.

O contra-argumento não é complicado: se cada decisão tiver de sair por consenso, nunca acontecerá. E, bem, o ICANN já criou problemas. Neste ano, incluiu uma série de domínios de alto nível novos. Além dos ponto com e ponto org e edu e net, apresentou .travel (viagens), .eu (União Européia), .xxx (pornografia) e alguns outros. O .xxx está embargado pelo governo norte-americano para mais discussão. Alguns dos outros estão lentamente sendo liberados. Para alguns países, registrar cada ponto turístico com o sufixo .travel antes que um aventureiro lance mão pode sair uma pequena fortuna.

Jon Postel foi um dos inventores da internet e, mesmo que estivesse vivo, não teria mais como gerenciar as grandes decisões da rede sozinho. A criatura ficou grande e vasta. Enquanto os EUA não largarem mão, não há o que fazer. Criar uma internet paralela é tecnicamente possível mas fazer uma rede conversar com a outra seria um pesadelo. Melhor não. A esperança dos diplomatas brasileiros é simples: imagem é particularmente importante para a Casa Branca. Seu país está sendo visto como arrogante pelo mundo todo. De repente, abrem mão. Fatalmente abrirão um dia.

A diferença é que pela primeira vez o mundo todo se encontrará para discutir o assunto e todo mundo concorda. Menos um.’



Renato Cruz

‘Nem sempre é fácil vender domínios ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 6/11/05

‘Muita gente fez dinheiro vendendo endereços de internet. Em 1999, o domínio business.com foi vendido por US$ 7,5 milhões. No ano seguinte, pagaram US$ 5 milhões por korea.com. Também em 1999, autos.com foi arrematado por US$ 2,2 milhões. Mas Jan Struiving, dono da Empresa Brasileira de Domínios na Internet (EBDI), de São José dos Pinhais (PR), descobriu que este não é um mercado fácil. ‘Tivemos um monte de reveses’, afirmou Struiving, que começou a enfrentar uma crise financeira há 4 anos, e acabou tendo de oferecer em garantia ao credor os 4 mil domínios que tem registrados. ‘Posso liberá-los, conforme fecho negócios.’

Ele decidiu declarar guerra ao Comitê Gestor da Internet no Brasil, responsável pelo registro dos endereços com o sufixo ‘.br’. Num de seus sites, chamado Interjuris, faz acusações graves contra o comitê e seus diretores, contra a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e contra membros do governo. A Fapesp é responsável por arrecadar a taxa de registro de domínios. Num de seus textos, Struiving procura ligar o dinheiro arrecadado com o registro dos endereços na internet – R$ 30 anuais para cada um dos 841 mil domínios no País – à crise do mensalão: ‘Não tenho mais nada a perder’.

Struiving recebeu uma notificação extrajudicial do Comitê Gestor, para que confirme ser o autor das acusações. Caso venha a confirmar, deve sofrer uma ação na Justiça. Ele afirma ser perseguido. ‘Existe uma máfia grande por trás. Eles geram um atraso no livre comércio da internet. O domínio é um produto como qualquer outro, que pode ser vendido ou comprado.’

O conselheiro Demi Getschko, do Comitê Gestor, um dos principais alvos de Struiving, nega perseguição. ‘Prova disso é que o site com as acusações continua no ar.’ Ele explicou que o comitê vem aperfeiçoando as regras para desestimular o comércio de endereços de internet: ‘O negócio deve ser o site, e não o domínio’.

A mudança de regras prejudicou Struiving. ‘Ele tinha um esquema para manter 4 mil domínios sem pagar, mas fechamos todos os buracos’, afirmou Getschko. Antes, quem registrava o domínio tinha 30 dias para pagar. Depois disso, o endereço ficava 90 dias congelado, para então ser oferecido de novo. ‘O interessado não pagava e, depois de 120 dias, ia lá e registrava de novo.’ Agora, o comitê faz leilões de endereços, verificando se não existem outros interessados, o que dificulta a vida de quem deixava de pagar. ‘Se for um endereço bom, vai ter mais de um candidato’, disse o conselheiro. ‘E não pode participar do leilão quem tem taxas atrasadas.’ O comitê tem cerca de R$ 130 milhões em caixa e deve decidir até o fim do ano em que projetos aplicará recursos.

‘Pago de R$ 1 mil a R$ 2 mil por mês em taxas de registro’, disse Struiving. Os endereços que ele possui são genéricos, como agroindustria.com.br, ou nomes de cidades, como itapevi.com.br. A Sadia comprou dele o frango.com.br. O empresário preferiu não citar valores, mas disse que já vendeu domínios por mais de R$ 30 mil.’



O Estado de S. Paulo

‘A internet ameaçada’, Editorial, copyright O Estado de S. Paulo, 7/11/05

‘Quem controla a internet? Não são muitos os internautas que podem responder a essa pergunta. Na verdade, são muito poucos os internautas aos quais essa questão ocorreu umdia.Enão surpreende que, para a grande maioria, a internet seja vista como uma associação de usuários de computadores, livres de obrigações além daquelas determinadas pelas leis do país, que podem entrar ou sair da rede à vontade, bastando para isso pagar as tarifas mínimas de suporte telefônico.

Mas a internet tem uma estrutura de controle. Ela nasceucomoumarede de comunicações militares, durante a guerra fria, para funcionar no caso deumataque nuclear contra os Estados Unidos interromper as comunicações convencionais. Mas logo se percebeu o potencial desse sistema para a democratização das comunicações pessoais e, assim, a internet foi aberta para uso público. Em 1998, o governo dos EUA deixou de exercer o controle direto dosistema, que permite que duas pessoas se comuniquem por computadores, mesmo estando em lugares diametralmente opostos do globo, bastando ter acesso a uma linha telefônicacomum.Naquele ano, a internet passou a ser gerida pela Icann (Corporação da Internet para a Designação de Nomes e Números), uma entidade privada, sem fins lucrativos, que funciona no Estado da Califórnia.

Por razões administrativas, a Icann está vinculada ao Departamento de Comércio dos Estados Unidos. Esse é um dos motivos pelos quais se atribui aos EUA a hegemonia sobre a internet. Na verdade, o governo americano sempre respeitou os termos do memorando de entendimento pelo qual cedeu a internet ao uso público, não se conhecendo um só caso de interferência sua nas decisões da Icann. Por outro lado, é forte aparticipação da comunidade internacional nas decisões da Icann, por intermédio do ‘board’ de diretores internacionais – umcorpo de 15 diretores, dos quais 2 são brasileiros – ou do comitê assessor governamental.

Há dias, numa reunião preparatória para a Cúpula Mundial da Sociedade da Informação, em Genebra, representantes de vários países lançaram uma ofensiva contra o que chamam de ‘hegemonia norte-americana sobre a internet’. Os países mais ativos desse grupo são o Brasil, a Arábia Saudita, o Irã e a China. Pretendem atribuir as decisões políticas da internet a um organismo intergovernamental – e dizem que, assim, reforçarão o multilateralismo, a transparência e a democracia.

Desse grupo, no entanto, só o Brasil permite que seus cidadãos utilizem, sem restrições, a internet. Os demais proíbem o acesso ou impõem severas restrições ao uso da rede, submetendo seus súditos a pesadas penas,emcaso de infração. Estão interessados em tudo – principalmente em exercer o controle político da internet, ou seja, poder censurar seus conteúdos -, menos em multilateralismo, transparência e democracia.

OIcann tem funcionadobemporque nunca se preocupouemfazer política. Seu objetivo foi tornar a internet um instrumento eficiente deumnovo conceito de comunicação global e de oportunidade para negócios.

Em 2006, termina o contrato da Icann com o Departamento de Comércio. Washington já deixou claro que respeitará a soberania dos países sobre os seus endereços na internet e de maneira alguma interromperá os serviços. E propõe a instalação de um foro de discussão entre governos, para que as questões da internet sejam resolvidas num ‘processo evolutivo’.

Mas Washington está isolado. Na reunião de Genebra, a União Européia propôs a criação deumanova organização internacional para fazer o que a Icann faz. Pretendia criar condições para uma solução de compromisso – ‘uma ponte’ – entre os EUA e os demais países. Mas o que, de fato, fez foi enfraquecer a posição americana, com uma jogada pouco refletida.

O grupo que quer destituir osEUAdo ‘controle’ da internet é constituído por países sem vocação democrática – exceto o Brasil – e com forte vezo estatizante – e aí o governo brasileiro não é exceção. Daí quererem que a internet passe a ser administrada pela União Internacional de Telecomunicações, organismo da ONU que representa os interesses dos monopólios estatais – cuja existência é ameaçada pela própria internet.Asobrevivência deumsistemainovador e relativamente livre da interferência estatal está sendo seriamente ameaçada.’



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‘Internet para PC Popular já tem decreto ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 5/11/05

‘O ministro das Comunicações, Hélio Costa, disse ontem que já está pronto na Casa Civil o texto do decreto que regulamentará como as empresas de telefonia oferecerão acesso à internet aos computadores adquiridos dentro do projeto PC para Todos, o chamado Computador Popular. O acesso à internet precisará ser oferecido a preços mais baixos do que os de mercado. A proposta é que os compradores do Computador Popular possam acessar a rede durante 15 horas por mês, pagando R$ 7,50 (sem impostos).

O presidente da Telefônica, Fernando Xavier, afirmou ontem que as empresas esperam por essa regulamentação para poder dar o tratamento diferenciado às pessoas com menor poder aquisitivo. ‘O entendimento que tivemos é que era preciso uma base legal, por se tratar de uma certa elegibilidade, um tratamento diferenciado’, disse o empresário.’



Folha de S. Paulo / The New York Times

‘Amazon terá venda de páginas de livros ‘, copyright Folha de S. Paulo / The New York Times, 5/11/05

‘Na corrida pela posição de iTunes do mundo editorial, a Amazon e o Google estão ambos desenvolvendo sistemas que permitirão aos usuários ter acesso on-line a qualquer página, trecho ou capítulo de um livro. Os programas combinarão os sistemas já disponíveis de buscas on-line em livros que as duas empresas operam e um componente comercial que pode revolucionar a maneira pela qual as pessoas lêem livros.

A idéia é fazer pelos livros o que a Apple fez pela música, permitindo que os leitores adquiram e baixem partes de livros para uso pessoal em seus computadores, em lugar de terem de ir a uma livraria ou de receber pedidos pelo correio. Os consumidores poderiam, por exemplo, adquirir uma única receita em um livro de culinária, ou apenas o capítulo de um manual técnico que ensina como reconstruir o motor de um carro.

As iniciativas já deflagraram um cabo-de-guerra entre as editoras e os potenciais vendedores eletrônicos de conteúdo para determinar quem se alinhará com quem e como dividir os proventos.

A Random House, maior editora dos Estados Unidos, propôs um sistema de micropagamentos sob o qual os leitores pagariam cerca de US$ 0,05 por página. A editora ficaria com 80% do valor e se encarregaria de pagar ao autor.

As propostas também podem se tornar ferramentas para a negociação de acordos que encerrem os processos judiciais movidos contra o Google por associações setoriais representando editoras e autores. Os grupos acusaram o Google de violação de direitos autorais por realizar cópias digitais de livros que fazem parte do acervo de bibliotecas com o objetivo de incluí-las em seu sistema de busca de livros na internet.

Mas, se essas cópias de títulos mais antigos, disponíveis apenas em bibliotecas e há muito ausentes das livrarias, começarem a gerar receita para as editoras e escritores, é possível que as associações setoriais deixem de lado algumas de suas objeções.

Paul Aiken, diretor-executivo da Authors Guild, associação de escritores que moveu processo contra o Google por violação de direitos autorais em função do programa Google Print, classificou o anúncio da Amazon como ‘um desdobramento positivo’.

‘É dessa forma que as coisas deveriam funcionar: dar aos consumidores acesso aos livros e garantir que as receitas cheguem às editoras e autores’, declarou Aiken. ‘Conceitualmente, algo semelhante poderia ser possível quanto ao programa do Google.’

A Amazon anunciou ontem que estava desenvolvendo dois programas que seriam implementados em algum momento do ano que vem. O primeiro, o Amazon Pages, permite que os usuários realizem buscas em todo o universo de títulos que ela oferece e depois comprem e leiam on-line apenas as páginas que desejarem em cada dado título. O segundo programa, Amazon Upgrade, permitirá que os consumidores acrescentem acesso on-line ao conteúdo de um livro que já tenham adquirido em forma física no site da empresa.

Jeffrey Bezos, presidente-executivo da Amazon, declarou que acredita que, para a vasta maioria dos livros à venda, os consumidores seriam autorizados a baixar, copiar e imprimir as porções que lhes interessasse adquirir. Mas a decisão, acrescentou, caberia à editora ou ao autor.

O Google está trabalhando no desenvolvimento de sistema semelhante, disseram os executivos de três editoras que foram informadas pelo serviço de buscas quanto aos seus projetos. Usando o site Google Print, os leitores poderiam realizar buscas na biblioteca de livros digitalizada pelo Google e adquirir um livro inteiro ou apenas as partes relevantes para seus propósitos.

Nate Tyler, porta-voz do Google, preferiu não comentar sobre os planos da empresa, alegando apenas que a companhia estava ‘explorando outros modelos econômicos’, mas por enquanto nada tinha a anunciar.

Tyler disse que o Google recebia favoravelmente o programa da Amazon. ‘A Amazon é um parceiro valioso’, disse, ‘e nós oferecemos links para que as pessoas possam adquirir na Amazon livros localizados por meio do Google Print. Estamos felizes por os nossos usuários disporem de maneiras adicionais de ganhar acesso a livros que encontrarem usando o Google Print.’

Atualmente, o Google Print oferece acesso on-line livre e gratuito ao conteúdo integral de livros que estejam em domínio público, mas permite o acesso a apenas trechos de obras ainda protegidas por direitos autorais. Sob os planos que o Google tem em desenvolvimento, dizem as editoras, os livros mais antigos mas ainda protegidos por direitos autorais poderiam ser adquiridos integral ou parcialmente por meio do serviço da empresa.

‘Conversamos tanto com o Google quanto com a Amazon ao longo dos últimos meses’ sobre os seus sistemas de buscas, disse Richard Sarnoff, presidente do grupo de desenvolvimento corporativo da Random House.

Ao criar um modelo financeiro que permitiria que os programas do Google e da Amazon funcionem na prática, Sarnoff declarou que a Random House estava ‘fincando uma bandeira, tentando estabelecer regras básicas que nos permitam trabalhar confortavelmente com esse novo tipo de comércio que gira em torno do conteúdo de um livro’.

O modelo desenvolvido pela Random House estipula que os consumidores poderão ter acesso a um livro por, digamos, US$ 0,05 a página, no caso de livros comuns, e somas mais elevadas, como US$ 0,25 por página, para livros de culinária e outras publicações especializadas.

Mas o sistema proposto pela editora permitiria apenas acesso on-line ao conteúdo, e não cópia ou impressão das páginas adquiridas. Mas, ‘se os consumidores absolutamente exigirem determinada forma de acesso’, disse Sarnoff, ‘seria importante que a fornecêssemos’.

David Steinberger, presidente-executivo do Perseus Book Club, disse que recebia favoravelmente as novas iniciativas e acreditava que seria melhor para os consumidores que diversas empresas desenvolvessem esse serviço.

‘Esse é um desdobramento muito mais significativo do que aqueles que vimos durante o boom da internet’, quando dezenas da empresas entraram na corrida pelo desenvolvimento de livros eletrônicos.

Os planos foram em larga medida abandonados porque a opinião dos consumidores sobre os leitores eletrônicos era desfavorável e o boom da internet sofreu colapso. ‘Dessa vez’, declarou Steinberger, ‘parece que as coisas podem realmente acontecer.’

Tradução de Paulo Migliacci’



Folha de S. Paulo

‘Microsoft publica 100 mil livros de acervo britânico ‘, copyright Folha de S. Paulo, 5/11/05

‘A Microsoft declarou ontem que assinou um contrato para escanear 100 mil livros da Biblioteca Britânica e publicar o material na internet. Pelo contrato, internautas poderão pesquisar em cerca de 25 mil páginas do material no próximo ano sem visitar a biblioteca ou pagar qualquer taxa.

O investimento inicial da Microsoft é de US$ 2,5 milhões, mas deve aumentar, já que o grupo e a biblioteca dizem que há planos de digitalizar mais publicações nos próximos anos.

Rival da Microsoft, o Google também tem plano para disponibilizar sua própria coleção digital, com material de quatro grandes bibliotecas, mas não será prejudicada pelo acordo.

A Biblioteca Britânica diz que o material parte do acordo com a Microsoft não é exclusivo e que também estará disponível no site da própria instituição, que pode ser pesquisado pelo Google.

‘Essa é uma grande notícia para pesquisa e para trabalhos escolares. A ferramenta nos dará um enorme acesso das nossas coleções para pessoas em todo o mundo. Eles estarão acessíveis para todos, a todo momento, em qualquer lugar’, disse o diretor-executivo da Biblioteca Britânica, Lynne Brindley. Com agências internacionais’