Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Mais uma oportunidade perdida

A boa notícia, como indica o título, é que o Brasil entra na maior rede de doadores de medula óssea. A ruim é que boa parte da mídia não o noticiou. E quando o fizeram, perderam a oportunidade de fazer matérias boas. E usar o sujo papel do jornal para salvar vidas.

A Folha de S.Paulo nada publicou. O Globo inseriu dois parágrafos. O Estado de S.Paulo (‘Vida’, 22/01) ao menos anunciou a integração do Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea brasileiro (Redome) ao americano (National Marrow Donor Program-NMDP). Ali se indica que a aliança amplia as possibilidades, reduz os gastos e representa o reconhecimento internacional da qualidade do sistema brasileiro.

Mesmo assinado, o texto não tem trabalho investigativo: é cópia do press release do Ministério da Saúde. Além de cópia incompleta, na parte mais importante: quando clicou em ‘Recortar’ no computador, a jornalista deixou de informar que hoje há mais de 2.000 brasileiros em busca de um doador compatível para o transplante de células-tronco hematopoéticas (medula óssea, sangue de cordão umbilical ou sangue periférico), e que o remédio salvador pode estar nas veias do leitor.

Padrões internacionais

Se fosse minimamente pesquisada, a matéria teria que explicar que todo acordo internacional é importante pelo fato de que a probabilidade de se achar um doador compatível dentro do Brasil é de um em cem mil. Quanto mais doadores no cadastro, melhor. É compreensível que a jornalista não tenha espaço para escrever tudo o que precisa, mas se afasta de suas funções se não disser uma linha sobre o que o leitor pode fazer. Ao contrário de outros transplantes, neste caso não é preciso morrer para dar vida. A inscrição para doador se faz com uma amostra de sangue: se confirmada a compatibilidade com um paciente, ainda será novamente consultado para decidir quanto à doação, o que é um procedimento seguro.

Se tivesse pegado o telefone para perguntar, por exemplo, ao dr. Nelson Hamerschlak, do Hospital Israelita Albert Einstein, se a importância do acordo é baixa, média ou alta, teria ouvido: ‘É enorme. Outra vantagem é que para fazermos este acordo temos que seguir padrões internacionais, o que garantirá ainda mais a qualidade do serviço prestado no Brasil.’

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Jornalista