Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Mais um traço da desigualdade

A investigação para o informativo ‘Porque sou uma Menina’ (Because I am a Girl) de 2010, da ONG Plan, estudou a relação das meninas com a internet no mundo, tomando como pano de fundo ‘ambientes em transformação’, como cidades de países em desenvolvimento que recebem grande quantidade de migrantes das zonas rurais. O estudo elegeu os principais fatores que fazem com que as meninas subaproveitem a tecnologia, e a maior parte das razões surge da desigualdade com que os dois gêneros são tratados no mundo. Desde questões financeiras até a liberdade dispensada pelas famílias exclui as futuras mulheres de um instrumento essencial para a comunicação e trabalho hoje, que é o caso da internet.

Faz parte do estudo a pesquisa realizada no Brasil com 44 meninas e mais de 400 entrevistadas online entre 10 e 14 anos. Na pesquisa de grupo focal com mães e filhas, ficou evidente que é dada menos liberdade às meninas devido aos temores de seus pais pela sua segurança.

As meninas comentaram: ‘queremos aprender um curso profissionalizante… nossas mães não nos deixam ir a um curso fora da comunidade… elas têm medo da perseguição sexual.’ O relatório afirma que o desejo de proteger as meninas retarda-as de frequentar a escola, ir a um cyber café, à Universidade, prejudicando o desenvolvimento do potencial delas. Ele foi realizado pelo Instituto Internacional para os Direitos e Desenvolvimento da Criança e Adolescente (International Institute for Child Rights and Development), por meio da Parceria para a Proteção da Criança e Adolescente (Child Protection Partnership).

Tecnologias da informação

Uma das principais questões que o relatório trata, além do acesso de meninas à tecnologia, é a sua segurança, tanto na cidade, quanto no mundo digital. Entre as brasileiras, 79% disseram não se sentir seguras online e metade disse que seus pais não sabem que possuem acesso à rede. Quase metade afirma que gostaria de conhecer pessoalmente alguém que conheceu no mundo virtual, mas apenas um terço delas sabe como relatar um perigo ou algo que as faça sentirem-se mal quando estão conectadas.

A preocupação é que as tecnologias estão expondo as adolescentes a imagens de violência, exploração e degradação de mulheres em um momento frágil de suas vidas quando estão se desenvolvendo sexualmente. Mundialmente, mais meninas são afetadas pela exploração sexual do que meninos, e uma em cada cinco mulheres foi abusada sexualmente antes dos 15 anos.

A internet fomenta intimidade com pessoas estranhas que parecem ser confiáveis, e as adolescentes tornam-se alvo de abuso, incluindo o tráfico via internet, telefone móvel ou outras tecnologias da comunicação. É possível, por exemplo, que alguém tire uma foto degradante de uma menina pequena e a espalhe em segundos.

A publicação faz um chamado para a ação aos países e sociedades civil. Entre as medidas sugeridas para ensinar as meninas a se protegerem estão aumentar o acesso e o controle das meninas sobre as tecnologias da informação, sobre as ciências exatas; além de expandir e melhorar mecanismos de proteção online.

Algumas constatações

** Discriminação – As meninas ainda são consideradas como cidadãs de segunda classe em muitas sociedades.

** Quantidade – Os meninos superam em número as meninas e tendem a dominar o acesso aos computadores.

** Confiança – Devido a não terem o mesmo acesso à escola, as meninas se sentem menos confiantes que os meninos quando têm que se envolver em trabalhos de tecnologia porque não sentem que possuem as mesmas habilidades e conhecimentos que os homens jovens que competem pelos mesmos cargos.

** Idioma – Para utilizar estas tecnologias, geralmente se requer o inglês, e para as meninas com alfabetização básica em seu próprio idioma, esta é uma barreira importante.

** Tempo – As tarefas domésticas das meninas ainda em uma idade precoce significam que têm menos tempo que os meninos para explorar e experimentar as novas tecnologias.

** Dinheiro – As meninas têm menos probabilidades que seus irmãos de obterem recursos financeiros para pagar, por exemplo, por um telefone celular e seus custos operacionais, ou para ter acesso à web em um cyber café.

** Liberdade – Os meninos também possuem mais probabilidades de que lhes seja permitido usar o cyber café porque os pais se preocupam quando suas filhas saem sozinhas.

Clique para ler o resumo da pesquisa em português ou o relatório completo em inglês.